Do Quilombo da Rasa, em Armação dos Búzios, para a Universidade de Harvard, em Cambridge, Estados Unidos. Autora do livro “Revolta do Cachimbo — a luta pela terra no Quilombo da Caveira”, publicado pela Sophia Editora, Gessiane Nazário será uma das palestrantes do seminário Mellon-Sawyer, que proporcionará discussões sobre o tema “Cidadania afrodescendente: mobilização, contestação e mudança”.
Promovido pelo Instituto de Pesquisa Afro-Latino-Americana no Centro Hutchins para Pesquisa Africana e Afro-Americana, de Harvard, o encontro busca entender a contestação contemporânea sobre cidadania e pertencimento dos afrodescendentes na América Latina, situando as lutas dentro de padrões históricos de longo prazo de construção nacional, estratificação racial e mobilização política. A participação de Gessiane está confirmada para 15 de setembro, data de abertura do evento que segue a abril de 2024.
Gessiane teve seu primeiro contato com o Instituto de Pesquisas Afro-Latino-Americanas em 2018, quando selecionada para participar de um workshop de teses. No mesmo ano, junto com outros educadores de todo o Brasil – sob articulação de uma das fundadoras da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas (CONAQ), Givânia Silva –, a pesquisadora participou da criação do Coletivo de Educação da CONAQ, cujo objetivo é discutir e incidir politicamente as pautas ligadas à educação quilombola em todo o território nacional.
– O convite para integrar o Mellon-Sawyer chegou em julho deste ano. Vou palestrar representando o coletivo de Educação da CONAQ. Minha fala será em torno da construção do Movimento Quilombola e suas contribuições para a garantia de direitos das pessoas quilombolas no Brasil, bem como o papel da Educação nesse processo.
Além de Gessiane, o painel de introdução também terá participação de Juliet Hooker, da Universidade Brown (Rhode Island, EUA); do pastor Elias Murillo, do Fórum Permanente da ONU sobre Pessoas de Descendência Africana; e de Tianna Paschel, da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), com moderação de Yanilda González, da Universidade de Harvard/ALARI.
Sobre a obra | “Tira o cachimbo da boca”, ordenou, na década de 1950, o então proprietário da Fazenda Campos Novos, o italiano Antonio Paterno Castelo, o Marquês, aos trabalhadores rurais. O ato de repressão desencadeou uma das maiores reações de resistência da história da Região dos Lagos, Rio de Janeiro. Esse é o moto de “Revolta do Cachimbo — a luta pela terra no Quilombo da Caveira”, obra assinada por Gessiane Nazário. Em 232 páginas, a autora traça um cenário completo, do ponto de vista econômico e social, de um período de mais de 60 anos, desde a compra de Campos Novos pelo industrial Eugênio Honold até as consequências da Constituição Federal de 1988, já dentro do contexto de ressignificação da luta quilombola, em termos da busca por direitos da população negra descendente de escravizados.