Búzios fervendo com os acontecimentos políticos da última semana. André Granado retornou à cadeira de prefeito, depois de quase 50 dias de afastamento, revogando todas as medidas tomadas pelo prefeito interino, Henrique Gomes, seu vice, durante o período.
A decisão da juíza Denise Levy Tredler tomada no fim da tarde da última sexta-feira(26), desencadeou uma série de acontecimentos que o Prensa relatou durante a semana:
André Granado reassume o cargo de prefeito de Búzios
Mudanças no secretariado marcam retorno do Prefeito de Búzios, André Granado
As mudanças trouxeram um clima de animosidade no grupo político que rachou em dois, e acalorou a administração pública.
Conversamos com o vice-prefeito Henrique Gomes na manhã desta quarta-feira(31), em meio à ligações de aliados políticos, imprensa e amigos. Henrique contou a sua versão dos fatos, acompanhado de Messias Carvalho, que exercia o cargo de secretário de administração, e foi um dos exonerados na lista de mudanças feitas por André em seu retorno à prefeitura.
Henrique revelou não entender a atitude de Granado, que trocou as fechaduras e exonerou parte significativa de seus secretários de confiança. À essas atitudes, Henrique classificou próprias de alguém em ‘desequilíbrio mental’, argumento que utilizou não apenas com o Prensa, mas em entrevista à Rádio Litoral na manhã desta terça-feira(30), no Programa do Radialista Ademilton Ferreira.
“Não entendo os motivos de André, em tomar esse tipo de atitude, poderíamos ter conversado. Ele retornaria às suas funções de prefeito e eu voltaria a exercer, como sempre fiz, meu cargo de vice-prefeito. E se alguma das ações que realizamos, atendendo à recomendação do MP e a ordem da justiça, que determinou o chamamento obrigatório dos concursados de 2012, não estivesse dentro do que o prefeito acreditava que devesse ser feito, que refizesse, desfizesse, mas não dessa forma, do jeito como tudo foi conduzido”, comentou Henrique demonstrando chateação.
Prensa de Babel: Então não houve nenhum tipo de reunião ou encontro entre vocês? Nenhuma conversa?
Henrique Gomes: Não, desde quando saiu a decisão, não mais nos encontramos pessoalmente. Na segunda-feira, as fechaduras da prefeitura estavam trocadas, foram trocadas na madrugada de sexta para sábado, os servidores esperavam na frente da Prefeitura a manhã toda sem explicações, sem saber se poderiam ou não trabalhar. Aguardando por decisões com todo o sistema da prefeitura parado. E quanto a mim, não houve reuniões. Somente na terça, no meio da tarde recebi uma mensagem no WhatsApp [nesse momento o vice-prefeito mostra a mensagem no celular] convidando para uma reunião, que neguei, dizendo que depois de tudo havia ocorrido não teria mais nenhum assunto para tratar e desejei sorte e sucesso. Ele ainda insistiu na reunião, mas acredito que não há mais nada a ser conversado.
Prensa: Diante disso, podemos afirmar que houve um racha? Estamos vendo o nascimento do grupo político de Henrique?
Henrique: Sim, nasce um grupo político, que deseja que André permaneça no cargo até o final, cumpra seu mandato com sabedoria, e se prepara para disputar as eleições em 2020. Não tenho nenhum interesse em ser o candidato do governo, tenho pessoas amigas e que estarão comigo nesse projeto de cuidar da cidade. André tinha que dar respostas aos órgãos, ele foi afastado porque não o fez, e que acabou por mostrar detalhes que ele não queria revelar.
Prensa: Vou pontuar alguns tópicos e o senhor responde, pode ser?
Henrique: Claro.
Prensa: O que realmente levou ao pedido de demissão do então secretário de Governo e Fazenda Kleber Ferreira?
Henrique: Kleber se demitiu no momento em que estava vencendo o prazo de uma auditoria interna em que tinha que assinar pelo desvio de mais 87 milhões de reais. Ele teria que assinar a responsabilidade, de um pagamento sem empenho, então ele se demitiu. Ele tinha que resolver e não resolveu. Perguntei a ele como ele iria resolver esse desvio, e ele se demitiu.
Prensa: O senhor então afirma que é desvio?
Henrique: Sim, é desvio, a lei de responsabilidade fiscal não permite que você pague nada sem empenho. E esse empenho nada mais é do que encaixar o orçamento nas rubricas corretas. Não havia as dotações corretas. Mesmo tendo o dinheiro, sem dotação não pode pagar. E eles pagaram.
Prensa: Alguns falam que suas ações seria um golpe. O que tem a dizer sobre isso?
