Em 2022, Búzios tinha pouco mais de 40 mil habitantes, segundo o IBGE, e 23.981 veículos registrados no Detran, a maioria automóveis. No ano seguinte, a população manteve-se estável, mas a frota subiu para 25.373. O avanço, de quase 6% em um ano, coloca a cidade em um cenário de pressão crescente sobre a mobilidade urbana.
Ainda não há dados oficiais sobre 2024 e 2025, mas a tendência é de aumento. O município passou a registrar, em 2025, 42.527 moradores – crescimento de 0,2% em relação ao ano anterior. Apesar de modesto, o número reforça a expansão das cidades litorâneas no estado do Rio de Janeiro, enquanto a frota de veículos avança em ritmo mais acelerado.
Para especialistas, esse descompasso tem relação direta com a baixa confiança da população no transporte coletivo. É consenso que “cidades que não oferecem transporte público estruturado tendem a estimular o uso do veículo individual, o que agrava congestionamentos e aumenta custos sociais e ambientais”, como aponta estudos como a Análise do potencial de integração da bicicleta com o transporte coletivo em Belo Horizonte do Journal of Transport Literature, vol. 7, publicado por Castro, C. M. S., Barbosa, H. M. and Oliveira, L. K. ainda em 2013.
Modelo de transporte público precário
No caso de Búzios, a peculiaridade é que o transporte público formal simplesmente não existe. O deslocamento coletivo depende de vans operadas por permissionários, restritas às vias principais, sem transparência de itinerários e horários. Bairros inteiros permanecem sem cobertura, e o serviço não dispõe de informações acessíveis ao usuário, como aplicativos ou pontos de parada identificados.
Esse modelo precário reproduz problemas de outras cidades brasileiras que cresceram sem um sistema de transporte estruturado: dependência excessiva do automóvel, encarecimento do custo de vida e impacto negativo no trânsito. Em Búzios, a equação é agravada pelo perfil turístico do município, que amplia a circulação de veículos em alta temporada e expõe ainda mais a fragilidade do sistema viário.
O impacto direto
Em Búzios, os acidentes de trânsito não se limitam aos congestionamentos; eles têm impactos diretos na saúde pública e no cotidiano da população. Em 2022, a cidade registrou 69 ocorrências, com 100 feridos e 13 mortes — um dos índices mais altos da região. Em 2023, apesar de uma leve queda no total de acidentes (67), as vítimas fatais caíram para 7. O ponto crítico foi a Avenida José Bento Ribeiro Dantas, com 24 feridos, confirmando o deslocamento da gravidade dos acidentes das rodovias estaduais para o centro urbano.
Além dos danos físicos, os acidentes geram custos elevados para os serviços de emergência e saúde, sobrecarregando o sistema público e afetando a qualidade de vida dos cidadãos.