O que é a verdade? A possibilidade de se entender um momento, uma ideia, uma explicação, um contexto através de fatos. Ok, mas se o momento, a ideia, a explicação, o contexto não obedecer uma regra lógica, ou melhor, só obedecer as intenções de quem emite a mensagem, o que se torna a verdade?
O Mundo atual que se mostra cada vez menos manuseável, em que nossas convicções viram fórmulas para peças publicitárias, programas de TV ou spots de comunicação, para você acreditar que o você pensa ou faz é relevante. E aí, onde está a verdade? Aliás, pra que serve a verdade?
Entender as angústias, as frustrações e as incapacidades é a tarefa básica da psicologia que anexada a propaganda, se constitui no organismo de manipulação de mentes e corpos eficaz e producente com a ordem das coisas que querem implementar.
Na disputa pelo poder, político e imagético, direcionar a informação, a ponto que ela se torne hegemônica é chave para o controle. E a hegemonia tem menos a ver com fatos do que com outra coisa. Vale mesmo é quem dissemina a informação e como ela chega a nós. O legítimo não conta com a aferição de fontes, com verificação de dados, com o conhecimento, pelo menos, não mais.
Assim, angústias, frustrações e incapacidades são produtoras em potencial de preconceitos. Como assim? Quando nos sentimos desolados no Mundo, as coisas nas quais investimos tempo e dedicação não dão certo, demonstrando nossa impossibilidade momentânea de lidar com a situação, procuramos a culpa e na lógica da responsabilidade, culpamos o vizinho, o parente, o homossexual, o preto, a mulher, o estrangeiro, menos a nós. É tudo contra nós e a grande vitória é superar os obstáculos.
Pois bem, e aí vem uma sentença ligada a um desses obstáculos passíveis de superação. Essa sentença chega a nós por inúmeras plataformas, várias e várias vezes ao dia, a semana, ao mês. Opa, algo em que acreditar, pois ajudará na minha vitória. É real?
Não sei, mas se conecta a aquilo que preciso resolver pra voltar a crescer, voltar a ter credibilidade, voltar a ter relevância no Mundo. Mesmo que esse mundo seja excludente, com políticas públicas favorecedoras da acumulação de renda e destruição da natureza, o importante é superar os obstáculos, que são pessoas específicas que estão atrapalhando um ideal de ser humano, continuidade dos costumes e da espécie.
Aí a sentença é questionada e desmascarada. Caramba, e agora? Cria-se outra sentença em cima do desmascaramento e os inimigos continuam, firmes e fortes, prontos para serem derrotados, por você, cada sem condição de elencar a causa e perceber a consequência dos movimentos. Consistência, para quê?
O discurso é apenas a duplicidade do seu eu, cujas preferências nem são mais suas, e nem importa, porque no mundo factível, as reais transações são daqueles que decidem nosso destino. E nosso destino tem a ver, diretamente, com regulação de bens, serviços e leis. Pensa, o que te preocupa e o que você decide?
E aí volto a perguntar, o que é a verdade? Onde ela está? Para que ela serve? Entre saber curtir e saber chegar, qual mentira ou qual verdade é para se acreditar? No mundo sem contexto, mitos, os produtores das sentenças, são espantalhos com capacidade de erradicação do Mundo. Primeiro, tirando-lhe a percepção, depois tirando-lhe a vida. E nós como cúmplices…
*Fabio Emecê é professor da Rede Estadual de Ensino, Mc, Poeta e Ativista Antirracista