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Depois do fervor das eleições municipais e possíveis empolgações, para alguns, vale observar de uma maneira mais ampla e mais pé no chão, sobre seus resultados e apontamentos sociais. Falo do interior do Rio de Janeiro, conservador por excelência e mesmo com mostras de que o bolsonarismo está em declínio, ainda sim, merece uma análise cuidadosa do caso.

Nas categorias ditas subalternas e também categorias reivindicatórias – pretos, mulheres, lgbtqi+, o número de pessoas eleitas foi ridícula, ínfima, em alguns lugares, zero pessoas. Chama a atenção e não só isso, que as pessoas que foram eleitas e que são pertencentes a essas categorias, não adotaram, necessariamente, um discurso ativista.

Vamos lá, cheguei a conversar com um candidato ou outro sobre pautas antirracistas e a percepção foi de que por mais que se tenha uma sensibilidade pessoal para querer assumir a pauta, a campanha geral partiu para o caminho de integridade e seus valores: esforço, retidão, fiscalização, empenho e trabalho.

A pauta reivindicatória passa de uma maneira quase leve, talvez por existirem alguns apoiadores, sejam pretos, mulheres ou lgbtq+, ou por se ter essa pauta recortada, mesmo que quase invisível, passe uma noção de um candidato preocupado com as questões sociais. E mesmo a candidata apresentando a identidade interseccional, mulher e preta, a opção de campanha foi pelo caminho da integridade.

Identidades, por si só, podem ser consideradas suficientes para se ter reivindicação? Representatividade importa apenas por que a pessoa é? Sem uma resposta conclusiva, os números de eleitos das categorias identificatórias e reivindicatórias deveriam ligar o sinal de alerta para quem acredita ou se acha parte de algum movimento social.

Como andam os movimentos sociais no interior do Rio de Janeiro? A quanto tempo essas pautas são motivos de pressão, comoção e organização da sociedade. Qual político regional, dos eleitos tem alguma sensibilidade com relação a essas pautas? Um exemplo básico: o candidato a prefeito eleito de Cabo Frio foi comemorado porque freou, momentaneamente, a onda bolsonarista, mas qual é pauta dele para a população preta, para as mulheres, para os lbtqi+?

Nem precisou entrar no mérito para se eleger, né? E aí, por que não? Sem querer colocar as eleições como um fim em si mesmo, os movimentos sociais no interior do Rio de Janeiro foram pulverizados, com ações de um grupo ou outro, mas sem a capilaridade, capaz de sensibilizar corpos, mentes e territórios. A muito, diversos movimentos só atuam com os nomes de seus representantes, sem atuações formativas significativas.

E aí na hora das eleições, viram meros apêndices para políticos experimentados e pessoas que são eleitas ou votações significativas, se pautam em valores de integridade, deixando as pautas de luta para segundo ou terceiro plano. 

O interior do Rio é conservador. Fato! Outro fato para convivermos e aí mudar, caso se entenda que se tenha que mudar, é a retomada dos movimentos sociais. Nomes individualizados, por mais que se mexa aqui e ali, não tem forças diante do tradicionalismo interiorano. Comemorar um nome ou outro pode fazer parte e quem se sente representado, que comemore, mas é pouco, diante da nossa necessidade e urgência, é muito pouco…

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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