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O Maior movimento cultural brasileiro depois do samba! O Funk Carioca ainda sofre preconceitos

Por Victor Viana

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Foto de Vicente Rosenblatt, fotógrafo francês registrou mais de 400 bailes funk no Rio de Janeiro.

Em uma conversa com amigos – entre eles alguns nem tão amigos- alguns saudosistas e passadistas afirmaram que desde a década de 70 não surge um movimento ou movimentação cultural de grande envergadura no Brasil. De certa forma – salvo algumas pequenas discordâncias – o consenso geral foi de que o maior movimento cultural de massa até hoje foi o samba, em especial sua popularização na década de 50 – amplificada pelo rádio-  e todas as suas evoluções e ramificações que se estendem até hoje.  As mascaras dos meus não tão amigos cultos caíram quando afirmei que depois do Samba o maior movimento ou movimentação cultural do Brasil é o Funk Carioca.  Nem Bossa Nova ou tropicalismo, nem Rock 80 ou Mangue Beat. É o batidão suingado nascido e criado nas comunidades pobres do Rio de Janeiro a maior expressão artística de nosso tempo.  E sem sombra de dúvidas uma das maiores do mundo.

Uma expressão artística construída coletivamente de baixo para cima toma conta do país e influencia o mundo

A única razão que leva uma pessoa a não aceitar o fato do Funk Carioca ser a maior expressão cultural brasileira depois do samba é simples; não podem aceitar isso vindo de um movimento feito de baixo para cima. Teria de ser algo pensado, orquestrado por notáveis. É necessário que um grupo de cabeçudos se reúna e organize e pense – na maioria das vezes se apoiando em pensadores e movimentos que já são considerados clássicos – como se deve fazer e que efeito deve causar a arte. Mas é justamente o contrario disso com o Funk. Tudo é inusitado, é constrangedor, é chocante. Resumindo: é arte!

Movimento abrangente, diversificado e descentralizado. Uma criação coletiva construída há décadas com poucos recursos por pessoas criativas – na maioria das vezes- sem acesso a cultura clássica ou até mesmo formação escolar formal.

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Um dos DJs mais conhecidos do Brasil, o DJ Marlboro começou sua carreira no final dos anos 70 e já nos anos 80 foi um dos principais nomes da cena “funk” no Rio de Janeiro. Foi ele inclusive quem lançou a primeira coletânea do estilo no país, o disco “Funk Brasil 1989″, pela gravadora Polygram (atual Universal Music). os bailes eram dominados pela música negra americana, e as pistas tocavam os maiores clássicos dos estilos freestyle e miami bass. Era também a época dos “melôs”, divertidos apelidos que as faixas cantadas em inglês ganhavam em português, como “melô do popeye”, “melô da lagartixa” e por aí vai.

Identificado a princípio como sendo uma releitura do ritmo californiano “Miami Bass” – na maioria das vezes por críticos- o funk carioca não demorou nem um segundo a demonstrar toda sua originalidade, hoje copiada pelos astros dos Show Business norte americano.

Quando se quer demonstrar “curtura” pseudo intelectuais  tendem a blablalizar sobre antropofagia e deglutição de coisas…e citam sempre os mesmo cabeçudos do status quo nacional.  O certo é que, nem semana de 22, nem novamente os tropicalistas, deglutiram mais as coisas, se apropriaram inventivamente mais das coisas ao redor, que o Funk Carioca. Lá nos primórdios o funk chegou a pegar melodias de canções folclóricas como no caso do clássico; Melo do Ricardão :  “Ricardão, Ricardão, não pule a janela que já vem o João…”  a maliciosa versão de “ São João, São João,acenda a fogueira do meu coração…”  Sobre pegar os sons de fora: na mesma época a grandiosa  “Rap da feira de Acari” nos contava que lá se encontrava de tudo (Jorge Benjor completou isso depois lembrando que ‘é um mistério’ como se acha de tudo lá), usando a sonoridade própria dos primeiros sons de hip hop da época.

Não demorou para que em pouco tempo fosse surgindo os gritos sociais ou ufanistas. No primeiro caso podemos citar o Rap da Felicidade “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci…” que trazia o belíssimo verso “Faço uma oração para uma santa protetora e sou interrompido a tiros de metralhadora.”. no segundo caso, vindo o funk de comunidades abandonadas pelo Estado, é natural que não  nascesse  músicas de exaltação ao país e sim a própria comunidade; Rap do Borel, Morro do Querosene, Cidade de Deus…
Analisando de forma retroativa é preciso chegar as origens  das músicas mais pesadas do batidão consagrado “ que é som de preto. De favelado, mas quando  toca ninguém fica parado!”.  Lá nos jurássicos anos 90 havia o que se chamava de “Montagens” que mais uma vez se apropriava criativamente do cancioneiro popular; como no caso da interiorana “Saga do Homem Mau”  que foi destrinchada e refeita em varias  “faixas” :  “ Você gosta de flores… Sim eu gosto…então no seu enterro terá muitas flores!’ “ toma, tototomaa. Sou Jack o matadorrrr, Jack Jack o maatadoor” (Carregando no R sempre, o sotaque é carioca).  Uma outra centena de montagens foram feitas nesse período, muitas para embalar as competições de equipes que rolavam nas ruas para ver quem tinha o som mais potente, a galera mais fiel.Assim como no samba, que é um ritmo de origem africana – que logo  incorporou a poesia do amor romântico vinda de Portuga l- isso também se deu no funk e logo surge o Funk Melody: “ Princesa por favor volte para mim! Princesa por favor volte para mim; porque eu te amo meu amor…”  a simplicidade dos versos logo foi chamada de pobreza poética por parte das elites e suas tropas…mas conquistou a juventude e hoje no desenrolar do gênero melody do funk se vê as canções de Claudinho e Buchecha na boca de queridinhos da MPB como Kid Abelha e Adriana Calcanhoto, alem de “Ela Dança eu Danço” de MC Leozinho ter sido cantada por Roberto Carlos,  mais melody impossível.  OBS: É preciso registrar a nova safra de funkeiros que já estiveram com o tal rei Roberto Carlos: Anita e Ludmila.

Funk como veículo de apologia ao trafico e  pornografia
baile-funk2Não é segredo de ninguém a existência dos “proibidões”;  o rap cheio de sacanagem, onde propostas eróticas são feitas aos  cem mil decibéis usando os termos mais populares para se expor os órgãos genitais e posições sexuais.  O samba passou por isso também,…o cinema teve suas pornô chanchadas e ainda há – campeões de locação- os filmes de sexo explicito. A música voltada para a sacanagem explicita está no forró e no rock, ou seja; tanto no top top da música do povo quanto no top top da música de classe média. E mesmo essa vertente do funk já tem história. Lá no inicio dos anos 90 tocava essa no rádio: “Alo menina eu estou passando mal, vem passar o sabonete na cabeça do meu ****”. A apologia ao trafico encontrada em alguns proibidões não é nem de longe matéria para se generalizar o grann ritmo do Brasil como “coisa de marginal”. É a principal expressão musical, fenômeno de aglutinação dentro das comunidades é de se esperar que o crime organizado o use para seus proclames.  O problema não é o funk e sim o uso que se faz dele, é fácil entender isso basta ter boa vontade e menos preconceito de classe.

Atraso cultural: A falta de visão em relação a produção cultural no Brasil é sempre muito grande. Até mesmo quando se quer fazer projetos que privilegiam a cultura consumida  nas periferias o sistema erra; nas tais aulas de “cultura afro ou popular” – a nomenclatura muda de acordo com o município-   se ensina Hip Hop (na maioria das vezes só a expressão da dança), mas raramente se toca no Funk Carioca. É mente do colonizado que não se permite enxergar suas próprias riquezas. O Hip Hop é show! Mas o Funk é nossa criação! Tem valor comercial como o rap americano e tem valor de cultura popular como capoeira, jongo ou qualquer outra coisa dessas.

O Funk carioca de São Paulo

Isso é tema pra outro artigo…

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Depoimento do ativista das comunidades da Região dos Lagos Clovis Batebola 

funk-e-cultura
Em 2009 por decreto tal assinado pelo governador Sergio Cabral (o que tá preso) o Funk passa a ser oficialmente patrimônio cultural do Rio de Janeiro. Curiosidades: O Batidão – como o funk é conhecido – é também chamado de tamborzão. Isso se dá porque – mesmo que as batidas sejam de influência do Miami Bass- se parecerem com ponto de candomblé. No Rio o Funk Carioca é chamado apenas de Funk, claro.

“A minha geração foi marcada pelo Funk, desde os Melôs, passando pelo lado B, lado A até o MELODY. Durante a adolescência, o funk soava em nossas bocas como verdadeiros hinos. Sabíamos todas as rimas e os pontos muito antes da TV se apropriar do funk no programa da Xuxa. Hoje, mesmo com tanta mudança, a prática continua. Nossas crianças, adolescente e jovens andam com seus celulares tocando Funk dentro de ônibus, em praças, nas salas de aulas ou em qualquer lugar sem se preocupar com a repercussão. O funk é orgulhosamente a primeira música eletrônica brasileira e uma expressão de brasilidade.”

 

 

 

 

Pelo Mundo

m-i-a
Nascida em Londres de família do Sri Lanka Gravou a música BuckyDoneGun, com a base da música Injeção da Deise Tigrona e subiu ao palco do Tim Festival com a mesma em 2005. Após a repercussão  da musica na MTV, o funk passou a ter um espaço a mais na emissora, que até produziu um documentário sobre o ritmo.

Mathangi Maya Arulpragasam, mais conhecida como M.I.A. e seu namorado, o DJ Diplo fizeram uma viagem ao incrível mundo suburbano do Rio de Janeiro e decidiram não só produzir diversos funks cariocas, mas também lançar o CD de M.I.A, intitulado PiracyFundsTerrorism. Engraçado como o brasileiro precisa de uma opinião de fora para dar valor ao que é produto nacional.

 

Assista Beyonce Dançando Lek Lek Rock-in-Rio 2013 no LINK 

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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