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Diário do Fim do Mundo #17 – Por Sandro Peixoto (anestesia)

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Sandro alheio ao fim do mundo na praça Santos Dumont, vazia até de moradores de rua/ Quem tirou a foto é um mistério

Tenho diversos problemas psicólogos.  E quem me conhece bem sabe. São distúrbios que podem afetar qualquer um. Lido com os meus naturalmente. Dentre eles, tenho ataraxia, que segundo a filosofia pode ser descrito como a completa ausência de perturbações ou inquietações da mente. Seria também o ideal da filosofia helênica que busca  a tranquilade e a felicidade através do domínio ou da extinção de paixões, desejos e inclinações sensórias. Para mim é pura e simples insensibilidade mesmo.

Traduzindo: não possuo ou expresso emoções frente à qualquer situação. Não que não as sinta. Só não consigo demostrar. Se ganhasse na loteria ou sofresse (e sobrevivesse) um desastre aéreo reagiria do mesmo jeito. Sou mais de emotivar com realizações e sofrimentos alheios.


O que acontece comigo passa batido. Tenho a mesma reação ao comer um pão com manteiga em casa (não como margarina nem a pau) ou um prato divino no Restaurante Cigalon- meu preferido em Búzios. Claro que sei diferenciar os sabores, mas ambos são iguais em emoção para mim.


Enchi linguiça até agora para relatar um assunto que  para um estóico como eu não teria razão de existir. Sei de toda à  grandeza destrutiva desse vírus.  Sei que os próximos dias serão trágicos para o Brasil. Sei que possivelmente  perderei amigos. Outros passarão por fome. Sei que o mundo nunca mais será o mesmo e ainda assim continuo como que alheio a essa realidade que me sufoca.


Confesso que sempre fui assim e que dificilmente  mudarei e no entanto, também percebo que esse é um momento novo, diferente, avassalador. Tempo de mudar mas  que não mudarei. Queria sentir uma volúpia de sentimentos. Dor, raiva, indignação, temor mas nada me acontece.


As vezes me vejo flutuando, assistindo  de cima todo esse desenrolar. Sei que sou ator dessa tragedia moderna, porém, me vejo longe da trama. Um expectador  privilegiado como se não fosse comigo. Alheio a tudo que passa ao redor e essa não-sensação está me incomodando.


Diz a regra que ninguém sente saudades daquilo que nunca teve. Verdade: o que sinto não é  saudade e sim uma vontade de me sentir doído, integrado, quase uma  vítima mesmo. Parte dessa insensibilidade resulta, lógico, de minha total apatia filosófica e  fisiológica, e também por tudo que passa ao meu redor. 


Estou “meio” de quarentena pois todos os dias tenho que abrir minha loja. Mas como não tenho quase nenhum  cliente durante o dia, fico apenas com 10% da loja aberta e não me aproximo das pessoas sinto que se não estou totalmente recluso, ao menos não estou aglomerado. Já a maioria das pessoas que chegam até mim parecem alheias a tudo. Pouco comentam sobre a tragédia que paira sobre a humanidade (e quando fazem usam informações do Facebook  e para tanto faço ouvidos moucos) ou desdenham do vírus em um gole e outro de cerveja ou um trago de cigarro. Parece que nada está  acontecendo. 

Tirando a falta de emprego, de grana e de transeuntes nas ruas, nada parece ter mudado. Fico eu insensível de um lado e do outro pessoas que não têm a mínima ideia do que está acontecendo e que poderá acontecer com eu e elas. Acho que vou pegar o coronavírus.  Não  é  que não me importe. Acredito apenas que se tiver de ser será. Se tiver que morrer  morrerei. Todos morrem um dia.

https://prensadebabel.com.br/index.php/2020/04/12/diario-do-fim-do-mundo-16-por-sandro-peixoto-nosostros/

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