Por Eduardo Graf
Eu sempre quis escrever sobre este tema, na verdade eu já o fiz numa de minhas redações, em uma aula de Inglês, quando cursava jornalismo na Grossmont College em San Diego, back in 1990. Mas vamos lá, muito tempo se passou e eu provavelmente posso falar de forma mais elaborada hoje em dia. Você pode ser chamado de gringo em Copacabana, por um cara que está tentando atrair clientes para uma loja de câmbio, ou por alguém quando morava no Leblon, um bairro cercado por comunidades como a Rocinha, o Vidigal, a Cruzada São Sebastião ou mesmo o Minhocão, ali na subida da Lagoa Barra, de frente para a P.U.C. Afinal enquanto tinha cabelo, eu era loiro, de olhos verdes e com 1,86cm de altura.
Agora quando um casal que fala Inglês entre si, que mal viveu no Brasil, e fala nossa lîngua mal e porcamente lhe chama de gringo, é sinal de que está na hora de escrever sobre isso novamente.
Primeiro um pouco de biografia, vamos traçar o perfil desde gringo que vos escreve. Eu nasci no Paraná, em Curitiba, no ano de 1964. Em 1965 já vivia em Copacabana e depois foram 20 anos de Leblon, 15 anos de Recreio dos Bandeirantes e mais 15 anos de Búzios. Minha mãe é brasileira, filha de brasileira descendente de tribos indígenas do sul de nosso país. Sim eu confesso, meu pai não nasceu no Brasil, e sim na Europa, mas tinha mais malandragem, conhecimento e vivência de Rio de Janeiro, do que a maioria dos que estão me lendo agora. Em 1983 eu servi as forças armadas de nosso país, acho que isso se deve ao fato de nossas autoridades, me considerarem brasileiro, vocês concordam?
Mas afinal, o que é ser local, ou residente de uma região? O que faz com que as pessoas lhe respeitem e o tratem como alguém de casa? Por exemplo, em Búzios, temos muitas pessoas da Argentina que são verdadeiros locais, pois contribuíram de diversas formas para o crescimento e organização de nossa cidade. Aliás temos pessoas aqui de diversas nacionalidades que podem andar por nossas ruas com a tranquilidade de quem sabe que fez a sua parte e que aqui é sua casa, alguém duvida?
Gringo para mim que foi criado nas ruas e praias do Rio, sempre esteve relacionado a uma figura mal informada, fora de contexto, com roupas extravagantes e uma ingenuidade causadora de problemas, ou seja o otário. Temos que saber quem são os verdadeiros gringos e o que é um gringo antes de, em nossa ignorância e falta de experiência, sair chamando qualquer um de gringo. Nos anos 70 eu subia a Rocinha, que era toda construída em casas de madeira, para ir em festas de aniversário, frequentei na mesma época rituais de Umbanda na Baixada Fluminense, nos anos 80 passei algumas noites acordado em um bar chamado Suvaco de Cobra, em Vila Isabel, estive diversas vezes em nosso Maracanã, muito antes do mesmo se tornar ponto turístico, inclusive na final do Brasileiro de 1980 quando nosso Mengão foi campeão em cima do Atlético Mineiro, com gols de Zico e Nunes.
Bom, eu poderia seguir bem mais adiante, mas minha intenção não é me gabar ou entediar nossos caros leitores.
Mas para finalizar vamos refletir um pouco; Quem mal sabe se localizar no Rio de Janeiro, jamais pegou um trem na Central, soltou pipa em Engenho de Dentro, andou de Skate nos anos 70 nas Pistas de Campo Grande e Jacarepaguá, comeu um bife à Oswaldo Aranha no Café Lamas, ou frequentou a casa de nossa Renata Deschamps, ainda nos anos 70, aqui em Búzios, pode chamar os outros de gringo? Pode isso Arnaldo?