O nome Katia Barbosa é conhecido, dispensaria apresentações, mas a história da dona do nome é tocante e um exemplo de superação, precisa ser então, sempre que necessário, contada a todos. Katia, chef de cozinha especializada em comida de boteco, inventora do bolinho de feijoada (isso mesmo, foi ela quem inventou), esteve em Búzios na última sexta-feira (7) para participar como jurada da 16ª edição do Festival Gastronômico de Búzios. Por toda sua fama, diversos prêmios, e um negócio de sucesso (o bar Aconchego Carioca na Praça da bandeira, Rio de Janeiro) poderia comportar-se, como é comum em muitos, com altivez ou ar de superioridade, mas não a Katita, como é chamada pelo íntimos. Ela, que é elogiadíssima pelo chef francês – hoje amigo, Claude Troiseros, recebe de sorriso largo, e palavras positivas de forma enérgica em seu sotaque carioca carregado até o talo.
“Eu trabalhava com joias, e então quebrei. Fui trabalhar no boteco do meu irmão e da minha (na época) cunhada. Eu não sabia cozinhar, até os meus 27 anos o que eu entendia de comida era miojo e arroz instantâneo, por isso digo sempre que todos tem salvação. Fui trabalhar como auxiliar de serviços gerais, mas ficava vendo meu irmão cozinhar. Um dia meu irmão foi embora e a minha então cunhada, hoje minha sócia, me pediu pra ajudar ela a não deixar o bar fechar. Eu então só sabia fazer Camarão na Moranga, Escondidinho de Camarão e Baião de Dois.”, contou no lounge da Lagoa dos Ossos onde foi provar os pratos para então, dar suas notas.
Sobre o Festival só elogios. Já tinha vindo outras vezes e assumiu que de Búzios só conhecia a Rua das Pedras e Orla Bardot. “Essa edição me fez conhecer outra Búzios, outros ângulos. Essa pracinha aqui na beira da lagoa dos Ossos, é um tesão. Quero morar aqui!”, animada.
Katia continuou contando que sofreu muito preconceito no início, “um bar na Praça da Bandeira, perto da zona, famoso por aparecer na TV quando tinha enchente, as pessoas sempre rolava o preconceito. Mas nas horas em que o bar ficava vazio ia pra livraria e lia todos os livros de receita que tinha lá, não podia pagar uma faculdade de gastronomia. Não comprava o livro, porque não tinha grana, e nem copiava a receita. Guardava o que dava na cabeça e no bar buscava fazer o prato. Deu certo!”, se emociona.
O boca à boca começou a dar resultado e mais e mais pessoas iam ao Aconchego Carioca, até que um dia alguém da Veja passou por lá e então o bar recebeu três prêmio da sessão gastronômica da revista. O burburinho em torno do trabalho da Katia foi aumentando. Até que um dia o Claude esteve lá e disse que “Marravilha” pra tudo que experimento. Katia e sua sócia não pararam então de receber prêmio e de criar novas delícias cariocas.
No Festival Gastronômico de Búzios ela experimentou todos os pratos que estavam na sua lista, menos o do Pimenta Síria – a fila estava muito grande e os proprietários não quiseram servir um quebabe separado pra convidada ilustre que ia julgar seu prato, era tarde e ela já vinha de uma jornada de dois dias caminhando disciplinadamente de tenda em tenda. Que falta de visão do Pimenta, fazer o que?
Mas nos Ossos ela experimentou o bolinho de bacalhau do Angry Burguer, que mesmo com esse nome surpreendeu com um prato que tem o peixe como ingrediente principal.
“O melhor bolinho de bacalhau que já comi na vida! E eu já comi bolinho de bacalhau de diversos lugares, inclusive em Portugal. Maravilhoso o bolinho de bacalhau deles. E estou emocionada com a história de vida dele (o chef e dono do Angry Burguer). Me identifiquei, ele tinha seu carrinho de comida ali perto da rodoviária, sofreu os mesmo preconceitos que eu, e venceu. Veja isso, ele teve uma sacação de trocar o tipo de batata assim fez um bolinho mais sequinho. E olha a paciência dele, eu não tenho, está mexendo a massa na hora e isso faz a diferença no sabor. O melhor que já comi, com certeza.”, decretou.