por Alberto Bloch
Levei diversos amigos que tem casa em Búzios há mais de 20 anos para conhecer a Lagoa de Geribá, e eles ficaram impressionados com o tamanho dela (à direita na foto abaixo) e com o fato de que nunca tinham visto essa lagoa apesar de circularem sempre por ali, da Praia de Geribá à
peixaria de Manguinhos, ou ao Porto da Barra.
Esse é o X do problema, porque uma lagoa que não participa da paisagem da cidade e não se torna uma área de lazer corre o risco de ser poluída, aterrada, e até desaparecer. A ideia de construir uma Unidade de Saúde na Praça do Farol, situada nas margens da lagoa, poderá ser a pá de cal que vai acabar com a visibilidade pública dessa lagoa. Quando a paisagem natural não é valorizada pelo poder público ela acaba sendo desconsiderada até pelos moradores que dão as costas para ela.
Temos hoje duas lagoas que fazem parte da paisagem buziana, a dos Ossos e a da Usina, contribuindo pra tornar esses lugares mais especiais. A lagoa de Geribá é muito maior do que essas, e a realização do projeto do Parque Lagoa de Geribá com ciclovia e caminho para pedestres de 2,0 Km de extensão e integrando Manguinhos e Geribá irá valorizar não só a vida
dos moradores como também a atividade turística nesses bairros.
É claro que é complicado reconhecer a falta de planejamento e mudar o lugar já escolhido para a obra, mas o que tem que ser considerado pelos que desenvolveram o projeto é que vai custar muito mais caro para a cidade e seus moradores dar prosseguimento à implantação da Unidade
de Saúde na Praça do Farol que é a entrada principal do Parque Lagoa de Geribá. Podemos mudar a construção da UBS para outro lugar, mas não podemos mudar a lagoa de lugar.
Então, esse é o Y do problema: Com o isolamento das diferentes secretarias que deveriam participar do planejamento da cidade cada uma enfoca apenas a sua especialidade e os gestores perdem a visão da cidade como um todo. Daí, quando decidiram sobre a localização da Unidade de Saúde desrespeitaram a Lei Orgânica Municipal que impede a construção
em praças, e ignoraram o imenso valor urbanístico desse ambiente natural que tem um papel fundamental para a biodiversidade e para a oferta de áreas públicas de lazer, atividades esportivas, recreacionais e educacionais.
E agora chegamos ao Z do problema: A forma de gestão que prevalece nas cidades brasileiras quando são tomadas decisões de planejamento e de investimentos públicos. Nesse caso da construção da Unidade de Saúde na beira da lagoa, os vereadores que querem prosseguir com esse gravíssimo erro de planejamento estão dispostos a modificar a Lei Orgânica Municipal, se utilizando de argumentos que não fazem sentido.
Para convencer alguns moradores locais disseram que as pessoas “endinheiradas” que moram perto da lagoa não querem a UBS no bairro porque elas não precisam se utilizar dos serviços públicos de saúde e que elas não se importam com as pessoas com menos recursos. A verdade é que esse conflito não existiu: a maioria absoluta dos que se manifestaram na audiência pública foram favoráveis à construção da UBS no bairro, mas em outra localização que não impedisse a realização do Parque Lagoa de Geribá, que irá valorizar a vida e a saúde de todos moradores do bairro, de todas as faixas de renda.
O objetivo desse artigo é chamar a atenção dos leitores desse jornal sobre a importância da participação da sociedade no processo de decisões sobre os investimentos a serem realizados nos espaços de uso público em Búzios, pensando sempre em uma evolução sustentável para todos os que nasceram ou escolheram morar aqui