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Mês da Consciência Negra na Região dos Lagos

Artistas da região comentam sobre a importância de evidenciar a data nos dias de hoje
Anna Clara e Fábio Emecê são moradores de Cabo Frio - Prensa de Babel

Novembro é o mês da Consciência Negra, e o dia 20 deste mês é estabelecido o dia oficial da conscientização sobre a negritude no Brasil. Ínstituído pela lei nº. 12.519 de 10 de novembro de 2011. É uma data importante para valorizar e reafirmar o povo negro, além de combater o racismo e outros tipos de preconceito. Para dar mais ênfase a essa luta o mês passou a ser chamado de “Novembro Negro”.

Fabio Batista, o Fábio Emecê, professor de Língua Portuguesa, Mc, produtor cultural musical e ativista antirracista a 22 anos em Cabo Frio, comenta sobre a importância do Novembro Negro: “Nesses nossos tempos é mais um entendimento de que estamos numa sociedade racista e classista, uma sociedade que ainda precisa aprender a entender a influência do povo preto na sua construção e constituição”. Ele afirma que entender que essa historicidade, aliada ao desmantelamento da branquitude, é a proposta do Novembro Negro.

O papel do negro na Região dos Lagos

Fábio esclarece que a história do povo negro na Região dos Lagos é contada de forma superficial e em muitos contextos é até invisível. “Temos um número significativo de quilombos, temos uma série de construções, atividades e produção de conhecimento feita por gente preta que é relegada a segundo, terceiro plano”, diz.

Ele destaca ainda sobre a superficialidade de como as causas são tratadas. “Novembro que seria um mês de evidência dessas pessoas, dessas atividades, dessas produções virou algo protocolar e sem profundidade, mais por força de lei, do que outra coisa. Além da importância, tem que ter constância, profundidade. Tem que se refletir sobre o racismo estrutural regional e seus tentáculos, principalmente o racismo institucional”, destaca.

“A história do povo preto da Região dos Lagos ainda tá longe de ser evidenciada como deveria, nem a do passado, nem contemporânea. Não há celebração, há alerta, há cuidado e há ao menos um esforço, de quem é ativista, pelo menos, de não esquecer que precisamos ser evidenciados”, finaliza.

Visibilidade

Anna Clara Laurindo, 22 anos, nascida e criada na cidade de Cabo Frio, é atriz e estudante de jornalismo. ‘Falando da sociedade brasileira, que muita gente nem acredita que exista racismo no Brasil, por exemplo, ter um mês de lembrar as lutas do povo preto, de lembrar quem foi zumbi, lembrar todas as histórias de evolução, apropriação, luta e conquista, é muito importante”, esclarece.

Laurindo afirma que o Novembro Negro é um mês muito importante para a sociedade lembrar que as pessoas negras pertencem a um lugar, uma cultura e uma história. “Esse é um mês muito importante pra gente como sociedade, não enquanto negro ou branco, mas para a gente enquanto sociedade parar, pensar e analisar como que as coisas no Brasil estão andando”, destaca.

A jovem de Cabo Frio diz que a data é ainda mais importante para a Região dos Lagos. “A região é muito conservadora e, por ser muito conservadora, acaba esquecendo, excluindo uma série de outras vivências aqui na região. A atriz comenta ainda sobre os eventos culturais. “Por exemplo, só agora que eu percebo movimentações culturais que acolhem o povo negro. Tem o Baile Charme, a Batalha do Forte em Cabo Frio, mas antes disso o jovem na região era muito esquecido, principalmente o jovem negro. Não existe algo que chame a gente para um fortalecimento da nossa cultura”, finaliza.

Conheça a história por trás da data

Os gaúchos estiveram na vanguarda pela criação do dia 20 de novembro, mais precisamente no ano de 1971 em Porto Alegre quando um grupo de universitários negros criou o coletivo Palmares, estando entre os seus fundadores, o poeta gaúcho Oliveira Silveira, Vilmar Nunes, Ilmo da Silva e Antônio Carlos Côrtes, dentre outros.

Um dos objetivos iniciais era discutir a proibição de entrada de negros em clubes da capital, além de debater o racismo e a inserção de negros nos espaços de poder da sociedade.

Ao longo do tempo, diversos coletivos e movimentos sociais foram se articulando e a ideia de criar um dia para a consciência negra foi tomando força nacional, de modo a estabelecer o dia em que Zumbi dos palmares foi capturado e morto por ordem estatal da época no dia 20 de novembro de 1695. Após a sua morte, Zumbi foi decapitado e a sua cabeça foi exposta em praça pública em Recife.

Com os inúmeros casos de violência, discriminação, prejuízos no emprego e na renda, evasão escolar e desigualdade social, não só no Brasil, mas no mundo todo, torna-se ainda mais importante desenvolver debates acerca do tema. No Brasil, de acordo com o Atlas da Violência, os negros representam 75,7% das vítimas de homicídio, também são os maiores alvos da violência policial, de acordo com o PENUD.

Além disso, a Fundação Getúlio Vargas – FGV divulgou estudo que prevê o aumento do desemprego para os negros no ano de 2021, como também o IBGE divulgou dados onde os maiores afetados pela crise gerada pela pandemia foram os negros.

Assim, o dia 20 de novembro, como data nacional, é fundamental para revelar as desigualdades e a violência contra a população negra ainda presente na atualidade, mesmo passando 131 anos após a abolição da escravatura no Brasil, que por sinal, ainda causam sérias implicações nos dias de hoje. A data serve para trazer a tona, os erros do passado, pensar o presente e planejar o futuro a fim de construir um país civilizado, onde o povo é protagonista da sua própria história.

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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