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 Esse Trump, ele é um gênio de primeira, como ele garante todo dia? Ou um dos maiores imbecis que o mundo já produziu?

 

TrumpKim2Alguns dias atrás, a tentação era grande de escrever sobre o jogo idiota da covardia (“chicken”, em inglês; “frango”) em que o chefe de estado americano e o chefe de estado norte-coreano se enrolavam. Se não fosse tão inevitável, pareceria inacreditável que, num mundo tão grande quanto o nosso, os dois maiores malucos desde a queda dos impérios fascistas (excluindo, obviamente, algumas aberrações locais como Pol Pot e Idi Amin) se encontraram, se enfrentaram através dos oceanos e dos continentes que os separaravam, e, empurrando todos os demais para o lado, pactuaram para entrarem, juntos, num ringue para um campeonato mundial da sua própria invenção. Por que Trump não enfrenta, digamos, o seu vizinho canadense Justin Trudeau? Por que o aguerrido camarada Kim Jong-un não enfrenta, digamos, o primeiro ministro da Noruega, sabe-se lá como ele ou ela se chama?

 

Um líder de araque reconhecendo o outro
Um líder de araque reconhecendo o outro

Na verdade, tenho uma teoria. Percebi, ao longo da minha vida, que, se se sai para passear o cachorro numa grande cidade, pode-se caminhar por muitos quarteirões e o cachorro não presta a menor atenção aos seres humanos no seu caminho. Mas, assim que outro cachorro apareça, tudo fica paralisado para os dois cachorros avaliarem um ao outro, farejarem um pouco, e, inevitavelmente, latirem e rosnarem e, às vezes, morderem. Mesma coisa mais ou menos, normalmente sem a territorialidade exagerada, se se sai com uma criança de cinco ou seis anos. A criança não manifesta o menor interesse nos adultos no seu caminho, mas, assim que surja outra criança de mais ou menos a mesma idade, as duas crianças ficam absorvidas uma na outra. Tudo no mundo para até elas se satisfazerem. Mais uma evidência que comecei a perceber só nos últimos anos. Já que tenho cabelo branco, não existo mais para os jovens. Quando nos cruzamos nas ruas, eu e os jovens, eles – e, pena, elas – olham através de mim. Mas, cruzo com outro coroa e ele e eu nos reconhecemos instintivamente, mesmo se nunca nos vimos um ao outro antes. Nos examinamos mutuamente – à procura, como num espelho, de . . . sinais? Sempre há uma pequena dança de acenos e meio sorrisos. Os opostos se atraem, dizem os românticos. Semelhantes também.

 

Como eu disse, a tentação era grande de escrever sobre o embate entre Trump e Kim. Seria interessante especular, por exemplo, sobre qual dos dois vai piscar primeiro. Mas a quezília entre Trump e Kim não ocupava as manchetes sozinha por muitos dias. De repente, o americano começou a ameaçar intervenção militar na Venezuela. Nicolás Maduro, o filho do Presidente da potência bolivariana, garantiu que, se os ianquis interviessem no país dele, os venezuelanos tomariam a Casa Branca, em Washington. Os redatores tinham de disponibilizar espaço para esse novo conflito em potencial. E, horas depois, os neo-nazistas e os supremacistas brancos chocaram-se com anti-fascistas em Charlottesville, Estado da Virgínia, EUA. Trump, por incrível que pareça, não viu diferença moral alguma entre as duas facções do ponto de vista moral. Não encontrou ânimo para repudiar os nazistas claramente. Depois, repudiou-os a contragosto, presumivelmente sob pressão dos seus assessores. Depois, voltou à sua horripilante posição inicial, e isso desencadeou mais uma crise gravíssima na administração já, pelos melhores motivos, combalida. Nas manchetes norte-americanas, não havia mais espaço nem para Coreia nem para Venezuela.

