Max Horkheimer foi um dos maiores filósofos alemães do século XX. Presidiu o Instituto de Pesquisa Social do Instituto de Frankfurt durante os anos 30 e foi um dos pioneiros no estudo da Indústria Cultural na chamada época do Capitalismo Tardio. Horkheimer constatou que até o início do século XX, os trabalhadores tinham muito pouco tempo para dedicarem-se a diversão e a cultura. Trabalhavam até 16 horas por dia, deixando o resto do tempo vago que tinham para as atividades meramente fisiológicas e familiares. A partir das mudanças técnico-industriais e das legislações trabalhistas que emergiram na Europa a partir de então, e que foram exportadas pelo resto do mundo ocidental, o tempo de trabalho recuou, sobrando tempo livre para cultura e diversão.
A partir daí, forma-se o que ele chama de Indústria Cultural, ou seja, os grandes meios de comunicação de massa e de entretenimento, que tinham por objetivos vender diversão e cultura para as multidões. Não vendê-las naturalmente, mas mantendo os trabalhadores sujeitos à lógica capitalista, aceitando esse sistema sem questiona-lo. Para isso, criaram, através do entretenimento, a ilusão da harmonia social e econômica, a naturalização da competitividade, do individualismo e da lógica da mercantilização e coisificação de todas as esferas da vida humana. O mecanismo de alienar através da cultura se fazia através da pasteurização das ofertas culturais, limitando-as àquelas que fossem administráveis e excluindo as que não eram convenientes ao sistema. A produção cultural de massa destinava-se a desenvolver o comportamento preguiçoso e descompromissado no consumidor cultural, desestimulando as inquietações e a reflexão ousada, atrofiando-lhe a imaginação, o que se refletiria em uma total falta de espírito crítico sobre aquilo que assistiam e consumiam em termos de diversão e cultura.
Mais de 70 anos se passaram dessa abordagem de Horkeiheimer (e depois de Adorno) e não consigo ver teoria que mais se adeqüe ao atual estado de coisas na indústria cultural brasileira. Vou me deter aqui somente nas rádios e nas TVs.
Dominada por grandes famílias e corporações, a indústria do lúdico em nosso país faz exatamente aquilo que Horkheimer dizia: aliena, entorpece, atomiza-se, cria o cidadão totalmente acrítico e bestializado que, na frente da telinha ou do rádio, consome sem questionar aquilo que lhe é imposto, assumindo valores passivos que são úteis ao sistema capitalista.
O quadro de alienação do telespectador ou do ouvinte que se formou no país durante os últimos 40 anos era também ideal às igrejas, que sempre apostaram no não questionamento de seus dogmas e na fé irracional. Daí a invasão de programas religiosos na TVs e nas rádios, o que não prejudica o sistema, mas de certa forma o renova e reproduz.
Nas novelas, nos BBBs, nos programas de auditórios, nos noticiários jornalísticos acríticos, nos programas religiosos, nos desenhos, nos programas humorísticos, na música imposta e nos programas de variedades os meios de comunicação de massa vão educando, de diversas maneiras, o povo brasileiro a servir de objeto passivo diante do quadro social, econômico e cultural artificial criado pelas elites.
Nesse contexto, que papel cabe a nós, educadores, que deveríamos nos pautar pela formação do espírito questionador e crítico nos alunos e filhos ? O de lutar de forma desigual contra essa força alienante, sem dúvida. Dentre outros autores, uso para isso Hebert Marcuse, outro filósofo da Escola de Frankfurt, que incentivou os grupos sociais a se recusarem a se tornar meros objetos diante do que lhes é imposto, e a criarem alternativas culturais e lúdicas próprias para suas necessidades enquanto seres humanos reflexivos. Dizer um NÃO a tudo que nos é imposto goela abaixo pela mídia é o primeiro passo para sairmos da condição de meros espectadores da vida e começarmos a ser agentes de nossa própria história e de nossa própria condição no mundo.