Por Marcel Silvano
O Parlamento brasileiro protagonizou nos últimos anos, feridas na democracia que não cicatrizam. Levaremos para a história essa ferida aberta, e precisaremos lidar com ela.
O golpe de 16 que depôs Dilma, pela liderança de Eduardo Cunha, já fazia parte de uma enorme trama dos setores mais conservadores e corruptos das forças sociais brasileiras.
Para avaliar o debate da Presidência da Câmara hoje, em 19. Aquela cena bizarra precisa ter enfatizadas duas coisas, a saudação de Bolsonaro a um torturador desumano, e a consequente queda do Cunha. A perda do mandato e prisão de Eduardo Cunha elevaram Rodrigo Maia ao posto de Presidente da Câmara dos Deputados.
A trama “com o Judiciário, com tudo”, muito bem frisado por Jucá, deu como resultado a prisão do Lula e entregou a faixa ao Bolsonaro. Esse preâmbulo é necessário para apontar que não há dissociação entre a deposição de Dilma Rousseff e a ascensão da extrema direita. E como ela foi arquitetada no Parlamento. Um golpe recheado de hipocrisias, manhas e artimanhas.
Para nós, do Estado do Rio, há um importante elemento a considerar. O movimento AEZÃO (Aécio e Pezão) em 2014, liderado por Picciani, Eduardo Cunha e setores enormes do PMDB no Estado e encapado pela família Bolsonaro. Que já ali, tentavam assumir o poder a qualquer custo, e sabotaram a reeleição da Dilma.
Agora, o momento é de extrema insegurança. O autoritarismo é tônica do Governo. O programa econômico é frágil, uma nuvem. As ameaças aos povos indígenas são fatos concretos. As políticas sociais e o combate às desigualdades deram espaço a uma pauta que criminaliza o trabalho e reduz ações de moradia, combate à fome e acesso à terra.
O agronegócio com carta branca, o trabalho escravo relativizado e a fiscalização reduzida a quase zero. Quando se fala em reduzir impostos, reduzem pro andar de cima, e jogam o peso no bolso dos de baixo, os mais pobres. As ameaças de mais ataques às leis trabalhistas pelo Governo que assume.
São muitas pautas a serem enfrentadas para o Brasil não se tornar um país ainda pior, mais injusto e desigual. Por isso, é necessária a luta no parlamento. Sei bem que, as disputas nos parlamentos são cotidianas. É um eterno perde e ganha. No caso da Câmara dos Deputados, não há mais o que aguardar para fechar questão em torno de um nome da oposição, do bloco democrático, para a disputa da presidência da Casa.
Preocupações com isolamento caem por terra quando somados PT, PCdoB, Psol, PSB e PDT são mais de 150 deputados federais. Uma importante frente de combate, de enfrentamento às pautas anti-povo e anti soberania nacional. Há muita luta a construir, e no atual cenário, não devemos olhar o placar do resultado matemático.
Mas a movimentação política das forças progressistas podem fortalecer um grande time de mulheres, homens, católicos, evangélicos, homossexuais, jovens, sem-terra, sem teto, indígenas, quilombolas, artistas e tantos incontáveis milhões de brasileiros com um chute a gol. Um chute a favor, depois de tanta derrota, um chute a gol, a nosso favor.
Marcelo Freixo e o Psol já tocaram a bola pra frente deram um belo e importante passe. Cabe o PT, que detém maior bancada partidária na Câmara dos Deputados, colaborar para esse jogo pra frente. Ajudar no diálogo com as outras forças e, definir o voto contra Maia\Bolsonaro, a favor da democracia e de resistência em favor do povo excluído, em favor dos que lutaram contra todos os golpes que vem galopando contra a democracia brasileira.
Claro que devem existir outros nomes para debater em bloco, mas é inegável que o protagonismo do Psol dá ao Freixo a prioridade. Porém, também é necessária maturidade para que o Psol, com todo seu brilhantismo nas lutas parlamentares, saiba que agora é o jogo dos passos certeiros, para frente.
No Rio, os deputados de esquerda e os que defendem a democracia precisam se empenhar nessa tarefa. Aqui, no interior, aguardo boas novas nesse desenlace. Essa composição com Freixo para presidência da Câmara dos Deputados tem minha torcida e entusiasmo.
Marcel Silvano é jornalista(MTB 33568RJ) e vereador do PT em Macaé