“Filho de peixe, peixinho é”, afirma o dito popular, que nem sempre se confirma, mas parece que em alguns casos acaba se realizando. Filhos de políticos tem cada vez mais buscado seguir os passos dos pais, se por vocação política mesmo ou por desejo de manter uma oligarquia familiar em seus estados de origem já é outra história. O grande símbolo disso com certeza é a família Sarney no Maranhão. Mas o Rio de Janeiro também tem seus clãs políticos onde os filhotinhos de velhas raposas, algumas engaioladas, seguem firmes na defesa do espaço e força de suas famílias no próximo pleito eleitoral.
Mas lutar pelo espaço da família em seus estados de origem tem acontecido de uma forma intrigante no Rio: Os filhotinhos não estão querendo mostrar de qual espécie são. O já deputado federal Marco Cabral (MDB), segundo especulações, por exemplo, tenta evitar ao máximo o sobrenome da família. Em nota a assessoria do deputado afirma que Marco Antonio usará o sobrenome Cabral durante a campanha, mas isso só saberemos nas próximas semanas. Ele, que é filho do ex-governador Sergio Cabral (MDB), que atualmente está preso, ficou entre os mais votados em 2014 no estado, e em seguida assumiu a secretaria de esporte e lazer no governo do consorte de seu pai, Pezão. Lá ficou até janeiro de 2017, quando voltou à Câmara abandonando o governo do estado do Rio no momento em que ele afundava.
Mas se o filho de Marcelo Crivella (PRB), que tem pretensões políticas, e que tem o mesmo nome do pai e, ao menos por enquanto, ainda usa o sobrenome do atual prefeito do Rio, a filha de Eduardo Cunha (MDB) já decidiu que não vai se expor assim. Danielle escolheu ser apenas Danielle Dytz, e assim não receber para si a impopularidade nacional de papai, que também está preso.
Mas se Marco Antônio (Cabral) e Danielle Dyts (Cunha) fazem isso como forma de despistar a percepção de uma parcela menos atenta do eleitorado, e que é enorme, fazem também visando o fisiologismo dos cabos eleitorais profissionais em todos os municípios do interior do estado, que não se importam de apoiar e trabalhar pela continuação do “legado” familiar de peixinhos como Marcos e Danielle. Fazem vista grossa e sustentam a ideia de que estariam apoiando novos nomes, mesmo que sejam nomes que escondem sobrenomes. Ambos, Marco e Danielle, já estão visitando cidades da baixada fluminense e do interior do estado, tomando os tradicionais cafés com chamadas lideranças locais, que são, é claro, instruídas a não citarem seus sobrenomes famosos (Cabral e Cunha).
O pai de Marco Antônio, Sergio Cabral, foi deputado estadual por três mandatos, de 1991 a 2003, e senador de 2003 até 2006. Posteriormente, foi governador do Rio de Janeiro, com mandato de 1º de janeiro de 2007 até 3 de abril de 2014, quando renunciou ao cargo. Em 2016 foi preso na Operação Lava Jato e tornou-se réu por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, sendo alvo da Polícia Federal nas operações Calicute, Eficiência, Fatura Exposta, Mascate e Unfair Play. Atualmente encontra-se preso no pavilhão Bangu 8 do Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Cabral também teve passagens anteriores polêmicas na Cadeia Pública José Frederico Marques, no próprio Complexo de Gericinó e no Complexo Médico Penal (CMP), na Região Metropolitana de Curitiba. É acusado dentre os crimes por corrupção e lavagem de dinheiro e por chefiar uma organização criminosa em esquema de fraude de licitações.
O pai de Danielle, Eduardo Cunha, também tem um grande histórico a ser exposto: exerceu o cargo de deputado federal entre fevereiro de 2003 e setembro de 2016, quando teve o mandato cassado pelo plenário da Câmara dos Deputados. Foi presidente dessa Casa de 1º de fevereiro de 2015 até renunciar ao cargo em 7 de julho de 2016, para evitar perder os direitos políticos, o que não deu certo. Acusado de mentir na CPI da Petrobras, teve contra si aberto processo que resultou em sua cassação por quebra de decoro parlamentar, tornando-o inelegível até o final de 2026. Atualmente membro da igreja Assembleia de Deus, Ministério de Madureira, compôs a bancada evangélica. Danielle está de olho no voto evangélico também. Cunha, pai de Danielle, também está preso, condenado a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Danielle pode ser chamada de novata, é a primeira vez que concorre, vem, como já citado, atrás do espolio do pai, de olho, principalmente nos púlpitos das igrejas evangélicas que se comprometeram com Cunha e deram a ele a maior parte dos seus 232 mil e 7 votos em 2014. Quer seguir à risca o caminho do pai.
Já Marco, esse já busca superar o pai e escreve seu próprio caminho: Durante a sua campanha para deputado federal pelo Rio de Janeiro, Marco Antônio recebeu quase 7 milhões em doações, incluindo meio milhão da construtora Queiroz Galvão. Em 2015, essa mesma construtora teve mais de R$ 160 milhões congelados pela Justiça Federal devido a ligações com o esquema de lavagem de dinheiro da Petrobrás descoberto pela operação Lava Jato. Em agosto de 2017, Marco também votou a favor do presidente Michel Temer, no processo em que se pedia abertura de investigação, e que poderia lhe afastar da presidência da república. Vale lembrar que em 2013, também foi acusado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de antecipar a propaganda eleitoral através das redes sociais, sendo obrigado a deletar sua conta do Facebook. Em 2014 foi multado em 10 mil reais pelo TRE-RJ por propaganda eleitoral antecipada.
Danielle e Marco não são os únicos filhos de políticos que querem seguir os passos dos pais: em Alagoas; o filho de Collor (PTL), Bahia o filho de Otto Alencar (PSD), Ceará o filho de Eunicio Oliveira (MDB), Paraná o filho de Beto Richa (PSDB), em Pernambuco o de Eduardo Campos (PSB). Mas no Rio há esse chamado “jeitinho carioca” de fazer uma coisa velha parecer nova.