O deputado estadual, Gustavo Schmidt (Avante), esteve em Búzios na sexta-feira (5) para uma audiência pública, na qual o meio ambiente foi tema. Ele conversou com a Prensa sobre o trabalho que vem desenvolvendo na Comissão de Saneamento Ambiental (Cosan), e também com a Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
“A gente entrou fazendo uma série de audiências públicas, que eu acho que é uma ferramenta mais importante que dá voz a todos os setores e segmentos para que de fato aquele tema seja bem esmiuçado e ter a finalidade mais próxima da perfeição. ”, comentou à Prensa algumas horas antes da audiência, onde aprofundou algumas coisas, em especial, uma de suas bandeiras, a defesa do meio ambiente, que, segundo ele, tem como primordial a ampliação e modernização do sistema de saneamento ambiental.
“Estou no meu 1º mandato, sou nascido e criado em Niterói. Minha mãe é de São Gonçalo e o meu pai de Niterói. Sempre gostei, fui apaixonado por política. Não tenho nenhum político na família. Graças as eleições de 2018, a gente conseguiu uma cadeira na Alerj e, em cima disso, a gente vem trabalhando muito, principalmente no saneamento básico. Assumi no primeiro biênio a Comissão de Saneamento Ambiental da Alerj e hoje sou vice da mesma e ainda presido a Comissão de Meio Ambiente. Pegamos essa bandeira por causa do meu histórico familiar, meu pai tem 32 anos de Cedae, então é uma bandeira que eu estava habituado a conviver. Acompanhei muito meu pai, quando criança, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, na parte de melhoria de abastecimento, expansão de rede de esgoto, então desde pequeno eu vivenciei isso e vi meu pai no dia a dia falando sobre isso”.
Resumindo sua trajetória e influências paternas no direcionamento de sua atuação como parlamentar, Gustavo ressaltou também que, foi eleito em 2018, com 34.869 votos, para muito além de seu município de origem, compreende e atua com uma visão macro do estado. “Eu fui votado na primeira edição em 91 dos 92 municípios, então não é porque eu sou de Niterói que eu não tenho obrigação com os outros 91 municípios. Eu tenho certeza que esse papel a gente cumpriu com excelência nesses quase quatro anos. São demandas de todos os municípios, fiscalizações sistemáticas, quase que diárias, e o bacana também que teve uma convergência com os órgãos públicos fiscalizadores que a gente aciona nesses momentos como o Cepam (Comando de Polícia Ambiental), como Inea, como as prefeituras locais, com a DPMA, que é a Polícia Civil e é diretamente ligada à Comissão de Meio Ambiente. Todos participaram ativamente e muita coisa foi transformada, muita coisa foi corrigida, ressaltando esse papel nosso de fazer da forma correta e consertar os erros. ” Ouça a entrevista neste link: https://www.instagram.com/reel/ChA5NOtsZRM/?igshid=NWRhNmQxMjQ=
Prensa de Babel: Você representando a Comissão de Meio Ambiente na Alerj, tem então a compreensão que esse tema é latente para a Região dos Lagos, Búzios e região como um todo? Você está inserido nisso e se tem um pensamento a curto, médio prazo de como essa região possa se desenvolver mantendo o turismo como indústria e sem ferir os atrativos ambientais?
Gustavo Schmidt: O que eu costumo falar que a gente tem a Região dos Lagos como uma joia do estado do Rio de Janeiro e que deve ser, com todo o critério, com todo o cuidado, direcionada nos próximos anos para que a gente não perca isso, não deixe de potencializar isso. A gente tem hoje Búzios passando por uma transformação, o plano diretor da cidade tem 16 ou 17 anos, a gente precisa atualizar, mas de forma correta. Eu acho que hoje Búzios precisa pensar no turismo de luxo, pensar em cidades como Saint Tropez e Mônaco (ambas na França), ou até mesmo Balneário Camboriú (Santa Catarina, no Rio Grande do Sul), que fica no nosso país. A gente tem a tecnologia chegando, o 5G está aí na nossa porta, vai mudar muito a vida, o cotidiano das pessoas, que em pouco tempo, tecnologicamente, vão ter uma mudança radical. Acho que Búzios precisa ter um consenso; prefeitura, câmara municipal, Região dos Lagos em si, de trazer todos os setores voltados para TI, tecnologia, inteligência artificial.
