Por Renata Souza
Bem, sobrevivemos ao 1º de janeiro de 2019! Mas não sem baixas e perdas irreparáveis.
Como professora de Sociologia ando muito preocupada com as configurações do ministério da educação, (e de todos os ministérios) que tem como ministro um professor da Escola de Comando e Estado-maior do Exército, até aí tudo bem. Nada contra os professores das escolas militares, eu mesma já fiz prova para ser professora de um Colégio Militar, mas ele é um ferrenho defensor da escola sem partido. Aí sim, motivos para preocupação.
Antes mesmo da posse, do novo presidente eleito, já houve um movimento grande com uma senhora eleita deputada que criou um canal de denúncias e fez apelos nas redes sociais para que pais e alunos vigiassem e denunciassem os professores doutrinadores. Ao ler essa reportagem, me questionei para saber na escala da doutrinação, em qual número eu me encontrava. Afinal, sou professora e não eleitora do presidente eleito, logo uma forte candidata ao posto de professora doutrinadora.
Mas antes da escala eu quis compreender melhor o que esses indivíduos estavam entendendo por doutrinação. Porque não me lembro em minha pequena trajetória, leciono desde 2012, como professora de ter feito doutrinação. Mas nem sei ainda o que entender como doutrinação. Porque a Constituição Federal de 1988 me garante liberdade de expressão e a LDB de 1996 a liberdade de cátedra. Então ensinar meus alunos a pensar de forma crítica, desconfiar das verdades absolutas, estranhar o familiar e questionar os extremos é um oficio até então, lícito.
Mas ainda tenho dificuldades porque as ideias e planos da escola sem partido são tão genéricos que eu sinceramente não consegui medir o meu IPD, ou seja, índice de Professora Doutrinador@. Criei agora esse índice! Rs. Não podemos aceitar censura em nossas salas de aula. Temos que continuar construindo o conhecimento através do diálogo democrático.
Falta objetivar o que essa “galera” tá batendo no peito e chamando de doutrinação. Uma séria e grave falta de conhecimento e ignorância está governando o Brasil! Essa afirmação encontra argumentos suficientes na grande quantidade de disparates que foram propalados durante a campanha e até mesmo no discurso de posse do presidente e dos componentes do seu governo. Uma delas é o ataque a um dos maiores educadores do Brasil.
Como assim “expurgar a ideologia de Paulo Freire”? Uma fala como essa, de um presidenciável, só assina recibo da sua incompetência, ignorância e falta de sanidade para o cargo. Se as ideologias de Paulo Freire e os professores doutrinadores são uma ameaça e um problema para o novo governo, a meu ver eles deveriam ficar é bem tranquilos, afinal, ele foi eleito, logo os professores doutrinadores e as ideologias de Paulo Freire já andam meio fracas aqui no Brasil.
Renata Souza é Professora de Sociologia e Mestra em Sociologia Política