Por Eduardo Almeida
Meus leitores do Primeira Hora, do Peru Molhado e agora Prensa de Babel, este artigo abaixo é de minha filha Camila Mota, que faz aniversario hoje e como presente para vocês, publico esta matéria sensacional falando de Homoafetividade. Leiam.
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O Brasil, terra larga e desmedida, desde a chegada do colonizador, desenvolveu uma relação predatória com a terra e o ser humano. Inicialmente, no massacre de povos nativos na busca incessante de pedras e metais preciosos e, num momento posterior, na escravização de africanos e na condenação da terra à monoculturas. Nossa formação nos legou uma herança racista, patriarcal e escravocrata, herança muitas vezes encoberta pelo mito do brasileiro cordial.
Hoje a homossexualidade é criminalizada em mais de 70 países.
Apesar de não ser crime no Brasil,
o país é o número um em mortes por homofobia.
44% das mortes homofóbicas acontecem aqui.
Segundo o Relatório de Violência Homofóbica produzido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos do extinto Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, “a homofobia possui várias formas, que abrange muito mais do que as violências tipificadas pelo código penal. Ela não se reduz à rejeição irracional ou ódio em relação aos homossexuais, pois também é uma manifestação que qualifica o outro como contrário, inferior ou anormal. Devido à sua diferença, esse outro é excluído de sua humanidade, dignidade e personalidade.
Entre os tipos de homofobia, podem‐se apontar a homofobia institucional (formas pelas quais instituições discriminam pessoas em função de sua orientação sexual ou identidade de gênero presumida) e os crimes de ódio de caráter homofóbico, ou seja, violências, tipificadas pelo código penal, cometidas em função da orientação sexual ou identidade de gênero presumidas da vítima. A homofobia presente na estrutura da sociedade brasileira vitimiza não apenas a população LGBT cujas oportunidades são limitadas pelo preconceito, mas qualquer indivíduo em que a identidade de gênero seja percebida como diferente da heterossexual.”
O homem nada cordial tem por hábito rejeitar o desconhecido.
É necessária a visibilidade da população LGBT e dos crimes cometidos contra gays, lésbicas e trans.
O número de denúncias contra crimes homofóbicos é ainda muito inferior ao número de ocorrências.
Um fenômemo semelhante ocorre com os crimes de estupro,
pouco denunciados por vergonha ou auto-culpabilização.
O que revela que a homofobia é herdeira de uma questão anterior:
o direito à liberdade do corpo.
O ser humano está condicionado à ignorancia do seu corpo,
dos seus desejos, das suas particularidades.
A idéia de pecado nos condenou a viver sem corpo.
E a inteligência ficou limitada ao pensamento intelectual,
como se o cérebro não fosse, ele próprio, uma víscera.
Em 2016, no século XXI, principalmente as novas gerações estão dispostas a colocar em pauta o corpo e sua liberdade.
Nunca foram tão presentes as questões de gênero,
que são diferentes das questões de orientação sexual.
Um novo vocabulário se revela: transgênero, cisgênero…
Vivemos um momento de polarização e binarismo,
que impede a real contracenação de diferenças.
A maior herança da colonização é a heteronormatividade,
com pensamento eurocêntrico,
que conduz quase todas as relações de poder.
Ela é padrão não só nas questões que envolvem o corpo,
mas em todas as esferas sociais.
Existe toda uma herança cultural da população negra e índia
que não é incorporada socialmente,
o que nos deixa muito empobrecidos,
cada vez mais reduzidos à verdades únicas.
A diferença faz parte da natureza.
Um bioma rico é o que contém larga diversidade de espécies.
O mesmo se dá na escala humana e cultural.
A diferença de pensamento e cultura é essencial para criação de novos paradigmas, para a invenção de um outro pensamento político, em que as pautas sejam trabalhadas dia a dia em ações de micropolítica.
Acabar com os crimes de homofobia, portanto,
não é necessário apenas por uma questão de direitos humanos,
não é de interesse apenas da parcela LBGT da população,
mas fundamental para a construção social.