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abelha-manganga

(Dá série crônicas pessoais) 

Por Victor Viana

O Mangangaba, que este dia descobri em um livro sobre o Clube da Esquina que em Minas também é conhecido como mangaba, parece um besouro pelo tamanho e pela cor, mas é veloz e zune como uma abelha. Explico isso como introdução ao fato de que o mangangaba foi (descobri que ainda é) o grande temor da minha vida.

Quando criança em Tamoios, 2ª distrito de Cabo frio, no início dos anos 90, eu devia ter uns 8 anos,  aquilo era uma vastidão de areia e restinga, e, como diria o poeta Manoel de Barros, também era lacuna de gente. Tínhamos um grande “pé de maracujá” no fundo do quintal, e as belíssimas flores desse fruto tropical atraíam borboletas, abelhas e o tal mangangaba.

Meu medo originou-se das histórias da minha mãe, que contava que uma picada desse bicho  geraria 24 horas de dor ininterruptas. Isso era repetido toda vez que um desses insetos (acho que são insetos) surgia, e surgiam aos montes todos os dias: voavam pelo quintal, entravam em casa como caças de guerra em voos rasantes sob nossas cabeças.

Eu os temia, mas passei a ir além do temor; passei a ter pânico só de escutar seus zumbidos ao longe. Porque minha mãe resolveu acrescentar à sentença das “24h de dor”  os “causos” sobre o “mangá” – como o meu irmão Leo, que tinha problemas na fala, resolveu chamar aquela criação do capeta (Deus não poderia ter feito um bicho tão terrível).

“Seu avô me contou que uma vez na mata, quando cortavam lenha, uma mangangaba *mordeu um homem e ele ardeu de febre por horas, delirava, e seus olhos saltaram da cara”, disse minha por toda a minha infância.

Eu já nem dormia temendo que os mangangabas voassem a noite (o que eles não fazem). Por anos temi um bicho que nunca vi “morder” ninguém.

Já com 17 ou 18 anos eu estava na casa de um amigo, já de volta à minha cidade natal – Cachoeiras de Macacu,  um mangangaba picou a mãe deste amigo, uma senhora com semblante sofrido pelas tantas dores que já tinha passado na vida. Ela, o marido, e seus filhos tinham sido dados como mortos cinco anos antes. Viviam no Pantanal Mato-grossense, e as histórias que contavam na nossa pequena Ribeira (bairro esquecido de tudo onde vivíamos) é que desta família, uma onça tinha comido um, um jacaré comido outro e os que restaram foram dizimados pela malária. Mas não, isso não era verdade, e eles um dia chegaram de volta a Cachoeiras. Contei isso pra que entendam o espanto deles – que passaram por tantos perigos nas selvas do norte do país, ao verem como me levantei desesperado ao ver a senhora ser “atacada” pelo inseto “mortal”. Todos riram.  Ainda assim fiquei ali incrédulo ante a  tranquilidade deles, aguardando a hora que a velha estrebucharia no chão, e seus olhos saltariam para fora da face como os de Arnold Schwarzenegger ao cair no solo sem oxigênio de marte em O Exterminador do Futuro.  O máximo que aconteceu foi a mãe desse amigo dizer com sua voz tremida: “Fulano, tô sentindo uma dor”. Compraram uma analgésico qualquer, um tylenol da vida– algo assim, e pronto. Acabou a dor. Imagino que tenha doído como uma picada de maribondo, ou de “formiga quente”, mas nada como as atrocidades que minha mãe me fez acreditar que o mangangaba fazia aos seres humanos.

Hoje tenho 35 anos, sou casado e pai de três meninos, e nesta idade alguns hábitos de minha origem agrícola estão vindo à tona, fiz uma horta, planto flores, árvores frutíferas no meu quintal. Plantei um “pé de maracujá” e ele cresceu bonito – dá gosto de ver, vibramos quando ele floresceu. Mas ando me esquivando e olhando desconfiado para os lados porque eles, os mangangabas, chegaram. Tento não incutir meus medos nos meus filhos, mas isso não posso deixar de alertar a eles: “Cuidado com o Mangangaba!”.  E eles agora contam a minha afilhada, que nem tem “pé de maracujá” em casa,  que uma mordida desse bicho causa 24 horas de dor! Ela treme de medo.

*Morder: Minha mãe ao usar “morder” no lugar de “picar” fez com  que eu imagina-se dentes terríveis no pequeno voador 

https://prensadebabel.com.br/index.php/2017/04/22/o-dia-em-que-vi-o-sol-cair-no-mar-de-barra-de-sao-joao-ou-os-sonhos-nao-envelhecem/

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Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

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