Por Sandro Peixoto
A palavra estrangeiro vem de estranho e tudo que nos é estranho as vezes pode causar aversão. Em tempos de bonança, a chegada de estrangeiros não apenas é bem-vida como aguardada e impulsionada. Foi assim na descoberta da América, foi assim no Brasil com a chegada de árabes,italianos e japoneses. Os nordestinos também foram importante como mão de obra barata para impulsionar o crescimento econômico de São Paulo e Rio de Janeiro. Findo o trabalho sujo, viraram estorvo. Pior fizeram com os escravos africanos. Depois de séculos de exploração, foram largados na sociedade sem direito a indenização ou a qualquer tipo de amparo ou proteção. Até hoje seus descendentes lutam para alcançar um lugar melhor na sociedade.
Búzios, terra de emprego farto sempre recebeu bem à todos. Do nordestino mais simples como eu, ao europeu sofisticado de seis idiomas na ponta da língua. São no entanto os argentinos, que detém a maior colônia de trabalhadores estrangeiros em Búzios. Los hermanos são responsável por parte considerável do nosso crescimento econômico. A maioria chega à nossa cidade em busca de trabalho. E como trabalham. Todos que conheço trabalham muito e têm todo meu respeito. Temos ainda os que vieram para investir. Esses, moldaram nosso estilo. Sem os investimentos dos argentinos, nossa cidade seria mais pobre.Por isso me causa náuseas quando escuto qualquer comentário injusto contra esse povo.
Dizem estão tirando o emprego dos brasileiros, que aceitam ganhar menos, que querem dominar Búzios, etc. Besteira. Ninguém toma o emprego de ninguém. Se você perdeu o seu fique sabendo que a culpa é sua. Mas é mais fácil colocar a culpa nos outros. Principalmente se esse outro for um estrangeiro. Resolvi escrever sobre o tema pois fiquei abismado ao ver alguns amigos que praticam xenofobia contra os estrangeiros que moram em Búzios, criticarem o presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump – que tem entre suas prioridades construir um muro separando o rico e poderoso Estados Unidos do pobre e mestiço México.
Trump não odeia os mexicanos. Nem os latinos em geral. Quem nos odeiam são os americanos. Trump só pregou o discurso que todos queriam ouvir. Não a toa votaram nele. O candidato se revelou um bom ouvinte. A nova caça aos imigrantes (legais ou ilegais) advêm da situação econômica americana. A crise iniciada ainda no segundo mandato de George Bush e não totalmente resolvida em oito anos de governo por Obama é o grande motivo para a crescente xenofobia gringa. Justo num país onde quase 100% do seu povo é oriundo da imigração.
Essa história não é nova. Os primeiros irlandeses que se instalaram em New York em pouco tempo passaram a barrar outros irlandeses. Depois de uma década na América, os pioneiros se sentia americanos enquanto os novatos não passavam de estranhos para eles. Mesma coisa aconteceu com ingleses, escoceses, franceses, etc. Num país recém criado e ainda pobre, farinha pouca meu pirão primeiro. Se a economia americana voltar aos parâmetros do inicio deste século, não só os mexicanos serão novamente bem-vindos e sim todos os latinos que aceitarem lavar pratos e privadas por um punhado de dólares.
A historia de Trump é igual a de Hitler. Os dois só venceram porque tiveram o apoio da sociedade. É pouco producente acreditar que um austríaco sozinho seria capaz de tanto poder e de tanto desmando. O holocausto só ocorreu porque teve o apoio total e irrestrito da sociedade germânica. Foram os alemães quem mataram seis milhões de judeus. Noves fora ciganos, homossexuais e adversários políticos. Colocar tudo nas costas do Hitler é falsear a historia. Todo e qualquer crime humanitário contra estrangeiros (principalmente pobres latinos e mulçumanos) do governo Trump será na verdade um crime da sociedade americana.
Ao colocar um maluco no poder a sociedade lavou as mãos. Sorte a nossa que por mais que muita gente não acredite ou não aceite, um presidente americano manda pouco nas coisas que realmente importa. É o establishment quem manda. O mercado, a Suprema Corte e as famílias ricas e poderosas. Principalmente as famílias judias. É o que os americanos chamam de poder profundo. Trump é só uma marionete que repete o que deseja parte do povo que ainda acredita que o mundo tem que ficar de joelhos para manter suas casas aquecidas e suas geladeiras cheias.
Pausa para pensar: se você se encontra a noite numa estrada escura com um carro quebrado, torce para que apareça alguém para te ajudar. Ao ver um semblante se aproximando, você se enche de esperança. No entanto, se você estiver bem e se de repente perceber alguém vindo em sua direção sua sensação será totalmente diferente. A gente só aceita o estranho quando precisa dele. Essa é a realidade humana e jamais mudará. Muita gente não gosta de Trump por um motivo prosaico. Olha para ele e se vê na figura que repudia.
Desagradável né? Fica triste não. Tem muitos iguais a você.