Búzios 1 de abril de 2020
Desde o início da quarentena que não faço a barba nem me olho no espelho. Banho sigo tomando normalmente. Quanto ao espelho nunca fui muito próximo. Desde pequeno. Mesmo porque não tem grande coisa para ver lá.
O escritor Sidney Sheldon disse um dia que se você for procurar um amigo, nunca olhe num espelho. Lá, está um desconhecido.
Os espelhos nunca fizeram parte de minha vida. mas me lembro que quando pequeno em Pernambuco tínhamos três em nossa casa. Um pequeno retangular com borda de madeira amarela no banheiro, um maior por dentro da porta do guarda- roupa de minha mãe (mas esse era de difícil acesso), e outro pequenininho e redondo que havia sido do meu avô e hibernava solitário dentro de uma gaveta desde que o mesmo faleceu (nas costas deste espelhinho havia a foto de uma mulher de biquíni).
Nunca me preocupei com a imagem. Desde sempre tentei marca minha presença na sociedade baseado em meus princípios. O narcisismo nunca foi minha praia. Numa era de culto a personalidade, prefiro expor minhas ideias e não minhas rugas.
Admiro aqueles pessoas que postam selfies diariamente nas redes sociais. Parecem felizes o tempo todo. Tenho apenas um adendo. Todas as fotos deveriam vir com uma legenda: foto meramente ilustrativa. Tipo hambúrguer do Macdonald.
Muitas das vezes faço a barba durante o banho. Sinto que a tarefa está completa pelo tato. Gosto de exercitar meus sentidos. Quem se apega apenas a visão perde nuances que só se percebe com o o tato, audição ou paladar. Quem se impressiona apenas com o que vê enxerga pela metade ou menos.
Quando essa loucura passar vou tirar a barba. Ou talvez não! Como tudo mudará depois do coronavírus, quem sabe eu não me acostumarei com o novo estilo?
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