Calisto Cascanho é literalmente um “filho da puta”. Sua mãe fazia programas por 10 cobres na Rua Los Catiços, em El Salvador. Calisto contou que veio parar no Brasil por acaso, já era um “hominho”, ou quase isso, ri ao contar. Tinha acabado de sair do xadrez (havia sido preso por porte ilegal de armas e “sodomia”), encontrou um amigo que o convenceu que tinha um belo traseiro e que poderia ganhar um bom dinheiro com ele no Rio de Janeiro.
Com o codinome “Jenneffer Favo de Mel” (assim mesmo com o n e o f duplicados), foi à luta e quando já estava acostumado a labuta árdua na rua, conheceu um jogador de futebol de renome que lhe prometeu “mundos e fundos”. Na verdade, moveu o mundo para ter os “fundos” de Jenneffer só pra ele.
Se na TV, revistas e jornais o futeboleiro profissional tinha fama e pose de pegador espada, nos bastidores, apaixonado que estava, começava aos poucos a retirar Jenneffer da “vida”, e colocava Calisto bem acomodado em um apê no caríssimo Leblon. Foi nessa época que ele (o futeboleiro craque da bola) comprou a casa de Búzios.
“Isso foi mais ou menos quando deu o primeiro aceno que poderia a vir se envolver com a política”, contou em tom melancólico Calisto Cascanho, que em seguida revelou que começava ali sua rotina de solidão.
O monarca dos campos, amante fogoso de outrora, agora o deixava abandonado na Zona Sul do Rio. Pelas revistas e pelos programas de fofocas Calisto seguia a rotina de noitadas, carrões, amigos e loiras de coxas lisas e quentes, sorrisos artificiais nas fotos ao lado de seu amor. “Está na hora de acabar com essa porra”, decretou em voz alta na sala vazia de uma noite solitária do Leblon. As 7h em ponto, Calisto estava em Búzios. O craque da bola ainda dormia, assim como o bando de amigos, lambe botas, putas profissionais e putas apenas por esporte, também.
O cheiro dos fluidos sexuais misturados a bafo de álcool, os corpos desnudos e narizes com resquícios de farinha, provocaram náuseas em Calisto Cascanho que quando conheceu o futeboleiro, era Jenneffer Favo de Mel. O artilheiro se levantou e foi em direção a Calisto tentando se explicar e tomou um tapa, que ficou dias com cinco dedos marcados na cara.
O amor acabou e no lugar ficou o ódio, mas também uma pensão para que Calisto não abra o bico, tão alta que o ex-affair do futeboleiro não precisa nem pisar no chão.
• Publicado originalmente no jornal O Perú Molhado – 2014