Prensa: O caminho seria pela manutenção de um conceito de turismo diferenciado, mas ao mesmo tempo uma compreensão da revolução tecnológica que já está em curso?
Gustavo: Acho que não adianta a gente falar hoje de meio ambiente e não ter ele atrelado ao desenvolvimento econômico, priorizando o turismo de luxo, acho eu Búzios tem que ser considerada como como uma Saint Tropez e como uma Mônaco, e a gente, paralelo a isso, tem que trazer o desenvolvimento, junto com essas tecnologias que estão chegando hoje junto com o 5G pra mobilidade urbana; para segurança pública, câmeras de reconhecimento facial, marcação de placas de entrada e saída dos carros; pro saneamento básico. Já é obrigação da cidade ter um cinturão que não deixa chegar essa poluição. Infelizmente a gente pega na Praia Rasa toda a saída da bacia da Região dos Lagos, então tudo que a Prolagos hoje faz de ineficiente nas suas estações de tratamento de esgoto acaba o destino final de muitos municípios sendo Búzios. Acaba prejudicando muito o turismo também essa questão. Então, Búzios tem que avançar, não é um problema difícil é só uma questão de querer fazer, porque os investimentos não são estratosféricos pra você corrigir essa questão do saneamento em Búzios, mas precisa de consenso pra a gente levar Búzios pro caminho correto, fiscalizando as ocupações irregulares, não adianta nada você tá prejudicando pessoas que têm áreas dentro do parque e ao mesmo tempo estar permitindo que o próprio parque tenha favelização, tenha crescimento desordenado dessa comunidade que fica na periferia.
Prensa: Essa questão que toca das ocupações irregulares está se referindo de certa forma a uma revisão do Parque Estadual da Costa do Sol?
Gustavo: Sim, porque precisamos tomar conta do crescimento desordenado da cidade de Búzios. A gente vê que Búzios tem tudo para crescer, mas a gente tem que tomar cuidado com esse crescimento desordenado. A gente tem uma problemática hoje junto a Costa do Sol, que é o parque que foi criado. Do jeito que é ele inviabilizou muitos negócios, a gente sabe disso, mas quanto à Comissão do Meio Ambiente a gente tem todo o cuidado com o meio ambiente, em paralelo. A gente tem que achar uma forma de conciliar esses dois, porque senão engessa Búzios. Tem um passivo do estado que não pagou essas pessoas (proprietário), parece que o Parque (Estadual) da Costa do Sol não teve audiências públicas, enfim, é algo que foi colocado, engessa Búzios e que a gente tem que fazer da forma correta. Não sei quais ferramentas a gente pode usar, a gente já está conversando com diversos setores. Acho que cabe a Alerj fazer parte desse processo de reestruturação desse parque ou transformação de uma APA, permitindo que essas áreas sejam construídas, que a gente amplie a área verde de Búzios, mas que permita uma construção um pouco menor, na totalidade das áreas, de 5 %, 10%, 15%, uma ocupação totalmente autossustentável com compensações ambientais também em cima disso, e ao mesmo tempo ampliando essa área verde de Búzios e também em toda a Região dos Lagos.
Prensa: Uma saída que muitos apontam é que se permita, de alguma forma, uma construção mínima e obriga-se esses proprietários a serem fiscalizadores também da área ambiental. É por aí?
