Pular para o conteúdo
Search

O ano começou com a expectativa do início do Tepor, terminal portuário de Macaé. Com o anúncio do Plano de diretrizes e iniciativas prioritárias do governo estadual, pelo governador eleito Witzel. Na parte da secretaria de desenvolvimento econômico e geração de emprego e renda, está lá: 180 dias: Implantar o Tepor – Terminal Portuário de Macaé para movimentação de líquidos, petróleo, base de apoio offshore e área logística e industrial onshore.. O fato repercutiu por toda imprensa macaense, revigorando a esperança dos mesmos de sempre que governam a cidade de que agora voltará o tempo da fartura.

O debate acerca de um segundo porto na cidade de Macaé vem sendo feito na cidade, com mais presença, desde a segunda década dos anos 2000. Um pouco antes de iniciar a crise na Petrobrás e indústria do petróleo. Em 2014 houve uma audiência pública viabilizar o projeto do porto. A crise começava a ficar mais aguda, mas ainda assim se formou um contraponto a proposta. Ficou conhecido como movimento Xô Porto, de maneira quase artesanal, produziu conteúdo contestando o EIA-Rima apresentado e teve uma boa participação na audiência pública. Foi suficiente para que o projeto, bem frágil, parasse.

A crise se aprofundou, a presidenta foi deposta em um golpe jurídico-parlamentar e o grande capital passou a dar a direção do país de forma mais direta. Congelaram os investimentos sociais por meio de emenda constitucional por 20 anos. Avançaram em uma reforma trabalhista que tornou mais precária e barateou o valor da força de trabalho. Aqui em Macaé os efeitos da crise foram fortíssimos, com um desemprego de grandes proporções, toda a economia municipal sentiu.

Nesse contexto o debate do porto voltou com força para Macaé em 2018, embalado pelas eleições presidenciais. Durante todo ano foram feitas costuras regionais, marketing político e apresentou-se um novo EIA-Rima. Uma nova audiência pública foi marcada. Era um novo projeto, muito diferente e maior que primeiro. Não era só um porto, a nova proposta engloba um complexo petroquímico, com dois portos marítimos e também uma base para transferência direta de petróleo do navio para o porto no atracamento. Um megaprojeto, do tamanho do grande capital que tomou de assalto o país.

Em novembro de 2018, uma grande audiência pública foi realizada. O prefeito em sua fala afirmou que Macaé perdeu 40 mil postos de trabalho. Se construiu um grande anticlimax na cidade, onde quem tem críticas ou ponderações ao projeto do TEPOR é contra o desenvolvimento e deseja o desemprego.

Essa crise que vivemos deveria ser o momento de Macaé e outras cidade começarem a se repensar. Sair da via única de abastecimento pelo dinheiro do petróleo, pensar em novas possibilidades de existirem. Por exemplo, o turismo. Com a maior rede hoteleira do Estado para fora da região metropolitana e um grande potencial por suas belezas naturais, agora no início do ano a cidade foi citada como destaque do turismo por órgão da Embratur.

A contradição se estabelece quando apostar no TEPOR como saída impacta diretamente com a questão do turismo, pois cria ameaças às belezas naturais. De acordo com o EIA-Rima, impacta na presença de baleias e tartarugas pela região. O complexo tem alto potencial poluidor. Em ofício em que a ONG SOS Pecado contesta o empreendimento, é sinalizado que o EIA-Rima, mesmo apontando graves perigos, não dimensiona os riscos do vazamento decorrente a operação de transferência de óleo direto da embarcação.

O estudo não considera, p.ex., dentre um dos cenários como fonte de poluição, o vazamento na transferência para embarcações ou embarcações para instalações portuária (pois  não ficou explícito em Análise Preliminar de Risco envolvendo carga e descarga das embarcações, a análise de uma ruptura de linhas de transferência pra embarcações e sem mencionar se parcial ou total, tal como feita na Análise Preliminar de Risco dos Dutos). […]

