O deputado federal eleito Marcelo Freixo falou nesta tarde de sexta-feira(14) numa coletiva de imprensa na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), sobre o plano, interceptado pela Polícia Civil, de assassinar o deputado em uma atividade neste sábado(15), em Campo Grande, na baixada fluminense.
À imprensa Freixo falou sobre a interceptação ter ocorrido na semana que completam dez anos da CPI das Milícias presidida por ele à época e que condenou diversos milicianos envolvidos em esquemas. No relatório final, em 2008, a comissão pediu o indiciamento de 266 pessoas, entre elas sete políticos, suspeitas de ligação com grupos paramilitares no RJ.
Sobre as Ameaças
A sensação é muito ruim, são muitas ameaças ao longo desses dez anos, e ameaças de origens distintas e todas sempre, comunicadas pela Secretaria de Segurança, como foi essa. É inadmissível que em pleno século XXI no Rio de Janeiro, uma vereadora seja brutalmente assassinada, sem que o crime tenha sido esclarecido. Temos um grupo criminoso dominando uma quantidade grande de território capaz de ameaçar, matar e explorar uma quantidade tão grande de gente.
São milhares de pessoas ameaçadas e que não tem chance de se defender como eu tenho. São moradores de bairros inteiros dominados, que gostariam de estar aqui denunciando e que não tem essa chance. Esse moradores não tem liberdade de ir e vir, de comprar gás onde quiser, pessoas que são extorquidas, silenciadas.
Nunca trabalhei contra milicianos de grupos A ou B, nossa defesa sempre foi pela lei e pelos direitos. O Brasil é um dois países do mundo que mais mata defensores de direitos humanos, perdendo para países como as Filipinas, por exemplo. Somos o país em que mais morrem policiais no mundo. A concepção de segurança pública que se tem hoje é que direitos humanos atrapalha. É uma cultura de guerra e violência,e com isso temos defensores e policias mortos.
Defensor de direitos humanos não é defensor de bandido, pelo contrário, os bandidos querem matar os defensores de direitos humanos. E isso fica bem claro, nessas ameças. É uma crise da democracia. A milicia é um dos poucos grupos que transforma o domínio territorial em domínio eleitoral, e por isso ela interessa a muita gente, a grupos políticos. Por isso é pouco enfrentada e dificilmente algum governador oferece um plano para enfrenta-las.
São dez anos de um relatório apresentado que nunca saiu do papel, milicia é mafia tem estrutura de poder. Para enfrentar tem de ter vontade politica. Lamentavelmente termino esse ciclo de 12 anos na Alerj com as propostas da CPI no papel. Esse relatório serviu para prender uma quantidade enorme de pessoas, inclusive membros dessa casa, mas esse ciclo de poder só termina quando o poder econômico for retirado da milicia. Enquanto isso, eles continuam a matar e ameaçar.
Sobre Marielle
As ameaças não são apenas sobre mim, são sobre toda a democracia. Nem a Marielle e nem eu somos maiores que todos que são ameaçados todos os dias. A morte da Marielle precisa ser esclarecida. Quem matou? Queremos saber a motivação. Que grupo político queria a morte da Marielle? Esse é um dos crimes mais sofisticados da historia do Rio de Janeiro. Como alguém em pleno século XXI mata desta forma uma vereadora e o crime segue sem explicação? São nove meses, tempo suficiente para investigação e conclusão do caso. Por enquanto o que temos são só declarações de efeito para ganhar tempo. Se não descobrirmos quem matou Marielle e porque, estamos dizendo que um grupo politico quando contrariado tem legitimidade para matar um promotor, um jornalista, basta que seus interesses sejam contrariados.
Não enho duvida que ela provocou descontentamento, pela brutalidade do assassinato, não conheço os elementos, mas o crime foi sofisticado por isso dificilmente seja um motivo fútil, foi um motivo mais forte do que o que vem sendo apresentado. A milicia domina hoje inclusive o Minha casa Minha vida, sabemos disso, por isso não acredito que tenha ligação com o trabalho que a assessoria dela vinha fazendo em relação à regulação fundiária. As linhas de investigação precisam ser apresentadas, mas seguidas pelos elementos, eles precisam aparecer.
Sobra a mudança para Brasília em Fevereiro
Em fevereiro estou em Brasilia, não tenho condição de ficar sem segurança, ficou provado nessa nova ameaça. Quero deixar claro que escolta não é privilegio, em um dia de sol como hoje seria melhor fazer outras coisas do que ser escoltado. Todas as ameaças que recebi vieram do meu trabalho como homem público. E escolta é uma questão de confiança na equipe, que está comigo há dez anos. E quero manter esse vínculo na Câmara Federal.