Henrique: Isso não existe.Quem tirou o André do cargo foi o Juiz. O que seria um golpe? Eu sou o vice-prefeito e não estou mais na Prefeitura, não quero mais gabinete nem carro oficial. Estou cuidando da minha vida e em buscar os interesses da sociedade como Homem Público. Não vou deixar de cumprir meu papel como vice, de fiscalizar a “coisa pública”, de estar na sociedade cumprindo meu papel. Não serei um segundo Muniz, independente de qualquer coisa não vou atrapalhar a cidade por causa de briga política, a cidade hoje está doente, a saúde orçamentária e financeira do município está doente. Eu seria um irresponsável se visse tudo que eu vi nos últimos 50 dias e ficasse calado. As pessoas especulam o que não existe. Fiz o que precisava ser feito.
Prensa: Pode citar alguns desses feitos?
Henrique: Vou tentar pontuar alguns:
Não posso compactuar com o que estava havendo nas blitz, por exemplo, o turista chegava aqui na sexta-feira, ficava com o carro apreendido, ficava a pé, podendo resolver só na segunda-feira. Saía da cidade reclamando, claro. Era um desserviço.
Sobre os concursados: tinha uma ação em movimento, chamei os que podia, e ainda tem que chamar os concursados da Educação. André precisa chamar esses concursados sob pena de se complicar ainda mais. Era preciso cumprir a sentença da Justiça, e eu cumpri. São 90 vagas para a Saúde, 39 para outros setores e 90 para a Educação, que só seguramos um pouco para chamar próximo ao recomeço do ano letivo.
Sanear os comissionados era uma segunda etapa, para trabalhar o saneamento das contas públicas.Veja o absurdo: pagava-se 400 mil reais de horas extras, 5 milhões/ano, um funcionário recebia R$1.240 de salário e com extra na folha ia para R$7.800. Não havia limite de hora extra e isso certamente atrapalha a “coisa pública”. Tem coisas que não são ilegais mas que torna o trato com a “coisa pública” no mínimo, imoral.
Na Maria Joaquina, por exemplo, as pessoas mendigavam por atenção do governo: saúde, educação, moradores daqui sofrendo, fizemos um TAC, para manter esse atendimento até a definição da linha divisória do município.
Prensa: Podemos dizer que as medidas que tomou durante esse período, agradaram a população, mas não ao prefeito André Granado?
Henrique: Eu só posso entender dessa forma. Mas eu não posso estar acima do que a população quer, é preciso ouvir a população e entender o que ela quer, acima de mim ou de qualquer gestor. Todas essas medidas foram conversadas, todos os secretários que foram exonerados estavam nas discussões. E foram exonerados, não por corrupção ou por má gestão, foram exonerados por contribuir com as melhorias para o município.
Prensa: Se fala em possibilidade de uma eleição suplementar ainda para esse ano. O que senhor acha?
Henrique: Esse é outro tema, outra ação judicial, e já com a última decisão, que saiu no mês passado. O entendimento que tenho é que esse assunto já está superado. Esse caminho, pela decisão em Brasília, já estaria definido. O que se entende é que focados nessa ação que levaria a uma eleição suplementar, perderam o timing do recurso para ação que o afastou pela quarta vez. Essa é uma das hipóteses, o que joga por terra qualquer ideia, ou qualquer teoria conspiratória sobre golpe. Acho muito difícil acontecer uma nova eleição. Quem fala isso, é porque está querendo assegurar seu grupo político unido em torno de seu nome. A população sabe quem é, e não preciso dizer que é um Martins qualquer da vida.
Prensa: Como avalia os efeitos de toda essa instabilidade política no município?
Henrique: Uma situação de instabilidade no município não é bom para ninguém, nem para a cidade nem para o morador, nem para o turismo e muito menos para os empresários que ficam sem saber como agir. Até quando a máquina vai funcionar? Quem é o prefeito? A cidade fica parada cada vez que ele [André] entra e sai. Eu desejo muito que ele finalize o mandato. O que me preocupa é quem vai herdar o município daqui há dois anos.
Prensa: O que tem a dizer do grupo de secretários e outros nomes que foram exonerados após o retorno do prefeito André Granado?
Henrique: Saio do grupo político do André porque discordo da gestão, de como tudo está sendo conduzido. Fico feliz que o grupo que saiu do governo, sai comigo por concordar com as medidas que tomei nesses 50 dias. Ninguém sai por corrupção ou por má gestão, por exemplo.
O que diz o prefeito sobre as declarações de Henrique Gomes
O Prensa fez contato com o prefeito André Granado, através de mensagem no WhatsApp, na segunda-feira(29) e novamente na quarta-feira(31) para falar sobre as mudanças do governo com a sua volta à Prefeitura. André garantiu que receberá o Prensa para uma entrevista na próxima semana.
com apoio de Maria Cecília Isaurralde