O relato de um conterrâneo que mora em Búzios e conheceu Lula na Infância
Quando eu tinha 8 anos de idade meus pais foram morar em São Caetano do Sul, onde conheci o Lula, na Vila São José. Eu o via pelas ruas carregando a sua caixinha de engraxate e o apelido dele era “baiano”. Um apelido que conservou até se tornar em político popular e como era chamado pelo Zé Dirceu e o pessoal do PT.
Os moleques nordestinos pobres e deslumbrados com as fábricas do ABC, viviam sonhando com o curso de torneiro ou fresador do Senai, para poder trabalhar na Volks, Mercedes, Ford, na GM.
O sonho deles, era poder trabalhar de macacão limpo, comer todo dia no refeitório, ganhar bem, tornar-se chefe de seção ou gerente de fábrica e quem sabe chegar a ser um líder sindical. Mas, as humilhações a que eram submetidos, fez com que descobrissem a redenção que iria livrá-los do mal: A greve.
Já era adulto, quando um amigo me levou para ver um comício na porta de uma fábrica em São Bernardo do Campo. Quando olhei para o palanque, ao reconhecer quem discursava, gritei: “É o Baiano, o engraxate da Vila São José!”
O meu amigo completou: “Ele é líder do sindicato. O pessoal tem o maior respeito por ele.” Eu nunca mais conseguiria vê-lo como engraxate… A partir daquele momento, entendia a esperança estampada nos olhos deles ao ouvir a sua voz rouca: LULA, o Antonio Conselheiro dos Sertões do ABC. É assim que eles veneram sua imagem de grande líder operário até hoje.
Há uma citação de Euclides da Cunha na página frontal do Instituto Lula (A Origem). Assim, acho que eles ficarão ao lado dele até a morte, como ocorreu no movimento dos sertanejos agrupados em torno de Antônio Conselheiro, o líder messiânico que pregou uma vida comunitária e igualitária, como está escrito no final da narrativa de Os Sertões:
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.”
Assim, para 35% daqueles que sempre o seguirão, ele é o “Lula dos Sertões do ABC”, o redentor da pátria. Mesmo que seja visto por muitos como o ladrão que enganou muita gente, de chefes de estado a analistas políticos nos quatro cantos do mundo.
— José Carlos Alcântara é consultor empresarial e analista do mercado de capitais - representante no Rio de Janeiro do Instituto Informa.