Texto e imagens por Eduardo Graf
Quando Lou Reed canta essa que é uma de suas mais belas canções, está querendo dar um recado… de vida!
As emoções são por onde se dão os afetos, que nos definem e nos permitem pensar, não necessariamente através de nossa consciência e razão, mas através de um Inconsciente Maquínico. Uma espécie de maquina doida que fica o tempo todo criando, desterritorializada e, portanto, livre de códigos da qual falava Deleuze…
Quando digo em meus textos que o surfe como modo de vida deve ser pensado, estou me referindo a isto. Como através de nossos afetos, emoções, podemos entender a importância de nossas ações e a vontade que nos direciona.
Recentemente participei da filmagem de um evento de surfe. Tudo muito bem organizado, os atletas surfando bem e as coisas transcorrendo como planejado e dentro do cronograma. A tecnologia ajudando com o sistema de pontuação e a experiência dos organizadores garantindo a ordem das coisas.
Porém, não podemos esquecer o título de nosso texto, e as emoções onde ficaram?
Sim, tiham pessoas torcendo por seus amigos e parentes, uma disputa entre atletas e as ondas estavam belas, assim como a praia de Itaúna que é linda.
Esta na verdade é a maior preocupação dos organizadores deste tipo de evento. Como fazer com que o público presente interaja e passe a apoiar estes encontros?
Não é trazendo esportes diferentes ou inventando atividades paralelas em seus eventos, que o surfe ira transmitir afetos, aquilo que precisamos para que a emoção possa aflorar em todos, como já vi e presenciei em eventos de surfe em Saquarema e no Arpoador, por exemplo.
Mas, afinal, qual é a importância disso tudo para Búzios mesmo?
Búzios tem ótimos locais para eventos, não só de surfe, como vários outros esportes náuticos. Um evento anual em nossa cidade, movimentaria mais ainda nosso turismo e traria várias outras vantagens, como exposição em mídia, trabalho, além de fortalecer nossa Associação de Surfe, que conta com uma nova diretoria que está ligada nestas questões e promete agitar mais ainda nossas praias.
E o que tinha de tão especial nestes eventos que mencionei, onde uma praia inteira entrava em sintonia com as ações e intensidades que se espalhavam por ondas?
A arte!
Assim como os skatistas sabem se aliar aos artistas, trazendo para seus eventos a música, o grafite, Zines, tatuagens e tantas outras coisas, nós, surfistas, devemos mostrar um caminho, um modo de vida.
No evento que filmei, a música, uma das mais envolventes formas de arte, talvez a mais eficaz de todas na transmissão de afetos, era apenas um acessório, com um volume muito baixo e quase inaudível, mesmo quando a locução não estava presente. A arte sai de cena para que a tecnologia funcione com mais eficiência, é mais importante ficar gritando números em um microfone do que deixar uma boa locução e uma trilha sonora acentuar as manobras e beleza estética inerente a esta outra arte que é a de surfar, não é mesmo? Afinal este é o modelo capitalista que nos é imposto pela organização mundial, a WSL, que organiza o mais importante evento do surfe profissional, o Circuito Mundial.
Se hoje a burocracia é mais importante neste tipo de evento, talvez seja mais empolgante para aqueles que assistem pela internet, mas na praia isso apenas cansa o público, que interagia muito mais quando ainda não éramos tão profissionais e curtíamos a coreografia do surfe e a dança das ondas em companhia de Sting, Rolling Stones, Robert Plant, etc etc.
Então é esta a grande novidade que o surfe tem para oferecer, pessoas surfando e boa música?
O surfe traz consigo aquilo que Nietzsche afirma como sendo o mais importante para aqueles que almejam uma vida intensa e afirmativa, um “modo de vida”, que não seja o que nos é imposto. Não se trata de todos virarem surfistas e sim de termos mais este exemplo, assim como o modo de vida artístico, nos mostrando maneiras de resistir. Não ser de esquerda nem de direita, achar em seu desejo a potência para se expressar, consumir menos, pensar o ambiente, produzir, criar.
Parece que não, mas, isso e muito mais está presente na vida de milhares de pessoas que vivem de forma sustentável, constroem suas próprias casas, barcos, pranchas, fazem filmes, criam música, trabalham e sempre que a natureza chama, estão em contato com ela…
Um pouco sobre o autor:
Aos 52 anos de idade Eduardo Graf foi o primeiro instrutor de kitesurf e de Stand Up Paddle surf de Buzios. Atualmente atua como diretor de programação da Tv-buzios.com . Estudou jornalismo em San Diego, na California, reside em Buzios desde 1996 e em 2014 teve sua primeira exposição individual com trabalhos em arte digital na Republica Tcheca.