Simone Weil foi uma das maiores figuras humanas que passaram por este planeta. Ela teve a sua biografia narrada de forma brilhante por Maria Clara Blingermer.
Filha de uma rica família judia, nasceu em Paris em 1909. Com cinco anos de idade, Simone Weil recusava-se a comer doces e balas para mandar a mesada para um soldado da qual era “afilhada” e que estava nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
Desde muito cedo em sua vida ela espantou-se com a desigualdade de riquezas no mundo. Aproximou-se do marxismo para tentar entender as razões da exploração do Homem pelo Homem, mas logo viu que o determinismo econômico pregado por ele não bastava. Era preciso adicionar algo ao marxismo.
Para melhor entender a vida dos operários, Simone teve a necessidade de sentir na própria carne a exploração sofrida por eles no alvorecer do capitalismo fordista. Empregou-se em uma fábrica mesmo sem precisar, e ali trabalhava dia e noite em pesadas tarefas manuais. Recusava-se a ter uma alimentação diferenciada daquela que os operários tinham.
Ali, descobriu que, além do corpo, o capitalismo escravizava a alma, esmagava os pensamentos e aniquilava a riqueza da subjetividade humana. Não só o corpo, mas o espírito humano era tragado por esse sistema. Descobriu que o uso das forças física e psíquica eram componentes indispensáveis para explicar a exploração, e que o capitalismo destruía aquilo de mais belo que o ser humano podia ter: a visão poética diante da vida.
Simone também foi uma das primeiras a denunciar as barbaridades do regime soviético, chegando a influenciar o pensamento de Trostky. Foi a primeira a ver aquele regime como um capitalismo de Estado, onde a exploração dos trabalhadores era feita, agora, pelos funcionários do partido e não mais pela burguesia ou pela nobreza czarista. Aquele regime não era o socialismo humanista pregado por Marx
Negou seu judaísmo, não aceitando mais as barbaridades e a violência contida no Velho Testamento. Passou a considerar que os judeus eram um povo como outro qualquer e não o povo escolhido por Deus, como pregava a sua tradição familiar.
Aproximou-se de Jesus, mas não daquele Cristo pregado pelas igrejas, totalmente sobrenatural e desprovido de engajamento político, esse Jesus tão útil para as consciências das elites e para os interesses dos sacerdotes. Pelo contrário, adotou o universalismo de Jesus e passou a vê-lo como o primeiro e verdadeiro revolucionário da história humana, o paladino dos pobres e desvalidos do mundo. Descobriu o que lhe faltava: era necessário somar o amor de Jesus ao humanismo de Marx.
Certa vez, uma outra Simone, a de Beauvoir, encontrou-a chorando copiosamente sentada no chão de uma sala da Sourbonne. O motivo era a grande fome que assolava a China na época e que matava milhares de pessoas. A sensibilidade com a dor do outro não tinha fronteiras para ela.
Simone lutou com todas as suas forças para impedir o crescimento do nazismo na Alemanha. Participou da resistência ao Franquismo na Espanha e ali se desiludiu com os partidos oficiais de esquerda, divididos e traindo-se mutuamente em nome de suas ideologias. Na resistência ao General Franco, Simone recusava-se a ter uma ração diferenciada dos soldados e a usar vestes mais confortáveis que a protegessem do frio. Sua atitude levou ao enfraquecimento de seu corpo, o que acabou ocasionando sua morte.
Enquanto lia sua biografia, pensei cá com meus botões: por quê será que nosso mundo tem gente como Simone mas também gente tão perversa como as que vemos no mundo atual, capazes de fazer qualquer coisa com seu semelhante, dominadas por um profundo egoísmo e com uma dificuldade imensa de se sensibilizar com a dor do próximo ?
A vida de Simone foi um grande exemplo para todos nós, pois ela venceu a pobreza de seu próprio ego e ignorou os luxos que a vida material poderia trazer para dedicar-se a causas coletivas e nobres da humanidade. Indiferença era palavra desconhecida para ela.
Simone Weil foi uma grande mulher e deveria servir de exemplo para as meninas de nosso tempo. Infelizmente, ela é muito pouco conhecida e sua luta é muito pouco divulgada. Não interessa para o sistema que Simone Weil se torne um ícone.