Transferida para a entrada do bairro da Marina, apenas alguns metros de distância do ponto onde se encontrava anteriormente, a barreira sanitária de Búzios, que dá acesso ao município para quem chega do Rio, foi deslocada como estratégia para ajudar a fluir melhor o trânsito no local.
De acordo com a Guarda Municipal, esta nova localização da barreira possibilita o aproveitamento da antiga pista, antigo traçado da RJ 102 que foi desativado há anos, para servir a quem sai do município. Desta forma, as duas faixas da pista atual podem servir somente à passagem dos veículos que chegam a Búzios. O objetivo é agilizar a entrada, diminuindo ao máximo o tempo de espera e os engarrafamentos que vinham ocorrendo.
População dividida. Barreira Social?
Olhando apenas o trânsito, a opção pelo deslocamento da barreira continua sem apresentar solução para outros problemas gerados pela sua localização. Obrigados a atravessar a barreira sanitária da Marina todos os dias, trabalhadores que saem da Rasa e bairros adjacentes como Vila Verde, Cruzeiro, Arpoador da Rasa, Marina e Alto Boa Vista, se dizem extremamente sacrificados. A grande reclamação é o tempo que perdem na longa fila de veículos que se forma, principalmente nos horários de grande movimento em direção ao trabalho.
Pedindo para não ser identificado, um vendedor de loja do Centro de Búzios se diz diariamente prejudicado pela barreira e desabafa sua indignação, lembrando ao prefeito André Granado que após o bairro da Marina, seguindo em direção ao Rio, ainda tem muitos bairros que pertencem a Búzios.
“Como pode uma barreira sanitária que é para barrar quem é de fora da cidade, prejudicar quem é morador? Por acaso quem mora da Marina pra Rasa não é de Búzios? Por que o prefeito obriga a população a sofrer tanto todos os dias? Não consigo entender. Perco mais de quarenta minutos quase todos os dias na barreira. Quando é final de semana a coisa extrapola totalmente, já fiquei mais uma hora lá. A gente não entende isso, parece que é para afastar o pessoal da periferia, dos bairros pobres. Mas é nesses bairros que estão os que trabalhadores, os que precisam atravessar todo dia para o Centro. Parece que o prefeito quer que a gente sofra bastante. Puxa, bastava colocar a barreira na entrada da cidade de verdade!”, reclama.
Muitos são os relatos que reforçam esta ideia. A sugestão do morador também evitaria a entrada em Búzios por pistas que são de fácil acesso, seguindo um aplicativo qualquer de localização e mapa, que indica caminho alternativo passando da Vila Verde para a Baía Formosa, já dentro do município.
Praia da Marina lotada
Mais um problema gerado pela localização da barreira sanitária da Marina, é a própria praia do bairro. Moradores denunciam a lotação da faixa de areia todo final de semana. Famílias inteiras montam barracas e passam o dia inteiro no local, sem respeitar o uso de máscaras e o distanciamento social, gerando aglomeração e perigo de contaminação para todos os frequentadores. A praia da Marina não está na lista das praias abertas, autorizadas a receber banhistas para a prática de esporte e caminhadas, e não conta com a presença da fiscalização.
Barreira não protege a Rasa e bairros adjacentes
Da mesma forma que a praia da Marina permanece aberta a quem quiser chegar, também os bairros da Rasa, Vila Verde, Cruzeiro, Alto da Boa Vista, Marina e Arpoador da Rasa ficam expostos à contaminação, uma vez que estão fora da área de proteção da barreira sanitária. Qualquer um que venha de fora da cidade pode circular livremente por estes bairros, sem qualquer triagem da vigilância sanitária ou guarda municipal. É mais uma situação que os moradores não entendem e questionam. Por que a barreira que deveria proteger toda a cidade e seus cidadãos, está instalada no meio do município, sem proteger a todos? Como são escolhidos os bairros que devem ser protegidos e os que não necessitam de proteção? O índice de casos de contaminação por coronavírus na Rasa, é um dos mais altos da cidade.
ACEB não reconhece barreira como sanitária
Para os comerciantes de Búzios, as barreiras implantadas pela prefeitura podem ser econômicas, podem ser políticas, mas não são sanitárias. Segundo destaca o vice-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Búzios, Rodrigo Sobral, para serem sanitárias as barreiras deveriam no mínimo, aferir a temperatura de quem entra, e disponibilizar máscaras descartáveis para quem chegar sem.
– Barreiras sanitárias sem ações de fiscalização sanitária? As pessoas deveriam ao menos receber orientação na chegada à cidade e saber que o uso de máscara é obrigatório em Búzios. Mas não vemos nada disso. Não vemos ações mínimas ligadas à parte sanitária, na operação das barreiras – diz.
Balanço da barreira
Como balanço do primeiro final de semana, dias 7 e 8 de agosto, após o decreto municipal que libera a entrada de turistas via QR Code, a Guarda Municipal registrou 2.692 visitantes, com um total de 973 QR Codes apresentados e conferidos nas barreiras sanitárias da cidade. Esta mesma contagem apontou 274 veículos impedidos de entrar em Búzios por não apresentarem nenhuma reserva nos meios de hospedagem, restaurantes, bares, ou comércio local de forma geral.