O 2º Fórum de Mobilidade Urbana da Região dos Lagos, que acontece nesta quarta-feira (22), às 13h30, no Malibu Palace Hotel, em Cabo Frio, reúne técnicos, gestores e representantes da sociedade civil para discutir deslocamentos e soluções de tráfego na Costa do Sol. Mas um tema central para a mobilidade regional não aparece na programação: a Estrada do Nelore, via de 2,5 quilômetros que poderia interligar Arraial do Cabo, Cabo Frio e Búzios sem a necessidade de passagem pela Rua Samuel Bessa, no bairro Jacaré — trecho urbano estreito, sinuoso e congestionado, marcado por desordem e risco de acidentes.
A ausência da Estrada do Nelore no debate contrasta com o consenso técnico sobre sua relevância. A pavimentação da via é considerada a única alternativa concreta para desafogar o tráfego que hoje atravessa bairros residenciais de Cabo Frio e para criar um eixo viário direto entre os três principais polos turísticos da região.
A proposta voltou à pauta pública em 2021, durante o governo José Bonifácio, quando à Prensa noticiou que a estrada poderia ser viabilizada por meio do Fundo Soberano do Estado do Rio de Janeiro, criado pela Emenda Constitucional 86/21, de autoria do então presidente da Alerj, André Ceciliano (PT).
Na ocasião, o presidente do Conselho de Turismo da Costa do Sol, Marco Navega, afirmava que as “obras de infraestrutura são fundamentais para alavancar a economia e o turismo na região”. Ele destacava “a necessidade de abertura da Estrada do Nelore, que vai dignificar a ligação viária entre Arraial do Cabo, Cabo Frio, Búzios e demais municípios da região”. Segundo Navega, a pavimentação da via era uma demanda direta apresentada ao governador Cláudio Castro, que “prometeu asfaltar a Estrada do Nelore”.
A mesma reportagem registrava o argumento de Ceciliano, à época, sobre o papel do Fundo Soberano. “É hora de pensar o estado de forma a diversificar a nossa base produtiva para aumentar a receita, que é o nosso grande problema”, disse. Segundo ele, o fundo deveria financiar “investimentos de infraestrutura, ciência e tecnologia, novos produtos e projetos que gerem emprego e riqueza no estado”.
Três anos depois, nenhuma obra foi iniciada. O trecho permanece sem pavimentação, e a promessa segue sem cronograma. Para urbanistas e representantes da sociedade civil, isso evidencia o desalinhamento entre discurso técnico e decisão política.
Além da falta de prioridade governamental, há pressões econômicas locais. Informações de bastidores apontam resistência de comerciantes da Rua dos Biquínis, que temem perda de movimento caso a nova via se torne a principal rota entre Cabo Frio e Arraial do Cabo.

O histórico de impasses é anterior. No governo Adriano Moreno, a prefeitura tentou reorganizar o tráfego da região com a implantação de mão única na Rua Samuel Bessa. A medida durou pouco: na madrugada seguinte, placas de sinalização foram arrancadas, e a alteração precisou ser revertida.
Para especialistas, discutir mobilidade urbana na Costa do Sol sem incluir a Estrada do Nelore é negligenciar o elo mais lógico da malha rodoviária regional. A pavimentação do trecho representaria não apenas uma solução para o trânsito local, mas um passo estratégico para o turismo e a integração econômica de três dos destinos mais importantes do litoral fluminense — um projeto que, até hoje, permanece travado entre promessas e disputas de interesse.
 
								 
						 
											

