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Em visita às obras da EM Maria Salvadora, representantes da Secretaria de Educação e do Gabinete do Prefeito de Cabo Frio garantem a abertura da unidade escolar para o ano letivo de 2020.  Moradores enumeram os problemas, reclamam do abandono, mas não deixam de reconhecer que “as coisas estão começando a mudar na Maria Joaquina”.

Acompanhando a festa de encerramento do ano letivo da Escola Municipal Professora Maria Salvadora Silva, no bairro da Maria Joaquina, em Cabo Frio, Gleiciane da Conceição resume em poucas palavras, anos de descaso, que marcam radicalmente a vida do morador.  

– Este bairro é rico, cheio de dinheiro, mas eles só investem em Cabo Frio. Aqui nada.

Falando como se Maria Joaquina não fosse parte da cidade de Cabo Frio, Gleiciane traduz o sentimento do morador do bairro, ao mesmo tempo em que aponta o grande desafio que a Prefeitura tem pela frente.

– Não temos educação nem saneamento básico. Esta escola vive em greve. Se eu encontrasse o prefeito pediria que olhasse em volta para ver como tudo aqui está abandonado.

O pequeno discurso da moradora nos mostra também uma grande revolta da comunidade. Pesquisando dados da Agência Nacional do Petróleo, a Associação dos Moradores da Maria Joaquina afirma que a orla do bairro gera em média um milhão e oitocentos mil reais de royalties de petróleo a cada mês, para o município (15% da arrecadação total). Mas, como diz Gleiciane, é só olhar em volta.

A apresentação de fim de ano da escola nos serve de exemplo. Espremidos em 10 metros quadrados de espaço, na única área comum que dispõem, os alunos da Educação Infantil estão começando a tomar conhecimento da dificuldade que cerca o estudante do bairro. Durante todo o ano letivo de 2019, eles ocuparam salas improvisadas nos fundos da EM Justiniano de Souza, aguardando a reforma do prédio de sua escola, a EM Prof Maria Salvadora Silva, que ainda não está pronta.

A moradora Gleiciane na escola improvisada, observa a apresentação dos alunos espremidos na pequena área externa

A proximidade geográfica com Búzios, que leva o morador da Maria Joaquina a recorrer à cidade vizinha, na busca principalmente por serviços públicos de Educação e Saúde, que não encontra no seu bairro, determina o deslocamento diário de dois mil estudantes entre as duas cidades e o aumento direto no número de atendimentos emergenciais e internações no sistema de saúde buziano. Com uma população aproximada de 15 mil habitantes, Maria Joaquina tem 10% de seus moradores cadastrados como usuários da rede básica de Saúde de Búzios.

A frente da Associação de Moradores, Flávio Campanha destaca que “ninguém pode adoecer na Maria Joaquina à noite, nos feriados e finais de semana. O único posto de saúde funciona em horário comercial, e não há ambulância”.

Prefeitura e Comunidade

Há cerca de um ano e meio no cargo (assumiu no dia 17 de julho 2018), o prefeito de Cabo Frio Adriano Moreno sempre reconheceu as dificuldades dos moradores, e no último dia 16 recebeu em seu gabinete uma comissão do bairro. Aberto ao diálogo desde o início de sua gestão, o prefeito já começou algumas ações que sinalizam disponibilidade em mudar a realidade. A entrega da escola Maria Salvadora em fevereiro de 2020, é no momento a meta principal.

Na manhã desta quinta-feira (19), representantes da Secretaria de Educação e do Gabinete do Prefeito conversaram com a Associação de Moradores e diretoria da escola, na obra da nova unidade escolar. O prédio de dois andares erguido inicialmente para ser uma igreja, foi reformado pela Prefeitura.

– Fizemos toda a parte interna do primeiro andar. Pegamos as paredes no tijolo. Fizemos um refeitório amplo, cozinha, despensa, cinco salas de aula, banheiro masculino e feminino com peças pequenas, do tamanho das crianças, e chuveiro. Agora temos que rever o telhado e a impermeabilização da laje porque está infiltrando água da chuva. Na área externa vamos aumentar o piso de concreto, fazer mais um pedaço, fazer calçada e instalar um parquinho. Todo o mobiliário das salas, carteiras, quadros, ventiladores etc, já está separado para montarmos aqui – explica Márcia Cabral, responsável por obras e infraestrutura da Secretaria de Educação. Ela acrescenta que os reparos finais serão feitos durante o mês de janeiro.

Acompanhando tudo de perto, a diretora Maria Célia de Souza não vê a hora de ocupar a nova sede. Ela conta que 200 alunos estudarão na unidade escolar em 2020, e torce para que nada atrase as obras, e a escola possa abrir as portas no dia 3 de fevereiro, conforme o calendário escolar.

Alguns pais de alunos como Luciano da Silva, aproveitaram a visita técnica para conhecer a nova escola e saber das benfeitorias que virão para o bairro. Morador há mais de dez anos, Luciano gostou de ver a infraestrutura adaptada para as crianças e aproveitou para pedir total atenção para a turma mais jovem. Ele sugeriu uma biblioteca “pra criança aprender a gostar de abrir um livro e ler até o fim”, explicou.

Flávio da Associação de Moradores destaca que a expectativa é positiva e muito favorável.

– Já participei de muita reunião que não deu em nada, mas desta vez a coisa está diferente. Começo a ver algumas ações acontecendo como fiscalização em loteamentos irregulares, a Consercaf já procurou a associação para saber onde precisamos de suporte, o retorno da obra da escola, tudo isso é muito positivo. Estamos dispostos a ajudar no que for necessário. Precisamos de dignidade.

Flávio anuncia que a ideia agora é batalhar para incluir na Lei Orgânica do Município, uma regra para destinar para o próprio bairro, 50% dos royalties arrecadados na orla da Maria Joaquina. Isso equivale a injetar 900 mil reais todo mês na comunidade.

Enquanto o sonho não se torna realidade, a Maria Joaquina vai comemorando suas vitórias suadas. Durante a visita à escola, a assessoria do prefeito conseguiu sanar mais um grave problema do bairro, e anunciou: logo após o Ano Novo, o posto de saúde passará a contar com a presença permanente de uma ambulância 24h. Muito ainda tem que acontecer para que o bairro, parte do Segundo Distrito de Cabo Frio, possa oferecer uma infraestrutura mínima ao morador, mas uma coisa é perceptível pela primeira vez em mais de vinte anos; as coisas estão começando a mudar na Maria Joaquina.

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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