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Por Renata Souza

 

Nasci nos idos dos anos 80, mais especificamente em 1982, não precisa fazer contas, tenho 36 anos! Ano de muitos acontecimentos marcantes, além do meu nascimento! Sim, evento muito importante para as famílias tradicionais Brasileiras. Afinal, casar e ter filhos eram o projeto de todas, ou da maioria das mulheres de “verdade” desse período. O que justifica a angustia de minha mãe em demorar 3 anos para tal. Nesse período aqui no Brasil, ao menos nos círculos sociais que minha mãe frequentava, a ideia de feminismo ou de adiar a maternidade em nome de um projeto de carreira era algo impensado, ou melhor, desconhecido.

No cenário mundial o Brasil perdeu a Copa do Mundo de 3×2 para Itália. Nessa década a ditadura militar começa a se desfacelar e temos em 82, depois de 17 anos, a primeira eleição. Uma eleição pluripartidária, que é considerada, pelos historiadores como marco fundador da democracia. Uma nova constituição também foi promulgada na década de 80.

Em relação ao cenário da música nacional, temos uma efervescência de bandas, gêneros musicais e artistas surgindo, tais como o Rock Brasil, ou como gostam os entendidos BRock! Esse cenário de transição de uma ditadura para democracia será a matéria prima que vai alimentar as letras das bandas que surgem nesse período. Assim, contestar o status quo através da produção musical vai se tornar a regra.

Só na escola fui saber o que era Ditadura Militar. Pois minha família nunca mencionou nada sobre o fato ou se quer sabia explicar quando inquiridos. Mas o que me motivou a escrever o texto de hoje, foi um fato que aconteceu com uma personagem que me ensinou, ainda bem que não dei bola, que mulher bonita era branca, loira e magra.

Como já disse, nasci nos anos 80, logo comecei a minha sociabilidade secundária na década de 90. Ou seja, a partir desse momento começo a ter “maturidade” ou um mínimo de clareza sobre o mundo. Momento em que as influências midiáticas começaram a operar a construção dos meus valores, crenças, gostos e até mesmo opiniões. E hoje escuto essa estória a que é o professor que doutrina as criancinhas. Bobinho!

Criança desprovida de recursos e que não foi apresentada ao mundo da literatura e para quem a escola não era um lugar legal, a TV era o que se tinha de mais interessante para fazer. Deste modo, meu humor foi formado vendo os trapalhões, meu padrão de beleza vendo Xuxa em sua nave enfumaçada descendo do teto todos os dias. E aprendi filosofia com a família Dinossauro. Obviamente, cantei ilariê e já quis ser Paquita. Mas minha mãe sempre me lembrava que eu era preta e onde já se viu Paquita preta.

Racismos a parte, o que eu quero falar é sobre como nossa sociedade é cruel, fugaz e efêmera. Essa semana, vi um post da Xuxa nos altos de seus 57 anos, sem make up, com cabelos brancos e com suas rugas aparentes onde a mesma foi alvo de uma série de críticas por conta de passar pelo processo, natural, de envelhecimento. Caso alguém aqui não saiba só vai se livrar de envelhecer quem morrer jovem.

E esse fato me fez lembrar de um episódio da família dinossauro, chamado “O dia do Arremesso”, onde os dinossauros ao completarem 72 anos deveriam ser arremessados de um precipício em um poço de piche. Vejo que nossa sociedade está retomando essa tradição tão ultrapassada. Envelhecer, ter rugas, cabelos brancos e ficar lento é proibido. Vivemos um período em que as pessoas querem ficar jovens para sempre e fazem loucuras para tal. Envelhecer é ser descartado.

É cruel que a sociedade impõe o não envelhecimento. Principalmente para nós mulheres, Somos proibidas de envelhecer. E quando isso acontece, as marcas naturais do tempo, passam a ser usadas como agressão. Como um pecado, um fardo pesadíssimo em uma sociedade machista que valoriza a juventude como um recurso infinito. Onde os homens querem se relacionar com mulheres cada vez mais jovens, independente da idade deles. Vide nossos últimos presidentes e suas respectivas esposas.

Só que essa exigência de uma juventude eterna que impõe a nós mulheres, gera uma série de problemas. Problemas sérios de ordem emocional na busca de uma aparência jovem para sempre. Temos que começar a questionar essa imposição da juventude eterna. Não sou contra nenhum procedimento estético (assunto interessante para um bate papo) que lhe trará alegria e autoestima. Sou contra a busca doentia, por um corpo perfeito, uma cara eternamente jovem e o “descarte” de mulheres.

Afinal, o ex-presidente e o atual podem ter mulheres mais novas, mas quando a Ana Maria Braga ou a Suzana vieira exibem seus boys magias “garotões” são alvo de duras críticas. Precisamos quebrar esse padrão machista que condiciona o valor de uma mulher a sua pouca idade e a branquidade da sua pele. Precisamos nos questionar sobre esses julgamentos, principalmente parar de julgar o outro e a nós mesmos segundo esses padrões machistas e racistas. Precisamos arremessar para fora de nossas mentes os preconceitos que nos aprisiona e nos faz refém.

Envelhecer é ser testemunha ocular da história, é ter experiências de vida que só são adquiridas com o passar dos anos. Envelhecer é alcançar a dádiva da maturidade. É enxergar a vida de uma forma menos complexa. É ver o quanto já fomos cruéis com a gente mesmo. É reconciliar-se com nós mesmos. Envelhecer é, para alguns, se despir de preconceitos, é aceitar e aprender diariamente. E isso tudo, deixa marcas.

 

Renata Souza é Professora de Sociologia e Mestra em Sociologia Política

 

Noticiário das Caravelas

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Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

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