 

Parece-me que a administração lá no meu país de origem, os EUA, está em queda livre. O maluco está sendo abandonado por mais e mais líderes empresariais. Mais e mais autoridades eleitas do seu próprio partido, os Republicanos, estão se distanciando dele, a maioria ainda de um jeito extremamente cauteloso, mas há também alguns afoitos que estão falando com um desassombro incomum entre a categoria. Para o repúdio virar geral, o sentimento da população terá de se definir um pouco mais no sentido de fadiga de Trump. Os políticos, em geral, não são líderes. São oportunistas e, desta maneira, seguidores. Mas mais um sinal positivo: cada um dos chefes dos cinco serviços militares americanos – Exército, Marinha, Força Aérea e Fuzileiros Navais, mais a Guarda Nacional – emitiu uma nota repudiando o racismo atrás do choque em Charlottesville, e isso sugere, sutilmente, que os serviços militares não executarão as ordens do maluco cegamente. Se, por exemplo, o maluco ordenasse uma chuvarada de mísseis contra o camarada Kim, é possível que os chefes militares liguem para um desses números 0800 para acionarem os paramédicos que dispõem de camisas de força. Isto é um desdobramento que não posso garantir, mas, graças aos pronunciamentos dos chefes militares, acho que podemos dormir com um pouco mais segurança.

 

TCérebro8Mas talvez melhor – pelo menos para mim – desconsiderar as atualidades norte-americanas, as quais mudam de hora em hora, e ponderar um pouco sobre um assunto, mais de segundo plano do que de primeiro, que nunca consigo expulsar totalmente da minha mente, e isso é à questão intrigante da inteligência do Sr. Trump. Qual exatamente a natureza dessa inteligência – se inteligência há, lá, dentro dessa cabeça cor de cenoura? (Cabeça cor de cenoura soa carinhoso? Não é.)

 

O próprio Trump vem nos garantindo, dia e noite, ou por tuítes ou a voz alta, que ele é “really smart”, ou seja, verdadeiramente inteligente. “Desculpem-me os perdedores e odiadores,” ele disse uma vez, “mas o meu QI é um dos mais altos”. Diz, repetidamente, “Tenho um muito bom cérebro”. Cita quatro “provas” da inteligência dele. (1) Estudou na Wharton. (2) Um tio dele era professor de engenharia no MIT, isto é, o Instituto da Tecnologia de Massachusetts; ou seja, ele, Donald, tem uma boa herança genética. (3) Ele é “verdadeiramente rico”. (4) Ele não paga uma parte equitativa dos impostos do país.

 

Quanto a Wharton, é uma instituição conceituada. Mas não garante bulhufas.Todo tipo de pessoa, inteligente e não tanto, passa por lá, assim como todo tipo de pessoa, inteligente e não tanto, passa pela Universidade Veiga de Almeida em Cabo Frio ou pela rodoviária aqui em Búzios. Além disso, o nosso Einstein não estudou na Wharton School of Business – a faculdade de administração, pós-graduação – da Universidade de Pensilvânia. Ele cursou Wharton somente como estudante de graduação – sem histórico notável lá e só por dois anos depois de dois anos iniciais na Universidade Fordham (instituição menos conceituada), no Bronx. O tio? Não vamos perder tempo. Os dois filhos – filhos – sobreviventes de Einstein eram inteligentes mas longe de gênios, e o tio – tio – de Trump não era um Einstein. A idéia que uma fortuna bilionária corresponde, de uma forma mais ou menos proporcional, à inteligência da pessoa que dispõe da fortuna é uma dessas idiossincrasias norte-americanas que não se explica facilmente. Não vale a pena nem pausar para considerá-la. E os impostos. Ele não citou a sua sonegação, espontaneamente, como evidencia da sua inteligência, mas, quando cobrado por evitar impostos, era sua primeira defesa. “Isso comprova que sou inteligente” – ou seja, só os idiotas e, é claro, os perdedores deixam de explorar todas as brechas fiscais. Pode ser mais uma evidência da fé dele na sua própria inteligência que ele se sente autorizado a tratar todo o resto do mundo de “stupid” ou “dumb,” que, em português, seria “burro” ou “néscio”. “Stupid politicians.” “Obama is so stupid.” “Stupid New York Times.” “Dumb politicians.” “Dumb as a rock Mica.” Poderia preencher páginas com estas investidas petulantes e infantis, mas ficaria tédio.

