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Por Paulo Roberto Araújo

Nesta semana, no dia 27 de Dezembro, terminou oficialmente a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Ela durou 11 meses e gastou 890 milhões de reais, duas vezes mais do que todo o orçamento da segurança pública para o Estado do Rio de Janeiro, em 2018.

Para termos uma ideia, coloque na conta de “orçamento”, tudo o que o governo do Estado gasta com salários, alimentação, treinamento, peças de reposição para as viaturas, munição, pensões e aposentadorias, material de escritório, etc, etc. Some tudo isso e multiplique por 2. Isso foi o quanto se gastou para manter milhares de soldados das Forças Armadas nas ruas do Rio de Janeiro.

No discurso de encerramento da missão, o general interventor que recebeu uma medalha pelos serviços prestados no cumprimento da missão, mostrou mais números: o número de homicídios, assaltos a carros e roubos de carga diminuíram, não sensivelmente como se esperava, mas diminuíram.

Para todos os efeitos, a “missão estava cumprida”, declarou o general no mesmo discurso. A intervenção quando decretada, foi alvo de uma chuva de críticas à decisão do governo Temer. Particularmente, nunca apoiei a intervenção exatamente porque pesadas todas as contas feitas na ponta do lápis, os ganhos seriam muito pequenos, em comparação com os gastos de uma empreitada como esta.

Qualquer política pública, quando analisada passa por este crivo, ou seja, tirando as críticas e os elogios, vamos conferir quanto se gastou e o quanto se ganhou com este investimento. De início, pode-se dizer que ainda é muito cedo para estimar com mais precisão se os efeitos da intervenção foram bons, ruins, ou não alteraram em nada a situação da segurança no Rio de Janeiro. Uma evidência disso são as pesquisas de opinião publicadas nos jornais fluminenses recentemente, que mostram que apesar da intervenção, e da presença ostensiva do Exército nas ruas, a sensação de segurança do cidadão fluminense não se alterou, ou seja, ele continua sentindo medo de ser assaltado, de ser alvejado por uma bala perdida, e assim por diante.

Se o General que proferiu o discurso oficial de encerramento da intervenção militar no Rio de Janeiro encontrasse um típico morador do Subúrbio do Rio de Janeiro, o diálogo bem poderia ser mais ou menos assim:

  • Bom dia cidadão, como estão as coisas, tudo em paz?

  • Mais ou menos. né General?.

  • Por quê ‘mais ou menos’? Alguma coisa errada?

  • Bom general, já que o Sr. perguntou, peço licença para falar.

  • Sabe o que é? Hoje, lá na minha comunidade, a gente nem dormiu direito, por causa da quantidade de tiros a noite toda. Uma facção invadiu o lugar, e a troca de tiros com os traficantes do local foi intensa.

  • Isso ocorre com que frequência? Perguntou o General.

  • Todos os dias, há mais de um ano.

  • Olha cidadão, disse o General puxando do bolso, uma folha de papel. Aqui nós temos dados dizendo que a violência no Estado do Rio de Janeiro diminuiu em 15%, os homicídios foram reduzidos e os roubos também.

  • Quer dizer então que os tiros que eu ouvi a noite inteira na minha comunidade eram um pesadelo? Eu estava sonhando?

  • O General encarou seriamente aquele morador suburbano, sem dizer uma palavra.

Isso é um diálogo ficcional, mas é ilustrativo da diferença de perspectivas entre quem promoveu a intervenção, e quem foi o seu, digamos, “público-alvo”. O morador da comunidade tem razão? Sim, mas o General também tem

Não há nenhum problema em encarar a intervenção como um “serviço público”, com um determinado custo, um público-alvo, um prazo de realização, tal como qualquer outro serviço, como por exemplo, um tratamento médico. O grau de satisfação do “cliente” do tratamento é o maior indicador da qualidade do serviço e da possibilidade de que este mesmo cliente recomende o serviço a outros.

Guardadas as devidas proporções, essa é a lógica que governa a maneira como o usuário final, no caso o cidadão fluminense, sente-se em relação a intervenção federal. Comparado ao que se gastou, a maioria dos fluminenses ainda não percebeu diferença entre o “antes” e o “depois” da intervenção. Quando o General Interventor em seu discurso oficial, declarou que “a missão estava cumprida”, o cidadão fluminense poderia dizer que “ainda era muito cedo”.

Existe uma outra coisa importante a ser considerada. A violência é um fenômeno social dotado de flutuações cíclicas. Desde o século XIX, os cientistas sociais identificaram que a violência, nas suas mais diversas manifestações seguem padrões cíclicos. Alguns delitos são mais frequentes em certas épocas do ano, do que em outras. Identificar estes padrões, conhecer as forças sociais que estão por detrás destes ciclos tem sido o objeto de estudo de muitos cientistas sociais.

Na prática, isso significa aplicar a “Inteligência” no combate ao Crime. Neste caso, “Inteligência” significa coletar informações, organizá-las, analisá-las e tomar decisões a partir destes dados.

Eu bem sei que em História não existe “Se”, mas digamos que em vez de se gastar duas vezes mais do que o orçamento do Estado do Rio de Janeiro com uma intervenção militar, fossem investidos o mesmo montante na criação de uma Central de Inteligência de Combate ao Crime. Será que o diálogo entre o morador do Subúrbio e o General seria diferente, ou sequer teria existido?

No fundo, tudo se resume às escolhas que fazemos com os recursos que temos, recursos estes que são Tempo, Dinheiro e Pessoas.

Paulo Roberto Araújo é professor de História e suburbano convicto

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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