Búzios vive um drama silencioso nos bastidores do mercado de terras: a grilagem de áreas milionárias por milicianos, com envolvimento direto em invasões e loteamentos irregulares. A denúncia mais recente envolve um terreno pertencente à herança do empresário israelense Amnon Bekerman, falecido há cerca de duas décadas e dono de uma vasta área na região conhecida como Estrada da Fazendinha.
A informação foi revelada pelo jornal O Globo, em duas reportagens publicadas nesta segunda-feira (7), que detalham como a herança deixada pelo magnata israelense passou a ser alvo de invasões e exploração irregular por grileiros ligados à milícia.
De acordo com a publicação, a área em questão fica na Estrada da Fazendinha, uma zona em franca valorização no município, e faz parte do espólio de Bekerman. Ele, que chegou ao Brasil nos anos 1970, investiu pesadamente no setor imobiliário e de hospitalidade, sendo proprietário do tradicional Hotel Atlântico, além de outras áreas no Centro de Búzios e nas zonas periféricas da cidade. Após a morte, a gestão dos bens passou para familiares e advogados, que travam desde então uma batalha jurídica para recuperar e resguardar o patrimônio
A reportagem do O Globo apresenta também quem são os membros da família Bekerman, que tenta reaver legalmente o que seria uma herança estimada em milhões de reais. O herdeiro direto, Benny Bekerman, vive fora do Brasil e tem enfrentado ameaças, falsificação de documentos e omissões institucionais no processo de reintegração. Os milicianos, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, operam com divisão de tarefas, exploração de lotes e até cobrança de taxas ilegais de moradores.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público estadual, investiga há cinco anos a atuação de milicianos na Região dos Lagos. Em dezembro de 2024, uma operação conjunta com a Delegacia de Búzios prendeu sete suspeitos diretamente envolvidos nas ocupações ilegais. A ofensiva revelou a estrutura organizada das invasões, com indícios de falsificações e conivência de agentes públicos.
Segundo o O Globo, esse é mais um caso que evidencia a sofisticação da grilagem contemporânea no estado do Rio, onde milícias substituíram antigos grileiros e passaram a operar verdadeiros negócios clandestinos. O problema se agrava em áreas turísticas como Búzios, que pela natureza valorizada atrai interesses não apenas de investidores, mas também do crime organizado.
A família Bekerman tenta sensibilizar as autoridades para recuperar o espaço e responsabilizar os envolvidos. A atuação da milícia, no entanto, tem dificultado o avanço judicial e alimentado a tensão em torno do patrimônio familiar.
O caso segue sob investigação e é acompanhado de perto por órgãos do poder público e pelo próprio Ministério Público.