Gustavo: Pode ser. A maior problemática, não só de Búzios, mas do país, é que a prefeitura precisa ser mais ativa na questão da fiscalização. Não adianta você culpar a concessionária de água e esgoto que tá derramando esgoto em uma praia, causando qualquer tipo de poluição no meio ambiente local, se ela tá preparada pro estudo que tem x pessoas naquela cidade naquela época, mas ao mesmo tempo daqui a dois anos a projeção dela está totalmente furada, porque a prefeitura não fiscalizou certas áreas e a população foi crescendo no entorno sem legalização, sem autorização daquela obra, então eu acho basicamente eu acho que tem que haver essa convergência. Búzios tem que ter um novo cinturão, tem que ter um novo centro, totalmente qualificado, mas com o seu centro histórico protegido por parques, lagoas, com tudo isso pra a gente poder fomentar e potenciar essa joia raia tecnologicamente com devido merecimento.
Prensa: A criação desse novo centro, que seria importante para proteger Búzios e a cidade ser o centro histórico, passa por essa estrada nova que está sendo desenvolvida pelo governo do estado e que teve a participação da Alerj, por meio do presidente da Casa, o deputado André Ceciliano?
Gustavo: Sim, é o que está sendo chamado de “Alça Ceciliano”, que vai dar uma nova direção para Búzios. Acho que tem que se tomar muito cuidado com o que se faz, a gente tem projetos importantes em Búzios como o Aretê, e fiquei sabendo há pouco de uma possível rodoviária em frente ao Aretê. Também de um outro empreendimento de quatro mil metros quadrados que estão fazendo lotes de 360 metros quadrados, eu acho que isso muda o público alvo de Búzios. Búzios não tem uma estrutura qualificada para mobilidade urbana, para saneamento básico e se você inflar a cidade dessa forma aumentando exponencialmente o quantitativo de empregados que precisa para se manter isso, de comércio, que às vezes não deveriam estar nesse local, poderia estar em outra área de Búzios, atrapalhando totalmente a viabilidade de potencializar o ticket médio do turista aqui dentro da cidade que poderia ser um turista que gastasse mais.
Prensa: Mas não adianta pensar e agir em apenas um município, né? A compreensão regional, não apenas no turismo, mas já levando em conta a questão da tecnologia que você vem falando, é necessária?
Gustavo: Nosso entendimento quando se discute sobre Búzios, quando se fala em Região dos Lagos, eu acho que é importante uma convergência entre legislativo estadual, governo do estado, prefeituras da região, para a gente poder avançar, principalmente na questão da tecnologia. Cabo Frio poderia ser muito bem um celeiro de startup, um celeiro tecnológico. Búzios e Arraial do Cabo seriam as bases de apoio fomentando isso na Região dos Lagos, porque inevitavelmente a cultura mundial, as próximas gerações vão mudar desde que mudou o 3G, 4G e agora com o 5G. a gente vai ver uma mudança, uma ruptura completamente brusca e a gente precisa acompanhar essa revolução, senão a gente vai ficar totalmente para trás desses avanços, dessas melhoras. A maior preocupação hoje quanto parlamento, isso com certeza a gente tem dentro da Alerj como papel fundamental de dar caminho para essa evolução, é da Região dos Lagos não acompanhar esse crescimento tecnológico. Eu tenho pra mim que a gente já deu um salto de quase cinco mil anos de evolução em 20. Isso vai ser exponencial cada vez mais por conta de diversas profissões hoje que a gente via há duas, três décadas, como trocador de ônibus, caixa de qualquer comércio, não existem mais. Hoje existem profissões que estão fadadas a não existirem como, ao menos como antes: advogados, médicos, hoje tem escritórios de advocacias que já dão pareceres por inteligência artificial. A gente tem que priorizar isso e trazer para Cabo Frio, Região dos Lagos, principalmente Cabo Frio, um polo tecnológico fomentando e organizando tudo isso, porque as próximas gerações têm que estar qualificadas e o próprio comércio local tem que estar qualificado ao crescimento, se não, já somos defasados em relação a quase todo o globo, a gente vai ficar cada vez mais distante.
