Integrantes da diretoria do Hospital Municipal da Mulher (HMM) participaram nesta quarta-feira (15), na condição de testemunhas, da oitiva promovida pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) formada pela Câmara Municipal de Cabo Frio.
Na ocasião, a diretora geral da unidade, Tânia Lydia Matosinhos; a diretora técnica, Cristina Vale Faria e a diretora administrativa, Simone Sant´Anna, responderam perguntas feitas pelos vereadores sobre a morte de bebês na unidade.
Novo protocolo de atendimento
Sobre o protocolo de atendimento adotado pela atual gestão, a diretora geral informou que o novo modelo visa ter um olhar atento às necessidades da paciente e bom senso no encaminhamento de cada caso. “A gestação é um período naturalmente conturbado, em que muitas vezes a paciente apresenta um quadro influenciado por medo ou outras questões que acabam interferindo no seu estado. Por isso, fazemos o que for necessário para tranquilizá-la e constatar o seu real estado de saúde. E, após todas as constatações, decidir se é caso de internação ou de alta médica”.
Alto índice de óbitos por infecções e sífilis
Ao ser questionada pelas conclusões da Comissão de Verificação de Óbitos, Dra. Tânia informou que houve um grande número de óbitos provenientes de sífilis, uma doença sexualmente transmissível, e de infecções graves.
“A situação epidemiológica do município nos preocupa. Cabo Frio e também os municípios vizinhos apresentam alto índice de casos de sífilis. Os números que apresentamos são encaminhados para a Saúde Coletiva, e as ações de Saúde acontecem a partir de lá”, explicou.
Ainda segundo ela, para tentar minimizar o problema, o Hospital está se reunindo com as unidades de ESF (Estratégia Saúde da Família), onde são feitos os acompanhamentos pré-natais e com o Departamento de Saúde Coletiva, que está realizando capacitação das equipes de enfermeiros, para que estejam aptos a realizar todos os exames necessários na primeira consulta e no primeiro trimestre de gestação. Outra iniciativa, junto com o Departamento de Vigilância Epidemiológica, é a realização de ações de conscientização, em consonância com a Secretaria de Estado, para que não só a mãe fique ciente dos riscos, mas também o pai.
Além da sífilis e das infecções graves, outros motivos identificados como causa dos óbitos foram: má formação congênita, circulares de cordão e ainda hábitos e condições de higiene desfavoráveis, entre outros.
Busca ativa para acompanhamento das pacientes
Apesar de todo o esforço da nova diretoria para oferecer um tratamento mais humanizado e intensivo às mulheres, a diretora geral afirma que enfrenta dificuldades de acompanhar a paciente no período da gestação e também no pós-parto. Isto porque um grande número apresenta endereços falsos e também porque a cidade está recebendo um grande fluxo migratório de pessoas provenientes de outras localidades do estado, que ainda não definiram moradia.
“Nosso objetivo é fazer uma busca ativa das pacientes, tanto para o acompanhamento da gestação como depois do nascimento, mas nem sempre é possível devido a esses fatores”, afirmou Dra. Tania.
Informatização e entrega de prontuário
Ao ser perguntada sobre a informatização da área administrativa, em especial a recepção, a diretora administrativa Simone Sant´Anna informou que nesses dois meses da nova gestão já identificou a necessidade de equipar e informatizar alguns setores administrativos, o que já foi solicitado à Secretaria.
A respeito da entrega dos prontuários médicos, a diretora administrativa explicou que o documento é entregue à paciente quando fica pronto, no prazo de até cinco dias após a alta médica.
Outra iniciativa que visa à melhoria é a capacitação dos funcionários desses setores, cujo objetivo é oferecer um atendimento humanizado do início ao fim.
Capacitação de doulas
As diretoras também foram questionadas sobre a presença de doulas no atendimento e informaram que no segundo semestre iniciará um treinamento que visa capacitar 10 doulas para atuar em todos os plantões da unidade.
Desafio
As diretoras afirmaram que o maior desafio da nova gestão é desfazer uma imagem que foi amplamente reproduzida sobre o Hospital e que gerou medo e insegurança na população.
“Nos últimos meses, chegaram para as gestantes informações que as faziam sentir-se em risco ao se internarem ali. Nós nos colocamos no lugar dessas mulheres, para que elas tenham tranquilidade ao chegar no Hospital e no lugar dos profissionais que as atendem, que também ficaram assustados com essa situação. Mas já estamos conseguindo mudar esse cenário. Temos a certeza de que os problemas enfrentados não são de origem técnica nem estrutural. A equipe é excelente, os médicos gostam de trabalhar ali, a equipe de manutenção e administrativa não mede esforços para o bom funcionamento da unidade. O Hospital da Mulher é um ótimo lugar para trabalhar e também para as mulheres terem seus filhos”, concluiu Dra. Tania.