 

1503408497887189Em minha opinião, as evidências que ele tem uma inteligência pouco maior do que uma lâmpada queimada são muito mais convincentes. Discursos incoerentes, divagantes, desconexas. Repetição incessante, e em qualquer situação, de um repertório extremamente reduzido de vocábulos – e, sobre tudo, o tipo de adjetivo fervoroso e impreciso e, também, idealizante ou injurioso, significando qualquer coisa ou absolutamente nada, que associamos, normalmente, com uma corja de garotos exaltados numa quadra de areia de futebol. Stupid, dumb, dopey, disgusting, boring, incompetent, nasty, overrated, terrible, sad, pathetic, failing, beautiful, fantastic, unbelievable, amazing, huge, tremendous. Ah, sim, não podemos esquecer a anódina nice. (Palavras lá que não entendem? Aos dicionários, brasileiros!) Usa também uma grande quantidade de expressões formulaicas – frankly (francamente), honestly (honestamente), to be honest (para ser sincero), you can believe me (vocês podem acreditar), let me tell you (vou te dizer – também um Dilma-ismo, não é?), incidentally (a propósito), by the way (por sinal). O nosso hipnotizador de supremacistas rancorosos raramente completa uma frase sem uma ou duas dessas muletas, e frequentemente os “pontos” principais vêm, bizarramente, sob a égide de uma incidentally ou uma by the way. E se as frases esfarelam, os parágrafos – se são parágrafos – são piores. Ah, sim, além disso, as falas dele são puramente emotivas. Nada de conteúdo. Com certeza, nada de informação. Como as falas dele poderiam conter informações quando ele não lê e nem sequer se interessa muito, se diz, nas exposições dos chefes das suas agências e serviços de informações. As informações dele vêm principalmente dos noticiários da Fox News, emissora direitista, e sobre elas ele improvisa como um músico de jazz da maior inventividade. Ele ouve um número. Adiciona zeros no final ou altera-o ou joga com ele até que o número fique majestoso o suficiente para excitar os seus seguidores. Mas não é que ele calcula muito. Se calculasse, teria de pensar. A inteligência dele, tal como é, é puramente emocional, é instintiva. Síria, Irã, Iraque, Afeganistão – perfeitamente intercambiáveis. Ele aparentemente não tem a menor idéia qual é qual.

 

Gostaria de traduzir algumas falas típicas dele, porque ontem à noite Barbara e eu acompanhamos uma paródia de um discurso dele, no YouTube, com uma amiga brasileira, e Barbara e eu percebemos que a amiga, apesar de extremamente bem informada e fascinada, quase obsessivamente, pelo colapso moral de um país que ela ainda idealiza, não conhecia os tiques e os maneirismos dele, o original, Trump, o bastante para rir nos pontos certos, na paródia. Ou seja, vocês, brasileiros, se o seu inglês não é quase perfeito, não podem imaginar o grau de avacalhação ao qual esse maníaco levou uma língua tão rica. Como disse, gostaria de traduzir. Mas não dá. Mais fácil traduzir Proust ou James Joyce do que traduzir essa lengalenga dele. Sinto pena dos intérpretes.

 

Com certeza, a inteligência é só uma das qualidades que um eleitor deveria procurar num candidato. Há também experiência, sabedoria, bom senso, índole, idoneidade, juízo, valores morais e sociais, a capacidade de equilibrar interesses diversos e conflitantes, e, com certeza, muitos eleitores buscam um compromisso com interesses específicos de classe ou de casta ou de categoria ou de região ou de local. É só a garotada super dotada de inteligência do tipo medido pelo teste de QI que sonha, hoje em dia, nesse mítico filósofo rei que, sem alguma dúvida, causaria tanta confusão quanto os idiotas e ladrões que nos governam, lá nos EUA e aqui no Brasil, agora. Lembro-me de quando William F. Buckley, um dos principais arquitetos intelectuais do conservadorismo moderno e mais ou menos respeitável nos EUA, disse, na década de 60, que ele preferiria morar numa sociedade governada pelos cem primeiros nomes na lista telefónica da cidade de Boston do que pelo corpo docente da Universidade Harvard. Posição longe de totalmente doida. Buckley, eu acho, pensava na tendência entre a intelligentsia de mexer com coisas (não somente times mas também instituições) que ainda estão funcionando adequadamente. Lembro-me também da observação que o ministro da Corte Suprema americana, Oliver Wendell Holmes, fez a respeito de Franklin Roosevelt, o Presidente que pilotou os EUA durante a grande depressão econômica da década de 30 e, depois, durante a Guerra Mundial: que Roosevelt tinha um intelecto da segunda ordem mas um temperamento da primeira.

