Búzios, conhecido por suas paisagens paradisíacas e clima alegre e descontraído, esconde em seu passado um episódio sombrio que agora ganha destaque no documentário “Com as Próprias Mãos”. O filme, dirigido por José Francisco Tapajós, é uma produção realizada em parceria com o Canal Curta! e viabilizado pelo FSA – Prodav 02/16. A estreia é nesta sexta-feira (8), no canal Curta!
A narrativa do documentário revela a história da Scuderie Le Cocq, o primeiro grupo de extermínio do Brasil, focando especialmente no episódio envolvendo o bandido Cara de Cavalo, que encontrou refúgio no pacato bairro Cem Braças, em Búzios, onde acabou perdendo a vida em 3 de outubro de 1964, aos 23 anos.
Manoel Moreira, o Cara de Cavalo, foi protagonista de uma trama criminosa que resultou no surgimento da Scuderie Le Cocq, uma organização policial clandestina formada, a princípio, para vingar a morte do detetive Milton Le Cocq. A história se desenrola em 1964, quando o detetive é assassinado. Cara de Cavalo é identificado como o autor do disparo, desencadeando uma caçada ao criminoso.
A caçada em Búzios: Testemunhos Locais
A produção ainda entrevista moradores de Búzios que testemunharam os acontecimentos da época, como Toninho Português e Benildo Mota, oferecendo um olhar único sobre o passado obscuro da cidade.
Eles testemunharam os eventos. Toninho, um jovem na época, visitou o local onde Cara de Cavalo foi encontrado morto, enquanto Benildo, que havia se mudado para Búzios após o ocorrido, compartilha suas lembranças do ambiente naquele período.
O diretor do Grupo Prensa de Babel, Victor Viana, participante do filme como produtor local e entrevistador, destaca a importância de trazer à luz essa parte da história de Búzios.
“O filme é fundamental para contar de verdade uma história que marcou o Rio de Janeiro e que tem consequências até hoje em todo o estado. O olhar do José Francisco foi exato não só nos fatos e nos contrapontos, visto pela ótica da Yasmim, como também ao expor uma revelação inédita do veterano Luarlindo, que muda a direção do olhar do espectador sobre a história e o papel da imprensa e polícia”, comenta Victor.
O Filme: Uma homenagem ao jornalismo
“Com as Próprias Mãos” ao mesmo tempo que expõe uma relação, por vezes promiscua, entre polícia e os jornais, também presta homenagem ao jornalismo, ao colocar como protagonistas: Luarlindo Ernesto, um veterano da reportagem criminal, e Yasmin Santos, uma jornalista contemporânea com raízes nas comunidades cariocas, reprimidas pela polícia, proporcionando perspectivas contrastantes sobre o Rio de Janeiro de 1964 e 2021.
“O filme joga luz em uma discussão muito importante, principalmente em um momento como o atual. A caçada ao Cara de Cavalo foi a maior perseguição policial do Brasil, e levar o Luarlindo de volta à Buzios, quase 60 anos depois do ocorrido, foi uma experiência muito marcante para ele. para a equipe e todos os envolvidos”, disse o diretor do filme, José Francisco Tapajós.
Reflexões contemporâneas e históricas
Além de ser um thriller policial, o documentário busca refletir sobre o poder da mídia e do governo na manipulação da população. Bruno Paes Manso, pesquisador e roteirista do filme, contribui para uma análise crítica sobre as origens da violência policial e da cultura da justiça com as próprias mãos no Brasil.
O filme também busca ser um objeto de estudo sobre as origens da violência policial e da cultura da justiça com as próprias mãos, temas mais relevantes do que nunca no contexto atual do Brasil, o país que mais registra mortes por armas de fogo no mundo.