É conhecido o caso em que Paulo Coelho é acusado de plágio pela psicóloga e colunista colombiana Gloria Hurtado. A psicóloga acusa o “mago” de ter usado parágrafos inteiros de uma crônica escrita por ela, a partir de uma experiência que teve com uma de suas pacientes, publicada no jornal El País, em 2005. Mas outra acusação de plágio, que não ganhou, até agora, o mesmo destaque nas mídias é a descrita pelo brasileiro Edson Marques, filósofo e poeta.
Trata-se do poema intitulado “Mude”, que teria sido escrito por Edson na década de 1990, à época do lançamento de seu primeiro livro, Manual da Separação, e foi registrado por ele na Biblioteca Nacional em 2003 e em 2006 publicado pela editora Pandabooks, com o prefácio de Antonio Abujamra, que, segundo o autor, está sendo desde então plagiado, com alterações, por Paulo Coelho. “Ele (Paulo Coelho) tem publicado esse meu poema com o título alterado para ‘Mudança’ e com muitas e desautorizadas modificações no texto. Eu não autorizei ninguém, incluindo Paulo Coelho, a mexer no meu poema ‘Mude’”, vem afirmando desde 2003, quando Paulo teria começado a postar no Twitter trechos em inglês do poema sem a citação da fonte, o que teria ocasionado que assim passasse a ser atribuído a ele na internet. Em uma postagem em português, Coelho teria postado a frase: “Mude. Mas com calma, porque a meta é mais importante que a velocidade”. A frase original seria: “Mude. Mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade”.
Edson conta que a principiou respondeu, de forma bem humorada, no próprio Twitter, ao autor de O Alquimista pedindo que citasse o nome do autor da frase, mas Paulo Coelho o teria ignorado. A insistência de Edson não se dá apenas pela postagem de trechos de seu poema nas redes sociais. Paulo Coelho teria passado então a publicar o “Mude” alterado em colunas de jornais em todo o mundo (encontrei ao menos um registro no Clarín, da Argentina) informando que se trata de um texto “anônimo” mesmo, segundo Edson, já tendo sido informado do nome do verdadeiro autor.
“No Facebook e no Twitter, ele simplesmente assina, como se a frase fosse dele. Nos demais casos (blogs, jornais e revistas) ele publica o poema todo, alterado sem minha autorização, e embora não cite o autor diz ‘ter esperanças de encontrar o verdadeiro autor’. Já lhe mandei e-mails desde 2004, mas ele e sua equipe não se mostram muito preocupados em fazer a devidas alterações.”
“Basta dar um google”
Edson passou a insistir mais na questão quando, no início de 2013, Paulo Coelho teria colocado como foto de capa de seu perfil no Twitter a tal frase, segundo Edson, alterada e sem os devidos créditos. Edson afirma que já tentou várias vezes fazer contato com o escritor por meio de sua assessoria: “Desde os primeiros e-mails trocados com Paulo Coelho e sua secretária nenhuma providência foi tomada, exceto um twitter que nem vi, sem destaque. No próprio blog dele continua sem citar-me em várias línguas. Paulo Coelho só parou de publicar esse texto depois que eu disse que iria à Justiça. Mas ainda não fui”.
Um ano após o primeiro contato com a secretária de Coelho, Edson afirma ter trocado e-mails com o advogado do escritor. “Também nada resolveu. Ele (o advogado) só queria uma declaração minha de que ‘estava satisfeito’ com as explicações do Paulo e insistiu que repassasse a eles meu endereço. Claro que não dei: não estou satisfeito com tal plágio, especialmente no Facebook, com dezenas de milhares de visualizações, todas lendo que a frase ‘Change. but start slowly because direction is more important than speed’ é de Paulo Coelho. Basta dar um google”, lamenta.
A força do poema
Edson ainda não acionou judicialmente Paulo Coelho. Somente lhe encaminhou uma notificação extrajudicial onde pede que reconheça o plágio. Conta que sempre defendeu o autor de As Valquírias, mas, no entanto, conclui: “Acho que esse pessoal só entende a linguagem do dinheiro: se eu não acioná-lo judicialmente, ele se manterá calado”.
Eu (Victor)enviei um e-mail à secretária de Paulo Coelho mas até a conclusão deste texto não recebi resposta.
Não é a primeira vez que o poema “Mude” é alvo de disputa autoral. Antes de Paulo Coelho, já houve outro embate em torno da autoria deste poema, esse com ações judiciais, envolvendo Edson e os herdeiros da escritora Clarice Lispector. A questão nasceu a partir do comercial realizado pela Fiat, com dois minutos de duração, veiculado em âmbito nacional pela Rede Globo e SBT, onde a autoria era atribuída à Clarice. Daí começou uma longa disputa judicial entre Edson Marquez e os herdeiros de Lispector, que dura até hoje. “Como sou escritor, tem gente que pensa que estou inventando essa história mirabolante, só pra vender livro. Mas, não: tudo está devidamente documentado”, afirma e relata que o poema segue sendo divulgado cada vez mais, segundo ele, erroneamente atribuído a Clarice: “Ana Maria Braga publicou duas vezes como sendo de Clarice e se recusa a acreditar que sou o autor. Sequer me atende. Juca de Oliveira publicou no programa dele na Band e, da mesma forma, tem certeza que é da Clarice (risos)! A revista Caras publicou como sendo de Clarice (num livro sobre Fen Shui) e também não se retrata. E assim por diante. Já não ligo mais para casos assim”.
Em entrevista ao programa Provocações, apresentado por Antonio Abujamra, na TV Cultura de São Paulo, Edson ofereceu 10 mil dólares aos herdeiros de Clarice, e a quem mais quiser, caso apresentem provas de que o poema foi escrito pela autora de Em Busca do Coração Selvagem e Água Viva, entre outros. Anteriormente já teria feito a mesma proposta em um anúncio de jornal.
Na internet, o mesmo poema é atribuído não somente a Paulo Coelho e a Clarice Lispector como também a Cecília Meirelles.
Pedro Bial,que em 2003, após contrato de licenciamento feito por Edson com a Sony Music, gravou o poema. O “Mude” foi gravado pelo jornalista (também apresentador do BBB da Globo), que também é poeta, no CD Filtro Solar. No teatro, foi interpretado pelo ator, diretor, escritor e apresentador de TV Antonio Abujamra, durante meses, na peça Mephistópheles.
Matéria publicada originalmente em Observatório da Imprensa em 2014