Ausência de estudos que apontem as consequências sócio econômicas decorrente no vazamento de óleo cru e derivados e em especial o não mencionado pelo estudo, nas economias regionais em especial no turismo e atividade pesqueira local e na região afetada por um derrame. Ignora completamente que Macaé, Rio das Ostras, Carapebus e Quissamã possuem grande potencial, pesqueiro, reservas de restinga como p.ex. o PARNA de Jurubatiba, as consequências de óleo nas faixas de areia e até em virtude de ressacas, no interior da restinga e  e lagoasão menciona também os mesmos impactos numa região que possui um grande potencial turístico e além disso interage com grandes polos turísticos da região dos lagos em especial, Rio das Ostras, Búzios, Arraial do Cabo e Cabo Frio, locais a ser severamente impactados, tal como apontado pelo estudo no que consideramos um determinado cenário, segundo o empreendedor o mais grave, porém, mais suave frente ao dimensionamento do projeto, segundo nossa interpretação;

Enfim, não está dado que o porto salvará a cidade, a promessa do governador em nada aponta de material para execução do projeto, que é todo privado. Uma das exigências do órgão estadual para se iniciar as obras do complexo é a construção de uma rodovia para que o trafego dos caminhões durante a obra do complexo, que tem previsão de durar oito anos não impactem o trânsito em Macaé. A rodovia transportuária sequer é mencionada nos planos do governo. Também não se sabe ainda quem vai financiar o empreendimento.

Na próxima segunda-feira, dia 14/01 às 14h no auditório do Paço Municipal da Prefeitura de Macaé, está convocada uma reunião do COMMADS (Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), em que está na pauta o posicionamento do conselho sobre o TEPOR.

É um momento de incertezas, mas decerto que há um forte lobby pela instalação do complexo TEPOR em Macaé, as forças que usufruíram das riquezas do ouro, valorizaram as próprias terras e comandam o cenário político estão apostando tudo, a boca miúda setores da especulação imobiliária já sinalizam os maiores lucros de todos os tempos. Até uma brochura foi publicada ano passada por um dos que ocuparam o poder “Macaé portuária: A luta de uma cidade por seu porto”.  Esses mesmos que agora professam: todos os problemas serão resolvidos, por eles que sequer foram capazes de construir um sistema de esgoto que cobrisse toda a cidade.

Me parece que quem acerta na vocação da elite local é o botânico, naturalista e viajante francês que passou por Macaé no século XIX, ainda durante o brasil Colônia, diz August de Saint Hilarie, sobre o desenvolvimento econômico local baseado no extrativismo da madeira:

“é de crer, entretanto, que devido à imprevidência do cultivador, esse comércio tende a diminuir e desaparecer. Quando passei por Macaé as belas árvores já começavam a se tornar raras e, frequentemente, eram procuradas em florestas muito distantes da embocadura do rio”.

Os governantes desde o Brasil colônia até hoje mantém a mesma mentalidade de extrair sua riqueza e entrega-las ao colonizador. Enfrentar esse processo de exploração do petróleo até a última gota, sem importar a poluição. Desfazer a ideia de que o desenvolvimento a partir da lógica do grande capital é a única salvação, faz parte das lutas que se seguirão no ano de 2019, que apenas começa. Talvez nossa palavra de ordem seja descolonizar, enfrentar o grande capital a partir de nossa realidade local é construir nossa descolonização e pensar em novos tempos.

Matheus Thomaz – Professor do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional e Doutorando em Ciências Ambientais e Conservação

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

Matérias Relacionadas

Cabo Frio sedia Fórum de Desenvolvimento da Região dos Lagos

Tawa Beach Club promete fim de semana repleto de atrações musicais e gastronômicas

Acúmulo de lixo em Itaipava ameaça saúde pública e economia local

Exposição celebra 200 anos da imigração alemã no Brasil

NOTÍCIAS DE GRAÇA NO SEU CELULAR

A Prensa está sempre se adaptando às novas ferramentas de distribuição do conteúdo produzido pela nossa equipe de reportagem. Você pode receber nossas matérias através da comunidade criada nos canais de mensagens eletrônicas Whatsaap e Telegram. Basta clicar nos links e participar, é rápido e você fica por dentro do que rola na Região dos Lagos do Rio de Janeiro.

Receba nossa Newsletter!

Poxa você já está indo? Bem que você, poderia ficar mais um pouco!

Se precisar mesmo ir, não deixe de assinar nossa Newsletter. Todo dia enviamos nossas notícias diretamente no seu e-mail, você fica informado sobre tudo em primeira mão.

Receba nossa Newsletter!

Ahh outra coisa, ao assinar, acesse seu e-mail e confirme que deseja receber nossa newsletter.