Búzios 30 de março de 2020
Dada a configuração econômica e sociológica da sociedade buziana e acima de tudo seu histórico não violento, acho pouco provável, mesmo se a situação se deteriorar ao extremo, que tenhamos saques em supermercados e lojas. Poderemos ter roubos de ocasião, afinal a cidade está às moscas- principalmente nas madrugadas. Ambiente propício para quem não gosta de seguir as leis.
Um amigo que tem um mini-mercado já encomendou grades para proteger os vidros que servem de portas para seu comércio. Ele me disse também não crer em hordas de pais e mães famintos e desesperados esvaziando suas prateleiras. Teme sim ações de bandidos comuns.
Já tivemos roubos à casas e uma loja foi depedrada no Centro de Búzios. Mas nada ainda fora de controle. Vejo viaturas da PM fazendo rondas ostensivas diuturnamente, mas sei que isso não resolve. Quem decide roubar espera o momento oportuno.
Se aumentar o número de assaltos, furtos e roubos não será por causa da quebra da economia. Não imagino um pai de família por mais desesperado que esteja sair às ruas para assaltar. Ao menos é o que espero.
No entanto ouvi uma conversa outro dia entre dois moradores de rua que me preocupou, essas pessoas recebem ajuda dos transeuntes, de lojistas e dos donos de restaurantes. Entre um gole e outro de cachaça o mais velho decretou: -Se a fome apertar temos aquelas capivaras da Lagoa da Estrada da Usina. Estão bem gordinhas. O outro, no entanto, retrucou: -Mata! Tu vai preso na hora.
Hoje vejo pessoas que nunca pescaram com varas de pesca. Mais que para passar o tempo, alguns estão em busca sim de proteínas. Um desses, garçom de um restaurante do Centro, me disse que foi posto de férias sem nada receber. Está em casa sem ter o que fazer, sem grana e sem expectativa alguma. Está tentando pescar para comer mesmo. Ontem, o mar não ajudou.
Temo pelas capivaras, mas também temos por pessoas assim.
Junto com a fome virá a depressão. Serão dias de muitas dificuldades.
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