 

Dos recentes presidentes americanos, poucos, na verdade, foram generosamente dotados intelectualmente. Obama era uma exceção. E a inteligência de Trump provavelmente não seria uma questão, de forma alguma, se (1) ele não se gabasse da sua inteligência o tempo todo e (2) se tivesse algumas qualidades compensatórias. No mínimo dos mínimos, vamos apontar o equilíbrio mental.

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Emad Hajjaj / Jordan
Emad Hajjaj / Jordan

Qualquer que seja a inteligência de uma pessoa numa posição de grande autoridade, e mesmo se o valor da inteligência em assuntos públicos tenda a ser superestimada, acho que todos nós concordaríamos que os líderes políticos e os homens (e mulheres) do estado não deveriam ser mentalmente desequilibrados. Se há exceção, a exceção se encontra sob a jurisdição do que Richard Nixon, presidente americano obsessivamente anti-comunista entre 1969 e 1974, era da guerra do Vietnã, chamou de a “Madman Theory” e que a Wikipédia em português traduz como a Teoria do Louco. Nixon era, na realidade, mais do que um pouco instável, se não totalmente fora de si. Como escrevi anteriormente nestas páginas virtuais, ele nutria a sua autopiedade com álcool e medicamentos psicotrópicos; falava sozinho com os retratos dos seus predecessores nos corredores da Casa Branca na calada da noite. Além disso, ele sabia que era desequilibrado ou, pelo menos, que uma parcela expressiva da população mundial acreditava que era assim, e, querendo estimular os norte-vietnamitas a sentarem à mesa e negociarem uma solução à guerra interminável que causava tanta hecatombe e tanta destruição, encorajou seus subordinados a espalhar que ele, Nixon, estava tão louco que estava capaz de qualquer disparato, até de lançar ogivas nucleares – e, nas palavras, aparentemente, do próprio Nixon, “Ho Chi Minh estaria em Paris em dois dias implorando por paz.”

 

Enquanto refrescando minha memória a respeito do pouco lamentado Nixon na Wikipédia, descobri que o diplomata e filósofo político renascentista Maquiavel argumentou que “às vezes é muito sábio”, por parte de um príncipe, “simular loucura”.  Mas, se uma das palavras-chave seja loucura, a outra palavra-chave é simular. E, na guerra de palavras entre Trump e Kim que, semana retrasada, deixou o mundo com os nervos à flor da pele, antes de essa guerra de palavras ser ocultada pela tragicomédia de Charlottesville, ninguém podia garantir que qualquer um dos dois protagonistas, Trump no lado americano ou Kim Jong-un no lado norte-coreano, estava meramente simulando a loucura; é totalmente possível que os dois eram, e são, dementes – ou, se não dementes no sentido de se confundirem com Napoleão ou Jesus ou de ouvirem vozes emitindo instruções sanguinárias da televisão, eles ainda têm transtornos de narcisismo e insegurança que interferem com o raciocínio.

 

Depois de o drama Charlottesville ser esquecido, ou se confundir com outras vergonhas do mesmo gênero, é provável que o conflito entre os EUA e a Coreia do Norte, exacerbado agora pelas psicologias deturpadas de Trump e de Kim, volte à tona. O conflito é real, e não está indo embora. É só dar uma olhada no The New York Times de hoje, segunda-feira, para encontrar um artigo sob o título “With Color and Fury, Anti-American Posters Appear in North Korea” e um segundo artigo sob o título “South Korea and U.S. Begin Drills as North Warns of Rising Tensions”. O Kim tem, talvez, uma porçãozinha de bom senso? Aceita um conselho? Se sim, abandone suas ogivas nucleares. Soterre-as sob um campo de flores. Deixe o Trump sozinho por mais um ou dois anos e ele trará mais prejuízos aos EUA do que a sua Excelência poderia causar com todas as suas bananas de dinamita atômica.

 

 

 

Mark é jornalista, é americano, mora em Búzios ( o que quer dizer que escolheu viver no Brasil entre argentinos?).
Mark é jornalista, é americano, mora em Búzios ( o que quer dizer que escolheu viver no Brasil entre argentinos?)

 

 

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Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

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