O depoimento de quem não tem acesso á água em meio a discussão de privatização da Cedae
A privatização ou não da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgoto) do Rio de Janeiro interfere, e muito, na vida de moradores e consumidores, que em muitas cidades do estado pagam taxas de cobrança da água. E em plena pandemia do novo coronavírus, em que ter água potável em casa é primordial para manter as condições mínimas de higiene, orientadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), como lavar as mãos com frequência, tem sido um outro problema.
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Assim como em vários bairros de Macaé, onde a falta d´’água é constante, nas comunidades, como Nova Holanda e Malvinas, outro agravante: quando cai água, cai suja. E muitos moradores, e digam-se de passagem que pagam pela taxa de cobrança, precisam, quase que diariamente, contar com a sorte. É o caso de Maurício Silva de Souza, que mora na comunidade Nova Holanda há 29 anos.
À Prensa, ele relatou que precisa contar com a sorte para ter água em casa. “Contar com a sorte sim. Porque a empresa não trabalha, de modo correto, o abastecimento na cidade. Quando não tenho aqui em casa, conto com a solidariedade de vizinhos, que me cedem água para o básico dentro de casa: tomar banho, fazer comida, limpar a residência. Acontece muito de eu acionar a bomba, mas mesmo assim a água não sobe. E muitas vezes, quando cai água, em suja. Não dá para consumir”, relatou Maurício, que tem uma filha de quatro anos de idade, e precisa redobrar os cuidados com a criança dentro de casa devido à Covid-19.
E quem conhece outros bairros de Macaé, como o Lagomar, que segundo o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2010, apontou que a localidade possui, atualmente, cerca de 50 mil habitantes. Considerados um dos maiores bairros de Macaé, a falta d’água é constante no Lagomar. A dona de casa Maria Helena da Silva, de 42 anos, e moradora na W 22 há mais de 30 anos, relatou que assim que chegou à cidade, aos nove anos, brincava muito com água, principalmente no calor. E agora, quando falta água na torneira ou na cisterna, o sonho é que volte rapidamente. Ela contou ainda que há dias certos para a água cair nas casas no bairro. “Parece até brincadeira, mas é verdade. Aqui na minha casa, a água cai às segundas, quartas e sextas-feiras, sempre umas 7h30. Quando chega perto das 10h, mais ou menos, para. Volta lá pelas três horas da tarde e depois para de novo. À noite, quando cai, é sempre por volta das 20h. Isso acontece às segundas, quartas e sextas-feiras. Às terças, quintas, sábados, domingos e feriados, compro galão, quando é possível um vizinho me cede. E quando consigo armazenar água, guardo para limpar a casa, fazer comida, o principal né, porque o resto não consigo. E isso não acontecia na minha infância, não mesmo”, lamentou.
Bairros ‘contemplados’ com água e outros não
Bairros como Vila Moreira, Novo Cavaleiros, Granja dos Cavaleiros, Firmas, ora são ‘contemplados’ com água, ora não. O morador Messias Sena, que mora na Vila Moreira há 12 anos, vive o drama de dias com água e dias sem. Segundo ele, os bairros, entre eles também o Vale Encantado, são margeados por empresas e prédios. A parte baixa da Vila Moreira tem sorte, segundo ele, de ter água, já que a bomba que leva água para as casas está localizada na parte baixa do bairro, mas as casas localizadas na parte de cima, sofrem, e como sofrem, segundo ele. “É assim. A bomba traz sim água para minha casa, mas têm dias que ficamos sem. Mas a situação piora para os moradores dos Novos Cavaleiros e Granja dos Cavaleiros. E quando a água acaba, é contratar caminhão pipa, pedir ajuda para vizinho para tomar banho. E todo o dia é assim, principalmente para quem mora no Novos Cavaleiros, Granja dos Cavaleiros e Vale Encantado.