Fora os desafios diários, eles acreditam na educação para formação cidadã
A profissão que dá origem a todas as outras profissões tem o dia 15 de outubro como data comemorativa: o Dia do Professor. Em meio aos desafios vivenciados com desvalorização profissional e condições precárias de trabalho, a Prensa resgatou histórias de professores que amam o que fazem e encontram na profissão uma forma de contribuir para uma sociedade humanitária com foco na formação cidadã.
As primeiras histórias são de uma professora de Cabo Frio, Cleide Guimarães. Na bagagem carrega mais de 20 anos de sala de aula com ensino voltado para educação infantil e ensino fundamental. Nesse segmento as professoras dão aulas para diversas disciplinas, entre elas a tão temida matemática.
Cleide trabalhava em uma escola pública, sempre com turmas de 4º e 5º ano. Nesse período eu tinha uma aluna que tinha pavor de matemática. A professora conta que só de ouvir as palavras “Aula de Matemática”, a menina ficava desesperada. Foi então que ela percebeu e começou a mostrar para turma que a disciplina não era nenhum bicho papão, e que fazia parte todos os dias de nossas vidas.
“Comecei a explicar a matemática levando para eles situações que eles viviam. Era uma comunidade mais humilde, então, muitos alunos trabalhavam meio período para ajudar nas despesas da casa. Com o ensino voltado para a realidade dela, o olhar para matemática foi mudado e ela começou a ver de forma diferente, ter um pouco mais de conhecimento e em aprender como a matemática a ajudaria. Passado um tempo (bastante tempo, risos), fui a uma festa e encontrei essa aluna. Ela me perguntou se eu a reconhecia. Fiquei olhando, porque passa pelas nossas vidas muitas crianças e às vezes o rosto conseguimos lembrar, mas o nome…Ela então me apresentou ao namorado e falou com ele assim: “Ela foi a professora que me ensinou a gostar de matemática e é, por isso, que estou fazendo faculdade de matemática”, relatou a professora que ficou sem reação e feliz ao mesmo tempo.
Ainda de acordo com ela, “a recompensa, quando olhamos um (a) aluno (a) e vermos que conseguimos semear um pouquinho do que sabemos e mostrar que estamos sempre torcendo pelo sucesso deles”, disse Cleide.
Uma outra história lembrada pela professora é a de uma menina maravilhosa em todas as disciplinas, menos em matemática. Segundo Cleide, a menina simplesmente fica atordoada, desesperada quando tem alguma atividade de divisão. Com a pandemia ficou muito complicado trabalhar qualquer atividade online, principalmente a matemática.
“E eu sou aquele tipo de professora que chama o aluno na minha mesa para tirar as dúvidas e isso com os alunos em casa fica difícil. Depois das férias, ela voltou para a escola e falava sempre para mim: ‘tia, eu gosto de você, mas, da sua matéria não’. Lá fui eu novamente usar meus métodos meio loucos para tentar conseguir mudar a cabecinha dela. Depois de mostrar tudo, explicar várias vezes, ela finalmente conseguiu entender o processo da divisão. Quando passei uma atividade e ela conseguiu realizar, ela chorou muito e eu junto”, contou a professora dizendo ainda que fez uma festa turma com todos aplaudindo a menina.
“Às vezes, a criança só precisa de algumas palavras de incentivo como: você consegue, você é inteligente, você é capaz, eu acredito em você, palavras desse tipo. E, hoje, para ela cada dia de aula de matemática é um momento de superação. Eu amo o que faço, amo meus filhotes, fico preocupada com eles, sou um pouco de tudo, mãe, tia, professora, pediatra, psicóloga e acima de tudo tento ser a amiga deles. Não quero que eles me vejam como a professora de matemática e sim uma amiga sempre”, finaliza a pedagoga que atualmente dá aula em uma escola particular.
Outra professora que ama a profissão e tem lembrança de boas histórias é a Bianca Brígido. A professora de Geografia iniciou na profissão tem 21 anos, começou a lecionar ainda no pré-vestibular popular enquanto estava na faculdade. Atualmente, trabalho no Colégio Estadual João de Oliveira Botas e Escola Municipal Nicomedes Theotônio Vieira, ambos em Búzios. Mas antes de chegar ao balneário ela passou por diversas cidades do Estado do Rio, como Niterói, São Gonçalo e Cabo Frio, e também no Estado de Minas Gerais.
“Em Minas Gerais foi minha maior e grande experiência. Lá eu esperava uma escola mais tranquila, alunos mais dedicados, mas o que eu encontrei foram alunos agitados. A escola era um ponto de encontro para muitos. Eu não tinha tanta experiência, pois dava mais aulas para adultos no início. Mas lá me envolvi em um projeto chamado Programa de Afetividade e Sexualidade. Eram várias oficinas e muitos alunos saíram dali protagonizando alguma história de vida. Dali saíram alunos de engenharia, pedagogia… que hoje em dia são grandes profissionais”, contou a professora.
Bianca também deu aula na Faculdade de Formação de Professores – FFP (UERJ), em São Gonçalo, e com a prática de ensino ficou muito amiga de uma aluna. Recentemente ela a reencontrou em um processo seletivo e agora são amigas de profissão, inclusive da mesma disciplina de geografia.
“Muitos dos meus alunos hoje grandes profissionais, tenho aluna que é referência como doutora em matemática, professor de educação física que dá aula na própria escola que estudou e também uma aluna que se formou em urbanismo. São muitas lembranças. Eu amo o que faço”, finalizou Bianca.