Foi 2015, depois de um dia longo de trabalho, que vistei um amigo que voltava de uma viagem ao Japão. Para mim, alguém ir ao Japão já é uma coisa incrível, a observando que ma viagem de 1h45 até Porto Alegre (o mais longe que fui) é uma tortura. Ser lembrada e receber um regalo foi especial.
O gatinho japonês ficou desde então sobre a minha mesa, acompanhando minhas decisões ao longo daquele ano e os que viriam em sequência. Os meus filhos adoram pega-lo vez em quando nas mãos e acham aquela mãozinha levantada uma atração a parte.
Um dia, sem querer quebraram ele ao meio, fiquei triste. Foi fácil colar, mas não sem antes colocar um peso (a moeda argentina) no seu interior – um pedido extravagante como muitos que o Daniel, meu filho do meio faz. E desde então ele faz um som quando a gente sacode, bem particular.
E assim, ele está aqui, me olhando enquanto escrevo. Senti vontade de bater uma foto e colocar no instagram, não sem antes dar uma pesquisada na internet sobre seus conhecidos ‘poderes mágicos’ especializados em trazer fortuna. Em uma rápida pesquisa descobri que chamam esse gatinho de mão levantada de Maneki Neko e é um símbolo notável de sorte ou fortuna na cultura nipônica.
O Maneki Neko costuma usar uma coleira vermelha com um sino e pode ser de diversas cores, cada uma com um significado: branco (pureza), preto (saúde e espantar maus espíritos), vermelho (proteção, espantar maus espíritos e saúde), dourado (riqueza), rosa (amor), roxo (força artística) e verde (força nos estudos). O meu tem a coleira dourada, quem me presenteou sabia que eu precisaria muito desse bom agouro, não é mesmo?
A história mais contada sobre a lenda do gatinho é do Templo Goutokuji. O local, pobre e sem recursos abrigava uma gata chamada Tama que apesar da pobreza era alimentada pelos monges do templo diariamente. Certa feita um samurai se abrigando da chuva embaixo de uma árvore olhou para o templo e viu a bichana com a pata levantada como se o convidasse a entrar. Tão logo o samurai deixou a árvore, um raio a partiu ao meio. O samurai, aliviado entrou no templo apenas para constatar a pobreza em que viviam. Compadecido doou todo o dinheiro que carregava consigo ao templo, que passou a receber mais e mais visitantes e se manteve próspero com a história que se contava da gatinha que salvara o samurai.
Essa é um história linda de como os animais influenciam o ambiente onde vivem. Ainda que possa ser apenas mais uma lenda, coloca o gato como um ser bondoso, muito diferente do que vemos em histórias de bruxas, e nas lendas populares que transformam o gato em um ser sombrio e vindo das trevas. Meu coração hoje está feliz, por ter recordado essa parte da minha vida e ainda, por descobrir significados, que é uma parte da minha personalidade.
A vida é feita de pequenas lembranças, detalhes, sensações e significados. Nunca mais vou olhar para esse gatinho plantado no pé do meu monitor da mesma forma. Se ele me traz prosperidade ou não, não importa, o que importa são as lembranças de como ele chegou aqui, e agora deste dia.
Vou me despedindo por aqui, saindo correndo para contar aos meninos mais uma história que eles vão repetir certamente durantes dias por aqui. Somos assim. Fazemos memória de tudo. E sobre fazer memória, esse, é um outro texto.