Na década de 80, Jill Tarter era uma astrônoma que decidiu embarcar em uma empreitada arriscada, no entender de seus colegas cientistas. Ela iria trabalhar em um projeto cuja finalidade era apontar as antenas de radiotescópios para vasculhar sinais que pudessem ser evidências de que civilizações inteligentes habitavam a imensidão do espaço sideral.
O projeto foi batizado como Search for Extraterrestrial Intelligence-SETI. Como de hábito, para financiar um projeto destes Jill e seus colegas pediram a ajuda do governo, e também como de hábito, a primeira resposta foi um sonoro e redondo “NÃO”.
Tudo mudou quando Hollywood entrou na história. Os produtores se interessaram pela história de Jill Tarter, a partir de um romance que o também astrônomo Carl Sagan escreveu sobre o assunto. Este livro se chamava “Contato”, e pouco tempo depois, Jodi Foster encenava nas telas de cinema, a saga de Jill Tarter e seu projeto SETI.
No Brasil, a divulgação científica ainda é incipiente, apesar de já haver um avanço considerável em relação ao passado. Na semana passada, a ciência brasileira sofreu um novo abalo, com a possibilidade de novos cortes previstos para o ano de 2019, afetando o destino de 200 mil bolsistas e pesquisadores.
Nem de longe a reação da opinião pública foi semelhante à mobilização e discussão provocada pela greve dos caminhoneiros. Essa apatia é por que o brasileiro é mais simpático a um caminhoneiro do que um cientista? Não, isso não é verdade.
Em uma pesquisa recente realizada pela 3M em 18 países do mundo, incluindo o Brasil, constatou-se que a imagem que o brasileiro tem da Ciência é muito positiva. Mas, ao mesmo tempo, o grau de conhecimento que este cidadão possui sobre o faz um cientista, como ele trabalha, o que produz é muito vago. Ou seja, no Brasil há bastante divulgação científica, principalmente depois do advento das redes sociais como o Youtube, mas ainda há muito o que fazer. Há ainda no país uma grande resistência à divulgação científica, tida ainda como uma atividade ‘menor”, quando comparada à pesquisa “strictu sensu”.
Bem, os cortes agora tidos como certos para o ano que vem para a Ciência estão mostrando que na verdade, divulgar a Ciência, não é uma atividade “menor’. A maior prova do grau dependência que Ciência brasileira atingiu nos últimos anos, está no fato de que toda a discussão sobre o corte de financiamento da pesquisa científica ter ficado encurralada no beco sem saída da polarização política e ideológica.
Nas redes sociais, acompanho a batalha de memes, posts e tuítes atribuindo os cortes à “política golpista” do governo Temer, ao “desmonte da universidade pública”, e coisas do gênero. Nada, absolutamente nada, aparece nestas mesmas redes sociais sobre a importância de tratar a Ciência como um bem público, tal como um hospital, uma escola, ou uma rodovia.
Na minha opinião, isso se deve, em grande parte à uma cultura que se desenvolveu dentro do sistema acadêmico brasileiro, que foi a dependência do financiamento da pesquisa aos humores da política partidária. Acostumados à ideia de que sempre haveria recursos para a Ciência, na forma de bolsas e financiamentos, porque este ou aquele governo assim se comprometeram, a comunidade científica “esqueceu-se” que política é em sua essência, instável e mutável.
Sou de opinião que o cientista brasileiro hoje não está em situação muito melhor do que aquele eleitor que fiando-se sempre na benevolência de seu “padrinho político”, esqueceu-se que um dia, aquela generosidade poderia faltar, como de fato faltou.
E então, e somente então, este mesmo profissional lembra-se que o cidadão poderia ser sua maior garantia contra os revezes que a Vida e a política são capazes de nos pregar.