Seu território é a grande área. Jogador caçador fareja o gol como se fosse sua presa. Sorrateiro e concentrado aguarda silencioso e artificioso o instante do bote. Precisa surpreender atravessando os adversários em busca da bola. Por isso tem de saber voar e cabecear certeiro. Tem de correr ligeiro sobre a grama, sem incomodar ou deixar pistas, e chutar a bola de tal maneira que só possa ser encontrada depois, no fundo do gol. Tem de camuflar-se entre as respirações e gatuno, surgir cheio de dentes com fome de gol. O centro-avante é aquele capaz de deixar na área seu cheiro. Portanto, sabem que aquele espaço tem dono e receiam. Como um rei, pode fazer dos gramados uma savana onde reine imperioso e incontestável. Entretanto quando a bola se perde em seus pés ou quando os zagueiros, feito muitos sóis robustos, lhe esquentam o cocuruto, lhe queimando o pensamento e lhe amolecendo o corpo, um grupo implacável de torcedores lhe expulsa do bando. Sozinho e abandonado o centro-avante não reina. Morre de fome de gol. E vê os mais jovens coroados pelo bando humanamente ingrato. Ruim para quem perde a majestade, ótimo para o bando de apaixonados pelo futebol. Empoleirados nas arquibancadas não se incomodam se o nome muda, porque o que querem é um centro-avante para coroar.
*Rafael Alvarenga é professor de Filosofia e apaixonado por esportes