Sistema desenvolvido em Maricá servirá de modelo para projeto de moeda social em Macaé.
O Real não é a única moeda em circulação no Brasil. Além dele, segundo a Rede Brasileira de Bancos Comunitários, há no país pelo menos 103 moedas sociais, que também são conhecidas como complementares.
As denominadas ‘moedas sociais’ não substituem o Real, mas fazem o dinheiro circular dentro de uma comunidade ou cidade específica. Ou seja, a riqueza gerada em uma comunidade é obrigatoriamente reinvestida localmente.
E, ao contrário dos bancos tradicionais, o objetivo de um banco comunitário não é gerar lucro, e sim desenvolver a comunidade, organizando e estimulando a economia local. Atualmente existem 115 bancos sociais voltados para o estímulo econômico de localidades espalhadas por 22 estados brasileiros.
No Brasil, o primeiro caso conhecido da criação de uma moeda social é a Palma. Ela foi a primeira moeda social, criada pela própria comunidade do Conjunto Palmeiras, localizado no sul de Fortaleza, Ceará, em 1998. O objetivo era o desenvolvimento local, já que os moradores viam-se fazendo praticamente todas as compras fora do bairro, de forma que o dinheiro não se mantinha lá, nem era revertido em prol dos moradores.
No Rio, também existe um exemplo de moeda que circula dentro da comunidade da Cidade de Deus. Denominada de CDD, o ‘dinheiro’ é aceito em praticamente todos os estabelecimentos comerciais do local, inclusive sendo aceito por microempreendedores individuais.
Iniciativa regional
A região da Costa do Sol, também possui um exemplo de moeda social bem aplicada aos interesses da população do município. Em Maricá, foi criada a iniciativa que ganhou a denominação de ‘Mumbuca’, em homenagem ao nome do rio que corta vários bairros da cidade.
A moeda foi criada em 2013, no governo de Fabiano Horta e com a idealização de Igor Sardinha, ex-Secretário de Desenvolvimento Econômico de Maricá e pré-candidato a prefeitura de Macaé.
Ela inicialmente surgiu para o pagamento de um benefício de renda mínima pela prefeitura de Maricá. Porém, na pandemia o projeto se expandiu, e o auxílio para 23 mil desses moradores foi ampliado para 1.045 mumbucas (equivalentes a um salário mínimo), o que ajudou a socorrer quem ficou sem trabalhar na crise e foi uma medida econômica importante.
O comércio e micro, pequenas e médias empresas, além dos microempreendedores, também foram beneficiadas por conta da circulação monetária, reduzindo as demissões durante o período.
Em Maricá, a capilaridade da mumbuca é maior que a do cartão de crédito. São 43 mil beneficiários da renda mínima municipal e outras 19 mil pessoas usando o banco social, que tem migrado sua operação para o meio digital. Ao contrário do cartão de crédito, no aplicativo do banco o comerciante recebe em mumbucas na hora e pode trocar por reais quando quiser. A taxa para cada estabelecimento é de apenas 2%, que são usados pelo banco em programas de crédito produtivo ou para a reforma de residências, sem a cobrança de juros.
Inspiração e solução econômica
O ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Igor Sardinha, quer se inspirar no exemplo de sucesso da moeda de Maricá para criar em Macaé um projeto semelhante. Igor, que também é pré-candidato à prefeitura de Macaé está levando a discussão junto à população.
Em Macaé, 31,5% da população vive com até meio salário mínimo, enquanto a média salarial da cidade está entre as maiores do país, 6,4 salários mínimos, o que mostra a desigualdade social e econômica na cidade. Junto a isso, a cidade também sofreu com a perda de 20.586 vagas de trabalho nos primeiros 5 meses do ano, por conta da pandemia do novo coronavírus.
Diante dos dados, sardinha acredita que a aplicação de uma moeda social na cidade seria bem vinda e necessária para reduzir a desigualdade social e aquecer a economia combalida da cidade, além de proporcionar uma renda básica a pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica.