Por Mauricio Figueiredo
Falar do Racismo é necessário e urgente. Um câncer que se instalou nestas terras há mais de 300 anos, trazido caravelas portuguesas e que se disseminou como um vírus em muitas mentes e corações até os dias de hoje. Tratar deste tema que é tido como um tabu (mais por conveniência do que por outros motivos) é a nossa luta diária e longínqua, desde os nossos ancestrais.
Ser preto é um ato de sobrevivência. Enumerar as circunstâncias para tal situação de maneira escrita daria enciclopédias de incontáveis volumes, dada a relevância que a desigualdade racial e as consequências que trazem para as nossas vidas. A frequência e assiduidade de negras e negros nos espaços são a cada dia mais reivindicadas por nós e acaba sendo um alento, mesmo que ainda longe de uma solução final.
O Brasil vive um momento de “trevas”, tanto de pensamento quanto de governabilidade. Não que isso esteja acontecendo somente agora. Esse modus operandi vem de longe, mas nos dias de hoje, as pautas raciais têm sido agravadas e negligenciadas por um sistema político e governamental, como também por grande parte de nossa sociedade. O negacionismo por parte das elites, no que envolve as lutas de negras e negros, se torna a cada dia mais evidente. Essa ferida que não cessa em cicatrizar, se torna mais aberta, quando as políticas públicas e as iniciativas até hoje conquistadas com sangue e suor pela população negra, se tornam minimizadas e esquecidas pelas esferas de poder que regem esse país.
Temos como consequência é o aumento exponencial de atos de racismo, violência policial contra negras e negros, injúrias raciais agravadas pelas redes sociais onde as punições são mínimas, o descaso com as comunidades periféricas, rurais e quilombolas, entre tantos outros sintomas graves. Eles só nos mostram o quanto ainda temos muito que avançar nesse enfrentamento eterno e duradouro contra o racismo.
As soluções e iniciativas para o combate são inúmeras e cada Preta e Preto que sofre sabe muito bem o que deve ser feito e como. Intelectuais, estudiosos, militantes, combatentes de todas as categorias têm em seus estudos, escritos, falas e ações, todas as maneiras possíveis e imagináveis para esse enfrentamento. O momento é grave e sabemos muito bem as armas que temos que usar contra o inimigo comum.
O “Ubuntu”(termo africano de unidade) deve ser cada vez mais usado entre nós. No meu entendimento, temos que ser consumidores de tudo que é feito por Pretas e Pretos. No campo acadêmico, das artes, esportivo, cultural, de vestuários, de acessórios, das ideias, entre tantas áreas e manifestações onde a nossa digital é inserida, temos que consumir e propagar, como forma de cada vez mais dar visibilidade, crescimento a tudo aquilo que fazemos de melhor. Uma boa pedida nestes tempos é: Preto consome, compra, adquire e potencializa tudo aquilo que é produzido por pessoas pretas. Assim podemos contribuir de certa forma para reverberar cada vez mais, tudo aquilo que é nosso. Tudo aquilo que a nossa negritude propõe a fazer e a faz muito bem!
O afeto mútuo não pode ser por ocasião. Todos nós viemos da mesma Mãe África e esse pertencimento é a chave para atingirmos os nossos objetivos. Não precisamos de nada e nem de ninguém que a sociedade racista nos impõe. Somos descendentes de reis e rainhas, isso é motivo suficiente para mudarmos esse paradigma que ainda nos silencia, nos escraviza e nos mata.
O amor que temos que ter aos nossos será uma das saídas para a continuidade da resistência e da sobrevivência. O acolhimento e empatia entre nós são poderosas ferramentas para que o nosso povo preto continue ativo e potente!
As futuras gerações dependem da nossa altivez e determinação. Temos a certeza que o nosso futuro será brilhante, pois o presente está sendo moldado de uma maneira onde nenhum passo será recuado.
Olhar para o meu filho é saber que tudo que fizemos para combater o racismo não foi em vão. O empoderamento do nosso povo preto é cada vez mais visível, intenso e vivo. O mundo será um lugar mais igualitário e o caminho para esse objetivo vem de longe. Com o olhar esperançoso, acredito que esse nosso futuro se encontra cada vez mais perto. A luta e a resistência de hoje são as provas de um belo amanhã para todas as pretas e todos os pretos do mundo!