Prensa: A Alerj pode ser uma espécie de centro de convergência desse caminho de atuação em conjunto? Porque já temos um consenso, mesmo que a grosso modo, do turismo como uma atuação regional. Mas qualificação tecnológica para que essa região não fique para trás não se fará com prefeitos pensando de forma isolada, né? E o papel das Câmaras de Vereadores?
Gustavo: Por sermos um local paradisíaco, a gente tem que saber avançar da forma correta com muito cuidado, com muita disciplina para não perder o foco principal e deixar de potencializar coisas importantes, principalmente, no turismo. Então, a gente tem um papel fundamental dentro da Alerj, tem que colocar isso na cabeça dos gestores das cidades da Região dos Lagos, principalmente das câmaras municipais, para trazer tecnologia atrelada ao turismo, a mobilidade urbana, atrelada ao comércio local, capacitando a população, porque se não tiver uma população capacitada, uma mão de obra adequada, não adianta nada ter uma tecnologia que você não sabe usar. Eu acho que o futuro de Búzios, da Região do Lagos passa por essa revolução tecnológica que a gente já está vivendo atrelada a todos os principais pontos, mobilidade urbana, saúde pública, segurança pública, saneamento básico e comércio. Voltando para a questão aqui de Búzios, e eu enfatizo mais uma vez, na parte do turismo de luxo, criar um outro centro, aproveitando essa “Alça Ceciliano”.
Prensa: A qualificação profissional é crucial, levando em conta o alto índice de desemprego e o avanço da pobreza, que também atinge diretamente nos índices de qualidade de vida e de desenvolvimento da região, não é?
Gustavo: A gente tem que saber atrelar toda essa tecnologia que está chegando com a capacitação e desenvolvimento das pessoas locais. Não adianta nada a gente ter uma tecnologia que ninguém não sabe mexer. Volto a falar que Cabo Frio tem que ser um polo de referência, ter cursos de capacitação, ter faculdades voltadas para inteligência artificial para a gente formar engenheiros capacitados e naturalmente isso vai ser atrelado ao desenvolvimento, a camada de trabalhador, naturalmente potencializando o turismo local, o trabalhador da Região dos Lagos sobe também para ser classe média, então como uma economia bem-sucedida. Quando o dinheiro gira, quando as coisas acontecem, naturalmente o sucesso vem, o crescimento de renda chega, então basicamente passa pelo estado, passa pela Alerj, passa pelas prefeituras, câmaras municipais, pensando na capacitação dessas futuras pessoas que tem que tá de acordo com essa evolução que vai ser implementada em todo o mundo e a gente não pode ficar pra trás. Finalizando bem em cima disse que Búzios e Região dos Lagos precisa ser um polo de tecnologia, precisa ter pessoas capacitadas, precisa ter seu comércio, segurança pública, saúde, saneamento, todos os outros setores, turismo, inclusive do 5G que vai mudar a vida das pessoas, e eu tenho certeza que isso está atrelado a capacitação da mão de obra local, das pessoas que aqui residem para poder ter um atendimento de qualidade e, consequentemente, uma economia muito mais promissora que a gente vê hoje. Cidades como Cabo Frio e Arraial do Cabo hoje são subutilizadas por conta de um outro olhar que precisa ser mudado.
Prensa: A Região dos Lagos é impactada, de diversas formas, pela extração do petróleo na Bacia de Campos, da qual faz parte, e isso também precisa ser levado em conta?
Gustavo: A gente tem também essa região de frente para a maior bacia offshore do país, quiçá do mundo, porque não trazer essas petrolíferas para o PPP (Parceria Público-Privado), pra uma conversa com o Governo Federal, Estadual, prefeituras da região, para ajudar a fomentar, criar, centros de estudo, centro de capacitação, que no final das contas também serão utilizadas dentro das próprias plataformas, navios, tanto quanto a gente no continente eles precisam de mão de obra especializada, capacitada e fomentar ainda mais a trazerem a construção desse futuro polo tecnológico que é a Região os Lagos, atrelado ao turismo.