Pouco espaço físico impossibilita o isolamento e distanciamento social
O isolamento e o distanciamento social são fundamentais para combater o novo coronavírus, de acordo as organizações de saúde nacional e internacional. Adotar esses procedimentos na área central das cidades é mais acessível que nas periferias, onde famílias inteiras dividem a casa, e algumas em condições precárias de moradia. Em Macaé, a realidade de algumas comunidades foge da curva do bom senso e se agravam com o descuido do poder público. A prensa conversou com alguns moradores que descreveram a vida em comunidade nesse período de pandemia.
Um morador das Malvinas, que não quis se identificar, explicou que a vida no local segue normalmente como se não houvesse nenhuma recomendação para se precaver da Covid-19. “A vida na comunidade onde eu moro está sendo da seguinte forma: Não há conscientização de modo geral, as pessoas continuam nas ruas, o comércio todo aberto como se não houvesse nenhuma pandemia acontecendo no mundo. Mas, aparentemente, há uma quantidade menor de idosos nas ruas. Consegui observar também que há famílias que são trabalhadores informais e estão necessitando de alimentação”.
Outra moradora do mesmo bairro, que pediu para não ter a identidade revelada, com medo de represália por ser área de conflito, confirmou a situação. “Muito poucas pessoas estão levando a sério a gravidade dessa doença. Existem idosos sim sendo bem cuidado e fazendo o isolamento, assim como pessoas do grupo de risco, mas outros veem como briga política e não sabem a quem obedecer”, comentou ela se referindo as divergências de pensamento entre o presidente Jair Bolsonaro, ministros, governadores e prefeitos.
Essa moradora ainda destaca a falta de estrutura das famílias. “Existem muitas pessoas aglomeradas numa mesma casa, algumas ainda morando em barracos de madeira, sem acesso a um serviço eficiente de saneamento básico e coleta de lixo. Vemos esgoto a céu aberto, lixos pelos cantos das ruas, uma situação muito delicada que precisa de uma intervenção do município na pandemia e fora dela para redução até nos gastos da saúde”, pontou.
Além das péssimas condições de moradia, os moradores ainda convivem com acesso à saúde básica prejudicada. Ainda de acordo com a moradora, a unidades de Estratégia Saúde da Família B está fechada desde novembro devido à estrutura comprometida. Com isso os serviços, se concentraram nos outros postos A e C, mas não comportam o número de atendimento.
Macaé tem 12.176 pessoas na linha de extrema pobreza
Segundo dados de 2019 do Ministério do Desenvolvimento Social, Macaé tem 12.176 pessoas na linha de extrema pobreza. O levantando foi feito com base no número de pessoas cadastradas no Cadastro Único do Governo Federal. As periferias possuem uma série de vulnerabilidades propícias ao contágio do movo coronavírus, principalmente pelos serviços precários. Para historiador, Paulo Roberto Araújo, a crise gerada por essa epidemia revelou uma realidade que pouco é falada.
“Todos já sabem que as comunidades são carentes de equipamentos urbanos. Há décadas que todo mundo sabe que o posto de saúde não tem todos os remédios para os doentes crônicos, que o saneamento básico é menor do que em outros bairros. Isso todo mundo já sabe há muitos e muitos anos. Mas, o que pouca gente quer reconhecer é que uma crise sanitária dessas é enfrentada também com uma ligação entre a comunidade mobilizada e organizada e o apoio do Poder Público”
Ainda segundo o professor, “para isso é necessário que as instituições públicas tenham um contato constante e eficiente, junto a essas comunidades. Em termos concretos é mais difícil manter o isolamento social na Rocinha do que em Ipanema. Mas, as comunidades têm uma enorme capacidade de mobilização, e isso não é explorado”.
A Prensa entrou em contato com a Prefeitura de Macaé para obter respostas sobre os questionamentos acima, mas até a publicação da matéria não havia tido resposta.