No dia 5 deste mês a Prefeitura de Macaé divulgou boletim diário com dados da COVID-19 informando variação para o agravamento do quadro e o retorno para o risco alto no município. Pouco tempo depois, o boletim foi retirado dos canais oficias e o prefeito chamou uma coletiva de imprensa para anunciar nova metodologia na apuração dos dados da doença no município.
Nas últimas semanas, a instabilidade do Governo na divulgação dos dados gerou grande desconfiança e colocou em dúvida a transparência na gestão Welberth. Isso, em meio a grande pressão para retomada de atividades escolares presenciais e outras atividades econômicas, ainda restritas com vistas a prevenir uma maior disseminação da doença.
O prefeito e sua secretária de saúde anunciaram mudanças na divulgação de dados sobre a COVID, que passa a ser semanal. Além disso, foi criada uma comissão para discutir a gravidade da doença. A comissão é formada por 15 pessoas, além da secretaria de saúde, para definir as alterações do grau de risco, as colorações que vemos no atual “covidímetro”. Nas explicações, o prefeito declarou o incômodo de ter que tomar decisões diariamente para fechar ou não atividades. E para não tomar decisões incômodas, surge uma comissão criada com critérios confusos, a bengala perfeita.
Também afirmou, por várias vezes, que tem um perfil mais “ligado ao desenvolvimento econômico”. Cabe ao cidadão buscar responder o que isso significa e suas implicações. Por um olhar, uma característica já fica clara. Não incomodar o empresariado com qualquer medida restritiva. Isso no contexto de uma pandemia sem precedentes. Imagine então quando a especulação imobiliária quiser áreas sensíveis ambientalmente.
Desde as primeiras medidas, há um ano, para restringir o contágio e evitar mais mortes por conta da pandemia da COVID-19, a informação e a transparência sempre foram indispensáveis. Em primeiro lugar, por ser uma necessária medida para controle da situação sanitária, e vigilância permanente. E segundo lugar, para ser um fator de convencimento, demonstrando à sociedade a gravidade da situação.
Macaé adotou essa estratégia, desde o início. Boletins diários com dados do quadro mais atualizado da situação de contaminação, internação, capacidade do sistema de saúde e, infelizmente, mortes. Ao longo de um ano, mudanças aconteceram. Critérios foram ajustados, layout mudou, dados foram inseridos.
O que estamos assistindo é a mudança de postura frente ao vírus, por conta dos grupos de interesse na relação política e pessoal do prefeito. Vidas estão em jogo! E estamos perdendo. Desde primeiro de janeiro, a média passou a mais de um óbito por dia (70 em 65 dias).
A informação e a publicação dos dados são fundamentais para convencer a população da gravidade e buscar que a sociedade seja aliada nesse combate. Enfrentar a pandemia, sem sombra de dúvidas, requer coragem e firmeza de posição. Fazer média, relativizar, tentar agradar “grupos parceiros” só vai agravar a situação e lotar hospitais. Jogar pra todos os lados acaba não agradando ninguém. Tomar decisão é topar consequências.
*Marcel Silvano é jornalista, ativista, natural de Macaé, foi vereador por dois mandatos neste município. Escreve opinião na Prensa