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A linguagem é necessária para entender a opressão! Uma afirmação digna de reflexão, tanto para se perceber alguém enquanto reprodutor de opressões quanto para se questionar até em que ponto se pode usar uma expressão ou outra. Calma, não é uma ditadura do politicamente correto, até porque o incorreto de hoje, sempre foi o correto, endossado em dicionários e gramáticas da vida.

Endossar uma fala, um comportamento, um trejeito se relaciona com n questões. Reproduzi-las sem qualquer questionamento também. Afinal, com seres sociais e sociáveis que somos, se adequar em espaços, em movimentos, em processos, em associações, faz parte daquilo que chamamos de humano. Ainda sim, perguntamos, ou pelo menos, deveríamos perguntar se nossas adequações e reproduções agregam ou oprimem.

A língua, além da óbvia função comunicativa, localiza os sujeitos nos espaços. Como assim? Sabe aquela divisão entre Linguagem Culta e Linguagem Coloquial, ensinada quase sem nenhuma crítica no Ensino Básico? Ela tem uma função mais profunda do que se imagina porque ela simplesmente divide pessoas em seus círculos.

Descomplica, por favor. Você associa o suposto bom uso da língua portuguesa a um tempo maior nos balcões escolares e a maior renda. Por conta disso, o tratamento para com este indivíduo é um e aquele usuário da língua com menos habilidade, por assim dizer, associa-se a menos tempos na escola e consequente menor renda, logo o tratamento para com este indivíduo é outro.

A linguagem culta e a linguagem coloquial funciona como hierarquização de pessoas, antes de mais nada, supõe identificar a classe da pessoa a partir de como ele manuseia a língua materna. Só para constar, segundo a linguística, ser um bom usuário da língua tem mais a ver com sua capacidade de se comunicar, do que outra coisa. Falar bem significa seu interlocutor entender: quem você conversa, te ouve, te lê, entende o que você fala.

Pois bem, além da hierarquia impositiva, se perceber a escolha de expressões e adjetivações pode definir como você enxerga e transita na sociedade. Como você constrói sua sentença diz muito sobre você. Uma frase não é somente uma frase, ela pode ser o seu RG. Tanto a que você profere, quanto a que você ouve.

Uma agressão verbal só é agressão porque se interfere de modo significativo na psiquê do outro, a ponto de causar profundo desconforto, além possíveis doenças psicossomáticas. Existem ainda aquelas frases e termos proferidos, de forma naturalizada, que são problemáticas por invocar signos, símbolos opressores.

Denegrir é um verbo. Usa-se, geralmente, para atribuir alguém para algum aspecto nocivo, negativo, inferior. Denegrir também é torna-se negro. Negro é uma categoria de pessoas oriundas de África, escravizadas por quase cinco séculos nas Américas. Pessoas consideradas inferiores, sub-humanas, nocivas. Entende o problema?

Assim como cabelo ruim, mulata, preto de alma branca são expressões complicadas porque remetem a ideias estereotipadas de pessoas a partir de uma hierarquia de valores, de crenças, de uma identidade padrão em detrimento a diversidade de pessoas. Somos reprodutores de linguagem opressoras porque assimilamos o mundo dessa maneira. Consideramos normal tratar o outro assim, sem considerar o outro, muitas das vezes.

Só que o outro entende ou, pelo menos, se dispõe a entender que a linguagem é fundamental para se estar na sociedade de forma digna e respeitosa. E adequar a sua fala, a sua comunicação é essencial para realmente se respeitar aquele/aquela que está a sua frente. Por que a linguagem é necessária para entender a opressão? Porque, com ela, você define seu locus no Mundo. Define como vê o Mundo e como você quer o Mundo. Sacou?

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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