Sempre falei que em Búzios não temos empresários. No máximo, comerciantes. Sem nenhum traço de ofensa aqui, por favor. O que quero dizer é que são coisas diferentes e que, a diferença entre ambos não é apenas uma questão de semântica ou do valor de seus investimentos. Comerciante em geral pensa apenas e tão somente na venda do dia-a-dia, se pode vender o almoço para pagar o jantar. Empresário pensa mais a longo prazo. Tem tempo determinado para retorno de investimentos, entende as variações do mercado, sabe que às vezes é preciso gastar um pouco para fortalecer a marca e assim por diante. Comerciante pensa apenas na venda diária e só.
Se chove um dia o mundo acaba. Se a cidade recebe um evento como um Festival de cinema, por exemplo, já imagina com isso (mesmo que em nada colabore para a realização do evento) pagar todas as dívidas atrasadas e se possível, juntar uma graninha para os dias de poucas vendas que seguirão até o próximo feriado ou outro evento qualquer.
Por isso não me surpreendi quando fiquei sabendo da decisão dos comerciantes do Porto da Barra de não participarem este ano do já tradicional Festival Gastronômico de Búzios. De verdade, o Festival pouco precisava do Porto da Barra, se encontra consolidado nas principais ruas do Centro da Cidade. Já o Porto da Barra com sua excelência gastronômica só teve a ganhar com a participação nos últimos festivais. Ao que parece acharam a participação deste ano cara, e de retorno econômico improvável. O que me espanta é que tem gente que ainda não entendeu o proposito e a importância do Festival. Ele não foi criado para se ganhar dinheiro. Ocorre para que os restaurantes possam mostrar a nobreza gastronômica da cidade. O potencial dos chefs aqui instalados. Os sabores da cidade mais cosmopolita do litoral brasileiro.
O Festival Gastronômico funciona como um desfile de moda. Ninguém imagina que os estilistas vão vender aquelas roupas espalhafatosas que as modelos exibem nas passarelas. Um desfile de moda serve para mostrar a criatividade da grife. Mesma coisa um festival de gastronomia. Não se concebe um evento para se perder dinheiro, é claro. Mas o objetivo não é ganhar no dia, com as vendas feitas durante os dois finais de semana do Festival. Como já foi dito acima, o evento é uma espécie de propaganda da casa. Decerto a atual crise pode ter influenciado a decisão dos comerciantes do Porto da Barra. È compreensível. O que não é compreensível é logo agora que o Festival está se consolidando cada vez mais e que o Porto da Barra precisa de divulgação os donos de restaurantes fiquem de fora de um evento que irá atrair 30 mil pessoas em dois finais de semana.
Não sei se a decisão foi unanime ou se partiu da administração do empreendimento. O que sei que será uma baixa lamentável, pois o Porto da Barra tem seu charme e já virou referência quando se fala de gastronomia em Búzios. Ficar de fora do Festival é pensar a curto prazo, afinal o investimento inicial é baixo( o mesmo que um barraqueiro paga por três dias no Encontro de Motoqueiros que acontece todos os anos em Búzios) e as vendas por mais baixas que fossem, cobririam esses gastos.
Mas quando uns se mostram míopes,outros enxergam longe. os restaurantes do Shopping Aldeia da Praia, também em Manguinhos, vão participar do Festival pela primeira vez, e estão entendendo que é antes de qualquer coisa é um investimento.
Nota da redação: Nesta manhã recebemos a informação de um dos restaurantes do Porto da Barra participará: O Belli Belli, que estará na Rua das Pedras.
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