Como informado na última entrevista publicada aqui no Prensa, com o prefeito André Granado e o secretário de Saúde, entrevistei nesta segunda-feira (7) o presidente da Câmara de Vereadores de Búzios, o Sr. Joao Carlos Alves de Souza, o Cacalho Cacado.
Fiz contato com a assessoria de imprensa da Câmara solicitando a entrevista, confesso que cheguei a pensar que não seria atendido, mas fui. O presidente me recebeu muito bem, na verdade, toda sua equipe me recebeu bem. Preciso informar, no entanto, que o presidente preferiu que a entrevista não fosse gravada, foi à moda antiga: na caneta e bloquinho.
Cacalho em um ou dois momentos se referiu ao Prensa como um jornal do Governo. Quem afirmar que somos um jornal governista, só pode fazer isto por não acompanhar dia a dia nossas publicações desde que começamos ou por ser leviano mesmo. No caso do presidente da Câmara acredito que ele apenas não nos leia mesmo com tanta frequência. Não me pareceu um homem leviano.
O objetivo principal da entrevista, como formalizei no e-mail que enviei à Câmara, foi ouvir do líder da oposição o que acha do ato que o Governo chama de retorno do setor de urgência para o prédio do Hospital e o que ele, e os outros vereadores de oposição, chamam de reabertura do Hospital.
O Objetivo de ter as duas entrevistas é justamente poder ter duas visões de um mesmo fato primando pelo chamado (mesmo que questionado constantemente por muitos dos acadêmicos mais importantes do jornalismo brasileiro) principio da imparcialidade.
Cacalho, do DEM, fez sua campanha nos palanques da oposição, foi eleito com 436 votos, uma quantidade que quase, segundo ele mesmo, o deixou decepcionado. No entanto, após ver como é difícil uma disputa eleitoral, afirma ter ficado satisfeito com o resultado. A presidência, conta, foi uma decisão tomada após a vitória. Um consenso entre os cinco vereadores de oposição que venceram junto com ele. Acredita que suas experiências profissionais anteriores o tenham preparado para exercer o cargo de chefe do Legislativo buziano. Foi bancário e também secretário no governo Toninho Branco. Antes da eleição exercia a função de comerciante.
Citou uma pesquisa, que não consegui achar, em que se afirma que 78% da população estava insatisfeita com a Câmara de Vereadores na gestão anterior, acompanhando a insatisfação com o Poder Executivo. De acordo com Cacalho, essa rejeição já teria sido revertida, e hoje a porcentagem de aprovação da população à atual gestão já está quase em 100%.
De toda a entrevista destaco a que julgo ser a principal afirmação feita pelo presidente da Câmara: “O Hospital não seria reaberto neste mandato se não fosse a nossa pressão”. Vamos à entrevista.
Prensa de Babel: O Hospital estava mesmo fechado? O Governo afirma o contrário.
João Carlos Alves de Souza, o Cacalho: A População sabe que estava fechado o Hospital. Tinha até uma placa lá informando isso. Causou um transtorno irreparável. Número de óbitos aumentou de 25 para 80 pessoas.[pede que ressalte que cita números aproximados]
Prensa: Pode citar alguns dos transtornos que julga mais relevante?
Cacalho: Pra começar a comunicação oficial da Prefeitura não foi eficiente, e muitas pessoas ainda iam para o Hospital atrás de atendimento e depois tinham de ir para a Policlínica. Um gasto de passagem que muitos moradores de Búzios não podem ter, por exemplo.
Prensa: E o senhor acredita que o retorno da urgência para o local de origem, ou reabertura do Hospital, se deu pela pressão feita pela Câmara de Vereadores? Na entrevista anterior o secretário de saúde afirmou que não houve pressão popular e nem da Câmara.
Cacalho: Afirmo com certeza que a intenção do prefeito não era retornar com a urgência para o Hospital nesse mandato. A pressão da Câmara, e do povo (o que é a mesma coisa, visto que a Câmara é a casa do povo) foi determinante pra isso.
Prensa: Então o prefeito tinha a intensão de manter a urgência na Policlínica até o final do mandato? Sendo isso mesmo o que o teria motivado a mudar de ideia?
Cacalho: É isso mesmo, ele não pretendia retirar a urgência da Policlínica. As razões pra ele ter mudado de ideia são que estava ficando negativo politicamente e impopular também. E tem outra coisa: Os 60 milhões gastos com a saúde não baixaram durante esse tempo. Mesmo com a medida, que o prefeito disse várias vezes que era pra diminuir o número de atendimentos, o gasto continuou sendo o mesmo. Se atendeu menos pessoas nesses meses todos então deveria ter havido uma diminuição nos gastos com a saúde.
Prensa: Qual o maior problema que existia em ter a Urgência funcionando no prédio da Policlínica?
Cacalho: Logística. A Policlínica não foi preparada para ter uma Urgência. . Desde janeiro que estamos denunciando, isso ficou provado com as nossas visitas [dos vereadores de oposição] onde médicos e enfermeiros nos informaram que a logística não funcionava, não era boa.
Prensa: Então agora com o retorno pro Hospital haverá uma melhora?
Cacalho: Olha, o primeiro passo era esse: voltar pro Hospital. As condições físicas melhoram. O segundo passo é ver os equipamentos que existem no hospital e que estão guardados dentro de caixas, quando deveriam estar sendo usado para o bem da população. Porque hoje Raios-X, Ultrassom…tudo isso hoje é terceirizado. Se o problema for não ter profissional capacitado, é só qualificar.
Prensa: Há mesmo equipamentos de utilidade como esses guardados em caixas dentro do hospital?
Cacalho: Sim. Não estou dizendo que são exatamente estes ou todos, mas há sim equipamentos em caixas fechadas. Houve aumento no número de óbitos também. São dados que estão disponíveis em pesquisas que, se não engano, foram inclusive, publicadas no blog do Luiz [refere-se ao blog Iniciativa Popular Búzios] e também são dados da Secretaria de Promoção Social também.
Prensa: Voltando a sua afirmação sobre os gastos não terem baixado com a medida tomada pelo governo, o que exatamente está errado no gasto de 60 milhões da Saúde?
Cacalho: O que falta no Executivo é transparência. Comprou, por exemplo, cinco milhões em remédio? Ok, beleza. Mas quem são as pessoas que usaram?
Prensa: A Câmara não tem acesso a essas informações?
Cacalho: Tivemos que entrar na justiça para receber os relatórios da saúde, e houve atraso de cerca de três meses. O Portal da Transparência não funciona e só recebemos informações, que não são precisas, entrando na Justiça.
Prensa: Mas após entrar na Justiça o que foi enviado de informação não deu pra saber sobre os gastos?
Cacalho: Não. O que chega não bate com o valor de 60 milhões.
Prensa: Por que não bate?
Cacalho: O problema é má gestão. Não quero nem fazer afirmações sobre corrupção, mas posso afirmar que há uma má gestão. Todos os dias, por exemplo, faltam medicamentos básicos. Uma coisa que o governo sempre afirma: que Búzios está muito melhor em comparação a Saúde de outras cidades. Não se pode dizer que a Saúde de Búzios vai bem fazendo comparações de que outros municípios estão pior. Os outros municípios são maiores em tamanho e em número de moradores, e, principalmente, tem orçamento menor que o de Búzios.
Prensa: O que você faria?
Cacalho: Os remédios mais usados na saúde pública são remédios para pressão alta, diabetes e um remédio usado muito por idosos para o estômago, não me recordo agora o nome. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas constatou que um cidadão gasta em média cerca de 360 reais por mês em medicamentos. A Fiocruz afirma que as farmácias colocam cerca de 600% de acréscimo sobre os remédios na hora da revenda. 30 comprimidos de dois desses três remédios, o pra diabetes e o pra pressão, custam comprando direto do laboratório apenas 90 centavos. O Poder Público pode comprar direto do laboratório. Se a Prefeitura não compra direto desse laboratório deveria.
Outra coisa: A procura em Búzios é pequena pelo sistema de saúde do município. No máximo um terço da população usa o sistema de saúde com regularidade. Por alto podemos dizer que o gasto real deve chegar a uns 500 mil ao ano apenas, se seguirmos pelo fio da informação de que um remédio de pressão, entre os mais procurados, custa apenas 90 centavos. A economia vai acontecer porque os remédios realmente caros saem bem menos.
Prensa: Há uma CPI da Saúde em andamento, ela tem um foco principal?
Cacalho: Na CPI da saúde que está em curso (tem apenas 180 dias) focaremos em medicamentos e contratos de aluguel de ambulâncias. Gasta-se aproximadamente 1 milhão em alugueis em ambulância. Uma ambulância custa cerca de 200 mil. Isso não tem sentido. Também há a questão da comida: o Hospital gasta com a compra, em média, 600 quentinhas por dia . Mesmo com o Hospital fechado continuavam, até pouco tempo, comprando 600 quentinhas. Se diminuiu o número de atendimentos de urgência também, de alguma forma diminuiu a internação. Não é?
Mas quero focar no processo da compra- entrega e saída do medicamento. Há registro de compras. O remédio foi comprado e chegou. Mas ninguém sabe quem recebeu o remédio. Quando alguém pega o remédio não deixa lá uma receita? Por que ela não é arquivada? Tem como saber quem recebeu, claro que tem. Nunca veio para a Câmara o arquivo da receita.
Se me informarem que o gasto é X, e que ele não é suficiente, se a conta estiver batendo, eu não vou questionar. Preciso é ter acesso à informação. Só quero poder confrontar os números. Tanto de remédios quanto de exames e internações. Mas, como eu já disse, só conseguimos informações da Secretaria de Saúde se entrarmos na justiça.
Outra cosia: não se sabe quanto é o gasto com Folha de Pagamento. Também não sabemos quem fez os exames, sabemos que sai dinheiro pra pagar os exames, mas há como saber quem está realizando o exame? Claro que tem.
Ter transparência é importante. Inclusive, pra Prefeitura. Sem transparência não sabemos se é só má administração ou corrupção. Não sendo transparente se dá margem para que se pense em corrupção. Lembrando que corrupção na saúde é latrocínio (roubo seguido de morte). Corrupção mata.
Prensa: Considerações finais?
Cacalho: Minha briga não é com André, é com o sistema. Quero mudar a cara do Executivo.