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Praia de Manguinhos no passado, é claro
 Por José Carlos Alcântara
Praia de Manguinhos no passado, é claro
Praia de Manguinhos no passado, é claro

Eugenne Honold, alemão de nacionalidade e empreendedor por natureza, foi o maior dono de terras em Búzios no passado. Proprietário da Fazenda de Campos Novos, comprou terras que avançavam por toda a península até os Ossos, para fazer uma grande plantação de bananas. A produção era escoada inclusive para a Europa, através dos vapores da Blue Star. Ele pretendia também, puxar o ramal ferroviário de São Pedro da Aldeia, para levá-las, por trem, para o Rio de Janeiro. Foi uma grande plantação, que empregou quase que a totalidade dos então habitantes de Búzios. 

 

Mas, um incidente entre o feitor e um trabalhador, produziu uma revolta, seguida de um incêndio em toda a plantação. Honold abandonou Búzios. Só muito depois seus herdeiros se deram conta da imensidão das terras que ele deixara e fundaram uma companhia – a ODEON – que deu origem ao que sua neta Gilda descreve aqui neste emocionante depoimento, como os primórdios do lugar que se tornou Búzios: “A primeira vez que fui à Búzios foi em 1927, quando eu tinha 14 anos. Conheci então a fazenda Campos Novos, a passeio, com meu avô. 

 

Nós íamos de Campos Novos a cavalo e, mais tarde, num pequeno Ford. Não havia estrada. Foi assim também que meu avô descobriu Búzios: a partir de excursões saindo de Campos Novos. Ficou encantado e começou a comprar terras. Naquela época não custavam nada. Comprou tudo o que pôde e depois fez uma estradinha que ia de Campos Novos à Búzios. Andei muito quando menina por essa estrada. Levávamos pelo menos uma hora da fazenda à Búzios.

A fazenda tinha aproximadamente uns 40 Km2, avançando por dentro da península de Búzios e não havia nenhuma casa. Apenas alguns casebres. Mais tarde, ganhei do meu avô uma casa na Armação e que está lá até hoje, a Casa do Sino, que tinha sido um antigo depósito de escravos e, depois, um armazém. Com as restrições da Inglaterra ao comércio de escravos para o Brasil, os navios negreiros realizavam seu comércio ilegal através de Búzios. Na casa do meu cunhado Luiz Raphael, que era um pouco mais adiante, também na Praia de Armação, esses escravos eram vendidos. São histórias que ouvi do meu avô. Mas, o Joaquim Sampaio era quem melhor conhecia Búzios. Era companhia constante do meu primo Luiz Reis. Companheiros inseparáveis, através de quem, ficou conhecendo Búzios.

Meu avô, com aquelas terras todas, ficou imaginando um negócio e resolveu plantar bananas. A plantação ficou maravilhosa… No caminho entre Campos Novos e Armação (quase até os Ossos), sucediam-se os pés de bananas. Milhares deles. Mas havia problemas com a mão-de-obra local naquela época, quase toda de pescadores, que não estavam habituados a cuidar de plantações. Meu avô, então, contratou um americano, tipo aventureiro, chamado Queensland, que ficou sendo o feitor da plantação. A coisa estava indo, o pessoal todo trabalhando, mas houve um episódio muito triste: um cachorro mordeu o feitor americano e ele, com um facão cortou uma das pernas do cachorro. O pessoal tomou tanta raiva dele, que queimou – da noite para o dia – todas as bananeiras do meu avô. Acabou-se a plantação.

Eles gostavam muito do meu avô, a quem chamavam de Haroldo – mas não puderam conter a raiva. O negócio até então estava indo bem. Vendiam-se os frutos até para a Europa. Ele tinha planos grandiosos: queria puxar um ramal da estrada de ferro, que nessa época ia até Cabo Frio, especialmente para escoar a plantação de bananas. Quando a plantação começou, as bananas saíam de Búzios, de Armação, de barco para o Rio de Janeiro. O projeto da linha férrea, como tudo o mais, foi abandonado.

Entre os fatos ocorridos naquela época e de que me lembro bem, está o dia em que a família real (que já não estava no poder) D. Pedro (pai do atual D. Pedro Orleans e Bragança) e sua esposa Dna. Elisabeth, tiveram que empurrar o carro em que vinham de Cabo Frio e que atolou… A gente levava tudo na farra, mas a viagem não era fácil. Sem bananas e com a morte do meu avô, Campos Novos e Búzios foram abandonados. Só muito mais tarde, meu cunhado, Joaquim, começou os primeiros loteamentos. Búzios, que perdera sua única atividade econômica – isso foi por volta de 1950 – ficou destinada ao turismo. Joaquim conheceu Bento Ribeiro Dantas e juntos começaram a desenvolver o que era Búzios.

 

José Carlos Alcântara é consultor empresarial e Assessor da Presidência da ACRJ Associação Comercial do Rio de Janeiro
José Carlos Alcântara é consultor empresarial e Assessor da Presidência da ACRJ Associação Comercial do Rio de Janeiro

Ele, Joaquim, foi o verdadeiro precursor de Búzios e quem atraiu os primeiros veranistas, que construíram casas de fim-de-semana. Ele – como fez meu avô – comprou ainda mais terras. Acreditava no futuro de Búzios. Eu própria, não comprei nada. Eu apenas conservei a minha casa.” – Gilda de Oliveira Sampaio, neta de Eugenne Honold, casada com Paulo Sampaio, bisavô de Octavio Sampaio, que reuniu diversos herdeiros da ODEON para criar os primeiros empreendimentos da atual Armação dos Búzios.

Noticiário das Caravelas

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Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

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